A capa do DN diz hoje em letras gordas "chefe de gabinete de vice-presidente também recebeu casa da câmara". A afirmação é (quase) verdadeira... com um pequeno detalhe: esta atribuição ocorreu há 18 anos! Associar a actual função da pessoa a um evento que ocorreu há 18 anos apenas serve para induzir os leitores em erro.
Bem sei que a notícia explica os pormenores, mas o que a grande maioria retém é o que o título da capa insinua.
Do leitor J.N.
A propósito de uma entrevista do SOL à Helena Roseta, onde ela fez questão de sublinhar que tinha feito um acordo entre ela, como vereadora, e o presidente da Câmara sobre questões da habitação no concelho, a capa do SOL diz que "Helena Costa (...) concluiu um acordo com o PS", ou seja com o partido (ligando até implicitamente o acordo ao apoio de HR a Manuel Alegre nas presidenciais...).
Sempre que há uma queda nas estatísticas do crime, e há alguém que se felicita por tal facto, há sempre um chico-esperto que vem criticar tal felicitação, acusando-a de ser ingénua por os dados estatísticos oficiais não incluírem todos os crimes realmente cometidos.
Acho que ninguém nega o facto de haver muito mais crimes do aqueles que aparecem no dados, porque existe muita criminalidade que não é declarada à polícia. Mas esta falha afecta apenas o nível da criminalidade (se é 8 ou 80) e não a variação (se subiu ou desceu). A não existir nenhuma razão para que o nível de não-participação tenha variado de um ano para outro (e nunca vi ninguém a afirmar que isto acontece), a variação dos dados oficiais dão uma credível indicação da variação os valores reais. O chico-esperto é que é ingénuo.
Hoje no Expresso online Valentina Marcelino faz isto mesmo a propósito de incorrecta contabilização dos mortos nas estradas (apenas são contabilizados os que morrem no local do crime, deixando de fora os mortos no hospital). A propósito da congratulação por parte do MAI sobre a redução do número de mortos, a Valentina escreve "o Governo sabe que as vítimas mortais de acidentes rodoviários são muito mais [Nível] do que os números divulgados. Mesmo assim, o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, e o presidente da ANSR, Rui Marques, estiveram lado a lado esta semana a anunciar resultados de sucesso em matéria de sinistralidade. Menos 44 mortos até 15 de Setembro que em igual período de 2007 [Variação]. Valores longe de serem os reais."
Ou existe alguma razão paranormal para ter havido mais mortos nos hospitais do que no ano passado (o que Valentina não refere), ou então esta redução de 44 indicia mesmo uma redução real do número total de mortos.
Adenda: pelo que percebo do resto notícia, houve até (por coincidência) um aumento do número de mortes nos hospitais. Mas não era claramente isto que levou a jornalista a escrever o parágrafo acima.
A ideia não é nova. Políticos como Paulo Portas exploraram-na já até à exaustão. O João Silvestre dá-lhe expressão jornalística no Caderno de Economia do Expresso desta semana. Escreve no subtítulo que "Desde 2007, a subida do preço dos combustíveis rendeu aos cofres públicos quase €40 milhões em IVA", o que eu não duvido. E escreve também, logo no primeiro parágrafo do texto, que "o Estado português foi um dos beneficiados pela escalada no preço do petróleo (...)". Isto é que eu já duvido. E só deixo de duvidar quando o João Silvestre fizer as continhas todas até ao fim e me vier mostrar quanto é que o Estado deixou de receber de IVA por compras de outros bens e serviços que os portugueses deixaram de fazer por terem de canalizar mais dinheiro para a gasolina. Até lá, estas contas valem zero.
Em letras garrafais na primeira página do Correio da Manhã de hoje - "Mais crimes e menos presos" -, assim como no resumo online, sugere-se pela n-ésima vez uma causalidade que, muito provavelmente, é inexistente: "ao longo dos últimos 12 meses a diminuição da população prisional foi muito superior: menos 2038 presos, a maior queda de sempre acompanhada por uma onda de criminalidade sem precedentes".
Lá porque dois fenómenos são contemporâneos, não quer dizer que um cause o outro. Mas já estou mesmo a ver os comentários: "então, eles deixam-nos sair em vez de os meterem lá dentro". Enquanto isso o Correio da Manhã vende.
No decorrer deste post e a pedido do próprio Rui Peres Jorge, a sua resposta por email:
Num debate com Miguel Frasquilho e Francisco Madelino, os jornalistas João Silvestre e Nicolau Santos perguntam ao primeiro se "está de acordo com esta ideia de que a economia está a criar emprego mesmo com crescimentos abaixo de 2%?" Como se fosse uma ideia e não um facto (e, não, não estou a dizer que a criação do emprego é maravilhosa e muito menos que o governo está de parabéns), e como se fosse possível discordar (sem aldrabar). Claro, a resposta de Miguel Frasquilho só podia começar por ser: "Que está a criar emprego está. Não há dúvidas."
Mas logo a seguir sai-se com esta: "Mas isso acaba por ser muito más noticias. Porque significa que o nosso produto potencial - o PIB que corresponde ao pleno emprego - está neste momento bastante abaixo destes 2%." Desculpe? O facto de haver criação de emprego com crescimento abaixo de 2% implica o quê para o PIB potencial? Não é que o crescimento do PIB potencial não esteja mesmo abaixo de 2%, mas onde é que o Miguel Frasquilho foi desencantar esta implicação? Mas, pronto, dessa forma conseguiu ao menos puxar a coisa para o produto potencial e cascar um pouco mais no governo. O disparate por vezes compensa.
[Ah, e já agora, o que se mede em percentagem não é o PIB potencial, como diz o Miguel Frasquilho, mas a sua taxa de crescimento.]
"Preços das casas começam a cair", diz o Expresso. Vasculhei o artigo à procura da uma base de suporte desta afirmação e não encontrei uma única! Alguém ajuda? Nem dados, nem referência a fontes onde os possamos encontrar, não encontrei nada. Fala-se de especulações, de sobreavaliações, que está difícil vender, que se fazem grandes descontos, de isto e daquilo, mas justificar aquela afirmação... nada. Não havia mais nada para pôr no título?
Rui Peres Jorge, no Jornal de Negócios de hoje, comete a(s) seguinte(s) afronta(s):
1. Não indica uma única fonte para sustentar o que escreve. Ora, face à gravidade do que sugere, não lhe passa pela cabeça revelar ao menos onde foi buscar tal "furo"?
2. No título escreve 30%, mas inicia o texto com 27%. Em termos proporcionais pode parecer uma diferença negligenciável, mas o que conta é a que dizem respeito aquelas proporções. Isto é, milhares de empregos.
3. Segundo dados do INE, disponíveis numa questão de segundos a qualquer cidadão através da Internet, aos quais Rui Peres Jorge não faz qualquer menção (nem a quaisquer outros), foram criados 133 700 empregos desde o 1º trimestre de 2005 ao 2º trimestre de 2008. Assim, os tais 27% dos 130 000 empregos que refere o jornalista, representam 26,25% do total de empregos efectivamente criados, cada vez mais longe do que é anunciado no título.
4. Não sou a pessoa mais qualificada para analisar se é possível que os dados oficiais contabilizem o emprego da forma que sugere o jornalista (talvez portugueses que se mantenham como residentes em Portugal, mas que efectivamente não o sejam?), mas parece-me que isto não passa de um grave disparate.
Nota (a posteriori): Como, infelizmente, não tenho acesso à notícia que foi publicada no jornal em formato papel, na qual, supostamente, se explica melhor a questão, resta-me pedir desculpa, pelo menos em parte, ao jornalista Rui Peres Jorge. Em parte, porque considero absurdo que nos dias de hoje, em que a Internet funciona como o meio exclusivo de acesso à informação para tantas pessoas (veja-se o decréscimo nas vendas de jornais impressos), um jornal não tenha cuidado com as notícias que publica online. Sendo que parte dessa responsabilidade deva, na minha opinião, caber ao jornalista que assina a notícia. É que quem quer que dê de caras com aquela notícia no site do Jornal de Negócios não pode senão ficar perplexo e muito preocupado. Foi o que me aconteceu.
Eleições EUA: portugueses preferem McCain, mas Europa é de Obama, diz o Público a propósito desta notícia da LUSA. Quando se lê o texto, percebe-se que Portugal é o país europeu (entre os analisados) onde McCain tem um apoio maior... mas isto não torna McCain no candidato favorito dos portugueses!
Dando uma olhada no relatório, concluímos que há 35% de Portugueses com opinião favorável sobre McCain e 75% sobre Obama... E corrijam-se estiver enganado, 75% é mais do que 35%.
O facto dos 35% ser o valor mais alto na Europa, não os torna maiores que os 75%... acho eu.
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