Portugal está mais competitivo mas com menos resistência para enfrentar a crise diz o Público. Luísa Pinto insiste no primeiro parágrafo: Portugal aumentou a competitividade da sua economia, mas está com muito menor capacidade para resistir às adversidades da conjuntura económica. E acrescenta Pode parecer um contra-senso (...).
1. Lendo o título eu diria que Portugal subiu na competitividade e desceu na resistência. Mas afinal o tal ranking das resistência só foi criado este ano. Como é que se pode descer se ainda agora começou o campeonato?
2. O título e a frase estarão portanto a comparar uma variação com um nível. Como comparar a distância até Setúbal com a velocidade do cacilheiro.
3. Terceira tentativa: compara-se a posição num e noutro ranking. Mas os dois índices são criados pela mesma organização, logo, à partida medem coisas completamente diferentes, tal como diz o primeiro parágrafo da fonte da notícia! Contra-senso seria se as posições fossem iguais para todos os países, porque seria o mesmo ranking.
Número de desempregados inscritos nos centros de emprego disparou 27,3 por cento em Abril diz o Público.
Não é que os números do desemprego estejam bons, mas 27% num mês seria impressionante. Afinal, em Abril disparou 1,5% segundo a mesma notícia. Ao longo de 12 meses aumentou sim 27%.
A comparação com o mês homólogo está correctíssima, comparar com o Março não faria muito sentido, especialmente neste caso porque os números do desemprego normalmente até melhoram de Março para Abril (o que não aconteceu). O problema é escrever-se "disparou (...) em Abril", induzindo os leitores em erro.
Em tempos havia uns livros de BD em que uns simpáticos estrumpfes trocavam metade das palavras que diziam, por palavras derivadas da palavra "estrumpfe".
Alguns jornalistas portugueses têm um problema semelhante com o "abrandar", tudo abranda. Alguns por distracção, outros por desconhecimentos básicos de português (eu já aqui pus a definição da palavra do dicionário), outros por desconhecimentos básicos de matemática, e ainda há aqueles que aproveitam o interpretação vaga da palavra a seu belo prazer.
Abrandar significa andar mais devagar, crescer mais lentamente, desacelerar, diminuir a velocidade. (Repito já agora, estatisticamente é de esperar que qualquer variável "abrande" à volta de metade das ocasiões). Mas o "abrandar" é por vezes usado para dar a entender que algo diminui quando isso não é verdade. Ou quando a aceleração diminui, o que também não é um abrandamento.
Hoje o Expresso ultrapassa todas as deturpações do "abrandar". Numa situação em que o PIB português recua, e recua mais depressa do que tinha recuado, a capa fala de um "abrandamento da economia". Um belo eufemismo.
Caro estrumpfes, tenho que ir estrumpfar o abrandamento.
Lucro do BCP sobe 625% no primeiro trimestre repetia a TSF hoje à tarde. Acrescentado "e isto apesar da crise". A mensagem sensacionalista que queria passar é óbvia, agora se é verdadeira é que eu não faço a mínima ideia nem a TSF me ajuda a perceber.
1. O café do Zé passou de 100€ de lucros para 1000€. O banco XPTO aumenta de 10 milhões para 15 milhões. O Zé teve um aumento de 900%, e o banco apenas apenas de 50%. A percentagem pouco indica
2. O café do Zé ontem esteve vazio, receitas menos despesas nem passou dos 10€. Hoje já estava composto e deu 100€. Um aumento de 900%!! Mas o Zé não tem razões para estar contente.. Ontem foi mau e hoje foi bom, mas o que interessa é ao fim do mês. Comparar 3 meses do ano passado com 3 meses deste, pouco indica por ser ambos serem um período curto (um pequeno azar num e uma pequena sorte noutro, fazem explodir a percentagem).
A imensidão de interpretações que um termo económico como "queda da exportações" pode ter, é o paraíso para um jornalista sensacionalista. São várias escolhas possíveis: mensal, trimestral ou anual. Homólogo, período anterior ou média. Nível ou variação. Real, nominal, percentagem do PIB, percentagem do média comunitária, etc. É só fazer a combinação certa entre elas e há sempre uma notícia má para dar.
Tenho pena de não haver mais exemplos disto no blogue, mas infelizmente não há sempre uma "escolha certa". Não havendo, a crítica deixa de ser objectiva.
Hoje no Público, esta imensidão de escolhas virou-se contra o jornalista (que não estava de modo nenhum a ser sensacionalista).
As exportações portuguesas cairam [sic] 31,4 por cento em Fevereiro e face ao mesmo mês de 2008. As compras ao estrangeiro recuaram a um ritmo mais elevado (34,1 por cento) o que fez com que a taxa de cobertura das importações pelas exportações fosse, no final do trimestre terminado em Fevereiro, fosse de 75,4 por cento, muito acima dos 58,4 por cento apurados no entre Dezembro de 2007 e Fevereiro de 2009.
1. Mesmo que Dez07 fosse igual a Dez08, e Jan08 fosse igual a Jan09, o facto de as exportações em Fev09 terem crescido mais ou menos do que as importações nada implica sobre a variação da taxa de cobertura. Quando temos uma fracção (taxa cobertura) com várias parcelas em cima e em baixo, e aumentamos uma delas em cima (exportações fev09) e uma delas em baixo (importações fev09) do mesmo modo, o resultado não será o mesmo.
2. Os valores da primeira frase nada têm a ver com os da segunda frase. São de linhas dfierentes da mesma tabela, logo items diferentes. A taxa de cobertura passou sim de 63% para 61,6%. Piorou na realidade ao contrário do que o jornalista nos quer fazer querer! (Serve também como exemplo do que queria mostrar no ponto 1.)
A quebra de Fevereiro, nas exportações, segundo o Instituto Nacional de Estatística, segue-se a um recuo homólogo de 28,9 por cento em Janeiro e foi muito influenciada pelos combustíveis e lubrificantes, cujas vendas cairam 51,4 por cento, e pela maquinaria (-24 por cento).
Quanto às importações, o peso essencial relaciona-se com os combustíveis e o material de transporte (-37,3 por cento), muito associado à crise da indústria automóvel.
3. Não percebo porque pega na maquinaria (que até desceu menos que a média!) nem no material de transporte. No primeiro caso há outra categoria que desce mais em % e em valor. No segundo, o "peso essencial" viria de outra categoria cuja variação em valor é maior, logo maior peso na taxa de cobertura e na variação homóloga.
Por outras palavras, se as exportações de amendoim caíssem 99% isso não daria ao amendoim um "peso essencial".
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