Uma vez por mês, o Banco de Portugal (BP) revela informação "qualitativa" sobre o andamento da economia, que sintetiza no que chama "indicadores coincidentes". Uma vez por mês, pelo menos um órgão de comunicação social escreve disparates sobre essa informação. Felizmente, é só uma vez por mês, porque doutra forma não havia pente-fino que resistisse. Vejamos:
Capa do DN: "Consumo das famílias é o mais baixo desde 2003". No interior: "Consumo ao nível mais baixo em 5 anos". E, logo de seguida, para deixar claro que não se trata de meras simplificações de título: "O consumo das famílias caiu em Abril, pelo nono mês consecutivo, atingindo o valor mais baixo em cinco anos, (...) de acordo com os indicadores ontem divulgados pelo Banco de Portugal." Vou aos Indicadores da Conjuntura do BP, publicados ontem, e confirmo: o indicador coincidente do consumo privado (e não "consumo privado", porque para este ainda não há dados) em Abril passado é, de facto, não só negativo mas também o mais baixo desde 2003. E confirmo também o seguinte: lamentavelmente, o jornalista do DN que escreveu este artigo não faz a mínima ideia do que isto significa.
Como já escrevi aqui e aqui, o indicador vem na forma de taxa de variação homóloga. Ter registado o nível mais baixo desde 2003 significa que o crescimento (e não o nível!) do consumo privado foi o mais baixo desde 2003 (aliás, dado que foi negativo, o nível de consumo terá mesmo sido em Abril de 2008 menor do que em Abril de 2007). Só que, desde 2003 até o mês passado, o indicador coincidente foi sempre positivo (com uma provável excepção algures em 2005), pelo que o consumo privado esteve (quase) sempre a crescer.
Para ficar bem claro que o DN não sabe do que fala, temos ainda no parágrafo seguinte: "(...) a actividade económica abrandou, registando o pior valor dos últimos dois anos (Abril 2006)". Mais uma vez, o mesmo disparate, mas agora em relação à actividade económica. No entanto, com a notável agravante de o indicador coincidente da actividade económica ter sido sempre positivo desde 2006! Ou seja, segundo o indicador coincidente do BP, a actividade económica tem melhorado continuamente desde 2006, o que faz de Abril último o... melhor mês desde 2006. Dirão vocês que pode ser o caso do DN não saber a diferença entre "pior" e "melhor". Pois, é verdade, mas eu cá prefiro acreditar que não sabem antes interpretar os dados do BP...
Não perca a continuação deste episódio dentro de um mês.
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