Sexta-feira, 28 de Dezembro de 2007

Crise

Facto 1: As várias previsões para a economia portuguesa indicam uma taxa de crescimento maior em 2008 do que em 2007 (a diferença é contudo pequena).
Facto 2: As previsões do FMI para a economia global indicam uma taxa de crescimento menor em 2008 do que em 2007.

Título do DN de hoje do Rudolfo Rebêlo: "Recuperação mundial passa ao lado de Portugal".

Pois...

É verdade que o nosso crescimento vai ser menor do que a média mundial, mas obviamente que "recuperação" se adequa mais ao facto 1 do que ao facto 2.
 
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publicado por Miguel Carvalho às 13:53
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Dantes não havia oferta e procura

Pedro Ferreira Esteves diz hoje no DN que "é uma característica do novo milénio: nunca como nos últimos anos a vida dos consumidores foi tão afectada pelo que se passa nos mercados financeiros". Bom, ainda poderia contra-argumentar com 1929 que parece ter sido uma crise e pêras, que começou exactamente com um crash bolsista, mas vamos partir do princípio que a dita economia real está agora mais dependente da dita economia financeira (embora isto seja algo difícil de medir, concordo em geral com a ideia, mas a minha opinião não é para aqui chamada).
É aqui que Pedro Esteves começa com trocas e baldrocas. Logo a seguir escreve "O petróleo renova máximos, os custos energéticos sobem. A procura por bens agrícolas aumenta, e os preços dos alimentos dispara". Ora petróleo e bens agrícolas não são produtos financeiros, são produtos reais, daqueles que se pode tocar. E desde que existe comércio que o aumento de matérias primas leva a aumento de preços no produto final, não houve alteração nenhuma.
A seguir diz "as taxas Euribor reagem em alta aos problemas no mercado de crédito e as prestações para pagar a casa aumentam". Vá lá, isto já são produtos financeiros, contudo isto são tudo sinónimos. As taxas Euribor são taxas do mercados de crédito, e as prestações da casa são créditos. É como dizer que os graus centígrados e a temperatura reagem ao calor.
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publicado por Miguel Carvalho às 13:25
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Soares, o visionário

Pedro Correia afirma hoje no DN que "Soares rejeita referendo que defendeu em 1992". Logo a seguir "Mário Soares defende hoje que o Tratado de Lisboa deve ser ratificado pela Assembleia da República" e mais à frente "Há 15 anos, quando era Presidente da República, Soares foi um acérrimo defensor do referendo europeu".
Das duas umas, ou Mário Soares há 15 anos já sabia que em 2007 seria assinado um Tratado reformador da UE em Lisboa ou Pedro Correia dá mais uma prova da habitual falta de rigor jornalístico metendo tudo o que é referendo com a palavra "Europa" lá pelo meio no mesmo saco.
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publicado por Miguel Carvalho às 13:10
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Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2007

Concorrência do Público

Anunciada na primeira página e ocupando uma página inteira no interior, o Público diz fazer uma análise a pente-fino das declarações do primeiro-ministro no Natal. Fico obviamente e sinceramente contente por este ataque de espírito de rigor que passou pelo Rua Viriato e espero que ele não seja passageiro.
O mais impressionante é que apesar de ocupar uma página inteira, o Público só descobre um único erro, e mesmo esse é de um preciosismo tal que nem aqui no blogue dedicado aos preciosismos teria tido destaque. Sócrates diz que em 2007 houve mais 17% de estudantes no ensino superior, quando o que aconteceu na realidade foi que o número de novos estudantes no ensino superior teve um aumento de 17%.
O resto da notícia supostamente factual, imparcial e objectiva é dedicada a contrariar o cenário cor-de-rosa dos números de Sócrates, em tom de crónica de opinião, isto é subjectiva e parcial. As afirmações não são contrariados e desmontados como aqui se faz e como deve ser feito por um jornalismo de rigor, mas recebe comentários subjectivos laterais. Por exemplo ao valor anunciado do emprego líquido criado, ele não é posto em causa, é apenas apontado que uma enorme parte desta criação se deve a contratos temporários. E assim se faz jornalismo de "rigor"...
Vamos ver se este rigor se mantém e é aplicado às notícias dadas pelo jornal.
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publicado por Miguel Carvalho às 16:57
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Uma sugestão não é uma lei

Os jornalistas tem um especial prazer sensacionalista em transformar sugestões de comissões técnicas ao governo em lei prontas a ser a aplicar. Recentemente e a propósito da apresentação do Livro Branco do código laboral tivemos títulos como "despedir será mais fácil" no DN e "Patrões têm que provar que os recibos verdes são verdadeiros" no JN, entre outros.
Escusado será dizer que estes relatórios são depois eventualmente debatidos, alterados e votados no governo, debatidos, alterados e votados no parlamento na especialidade, debatidos, alterados e votados no parlamento na especialidade, analisados e aprovados/vetados pelo Presidente da República e muito provavelmente (dada a natureza do tema) analisados pelo Tribunal Constitucional,... porque para estes jornalistas rigorosos o que interessa é chocar.
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publicado por Miguel Carvalho às 01:33
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Terça-feira, 25 de Dezembro de 2007

É a crise

No primeiro caderno do Expresso do último Sábado: "Natal: crise não afecta consumo". Estes senhores nem se preocupam em definir o que entendem por "crise". Há crise e acabou. E se há crise deveria haver menos consumo. Só que, mistério dos mistérios, há crise mas não há diminuição do consumo. Muito confuso, não acham? Não me parece. Se o PIB real aumentou no último ano, porque razão não haveria o consumo de aumentar também!? Para as jornalistas do Expresso, isto deve ser difícil de entender. É a crise...

Mas a parte mais gira do artigo é a das perguntas a Luís Belo, suposto especialista na matéria. Perguntam as jornalistas porque razão as famílias portuguesas gastam apenas mais 1.4% do que em 2006 enquanto a média europeia cresceu 3%. Resposta de Luís Belo: "O desejo de gastar é limitado pelo reduzido poder de compra, para o qual contribuem factores como aumento do preço dos combustíveis, dos produtos alimentares e a subida das taxas de juro...". Reparem bem: as compras de natal cresceram em Portugal menos do que na União Europeia porque em Portugal aumentou o preço dos combustíveis (então e nos restantes países da União?), dos produtos alimentares (então e nos restantes países da União?), e do dinheiro (então e nos restantes países da União?). Enfim.

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publicado por Pedro Bom às 19:06
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Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2007

Se mete percentagens dá disparate IV

No título: "Vagas para médico de família vão aumentar 5%, diz o ministro". No subtítulo: "...aumentarão dos actuais 25 para 30 por cento". Depois de ter visto José Sócrates dizer disparate semelhante, este não me espantaria. No entanto, acabei de ver a peça do Jornal da Tarde da RTP sobre o mesmo assunto e não ouvi do Ministro da Saúde a afirmação que lhe é atribuída no título. O disparate parece ser mesmo do(a) jornalista do Diário Digital.
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publicado por Pedro Bom às 13:20
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Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2007

Jornalismo de merda

Desculpem, mas não aguentei o palavrão.
Quase todos os meios de comunicação repetiram a mentira que nem uns carneirinhos, sem se darem ao trabalho de verificar a informação. TVI, Correio da Manhã, SIC, Record e TSF, pelo que pude ver no Google News.
Mas o meu maior escárnio vai para a imprensa dita económica, que deveria saber o mínimo dos mínimos: Agência Financeira, Portugal Diário, Jornal de Negócios, Diário Económico. Todos repetem a mesma mentira.
Uma vergonha de jornalismo.

Os meus enormes parabéns à LUSA, ao DN e ao Público (versão papel) por terem escrito a verdade.

Adenda: Não só mentem em relação a estes dados, como muitos (como o CM) referem que o PIB per capita "voltou a descer". Outra mentira! De 2004 para 2005 também subiu.

Adenda: O prémio do meio de comunicação mais imaginativo vai para a Agência Financeira. Os números do relatório em causa são todos em percentagem da média da UE. Ou seja, toma-se o valor médio do PIB per capita em PPP naquele ano como o valor de referência 100, e os outros são dados em comparação com o 100. Portugal, por exemplo, tem 75. Apesar de os valores se referir a esse valor fixo 100, aparentemente a Agência Financeira ainda consegue inventar aí uma tendência (deve ser do 100 para o 100) e escreve no título "Poder de compra dos portugueses cai e contraria tendência europeia".
(Admito que se possam estar a referer a outra tendência, porque não são claros, e não explicitam essa afirmação no texto).
 
Adenda: acabei de rever a peça da RTP. Além de vários pequenos erros, parece confundir os valores da percentagem face à média europeia com a sua variação (refere alguns países que estão agora melhor, citando para tal de seguida os seus valores... mas os valores não indicam variação). E mais uma vez se comprova que os jornalistas se seguem uns aos outros que nem uns carneirinhos: a reportagem volta a referir (como o DD) que os cálculos "deixaram a inflação de fora". Como já escrevi, é o nível de preços que é contornado, e não a inflação. Além disso, por definição, os valores do PIB dados pelo Eurostat são dados em paridades de poder de compra, não é novidade nenhuma!


(Post com várias alterações)
publicado por Miguel Carvalho às 20:57
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Sensacionalismo à la RTP

Sobre a notícia que já referi aqui, a RTP comete exactamente o mesmo erro, mas dum jeito bem mais sensacionalista e deturpando os números em causa.

"O poder de compra em Portugal voltou a descer", diz José Rodrigues dos Santos.
"Viver é cada vez mais difícil" diz Leonor Elias.
"É cada vez mais difícil satisfazer as necessidades" repete Leonor Elias.
(transcrições não literais)


A RTP acrescenta outra mentira. O facto de o PIB per capita ter descido relativamente à média europeia, não significa de modo nenhum que o seu valor absoluto caia. Aliás, como sabemos até subiu este ano e o ano passado.

Para que Leonor Elias perceba, aqui fica um exemplo.
76% de 100€ em 2005 dá 76€
75% de 105€ em 2006 dá 78,75€
E agora o passo difícil, 78,75 é maior que 76.
publicado por Miguel Carvalho às 20:09
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PIB não é Poder de Compra

Sob o título, "Poder de compra mantém-se 25% abaixo da média da UE" uma notícia do Diário Digital confunde PIB per capita com poder de compra. O produto interno bruto per capita mede a quantidade de valor produzida dentro de um país por cada habitante em média. O poder de compra dos cidadãos não existe como grandeza económica e de qualquer modo o PIB per capita não é certamente o melhor indicador desse poder por duas razões fundamentais. Primeiro não contabiliza os fluxos financeiros entre países como lucros, remessas de imigrantes, subsídios externos, etc... ou seja se eu tiver um táxi na Suíça, um tio na França que me manda dinheiro ou se receber um subsídio da UE, tenho mais dinheiro do que o que produzi. Segundo não contabiliza as transferências de e para o Estado, como impostos e subsídios. Por pagar IRS, IVA, etc... não posso de maneira nenhuma gastar tudo o recebi de salário/lucro, mas por outro lado posso receber subsídios do Estado que aumentam o meu poder de compra. Só faria sentido associar PIB per capita e poder de compra se estes "detalhes" fossem iguais em todos os países, o que obviamente não acontece.
Eu suponho que o jornalista tenha confundido os dois porque viu a expressão Paridade de Poder de Compra (PPP) algures, e concluiu que se estava a falar de poder de compra. Digo isto porque a certa altura menciona a PPP "de acordo com o critério PPS [sic] (sigla inglesa para Paridade do Poder de Compra), um conceito que exclui o efeito da inflação/país". Ora nem isto está correcto. A PPP toma em conta o nível de preços entre dois países. Se eu ganhar 10 e um espanhol 15, mas eu poder comprar 10 maçãs e ele também, então ele ganha exactamente o mesmo que eu! A inflação é apenas a variação anual do índice de preços, indicando apenas a variação de quanto valem os meus 10 e os 15 dele, e não o seu valor propriamente dito.
publicado por Miguel Carvalho às 11:37
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