Quinta-feira, 5 de Junho de 2008

As contradições do Rudolfo

A frequência com que Rudolfo Rebêlo, jornalista do DN, repete, semana após semana, os mesmos disparates nos seus artigos (supostamente) económicos começa a ser muito preocupante. O festival de hoje começa com as contradições do costume:

 

1. Primeiro lê-se: "Economia portuguesa deverá crescer 1,6% em 2008, com as famílias a reduzirem o consumo de bens". Depois lê-se: " Este ano, o consumo cresce apenas 1,4%". Em que ficamos, caro Rudolfo? Eu sei que ficamos na segunda, porque entretanto fui ver ao relatório, mas será suposto cada um dos leitores ir ao relatório da OCDE tirar as dúvidas que tu próprio crias?

 

2. Primeiro lê-se: "Portugal vai empobrecer ainda mais". Depois lê-se: "a economia portuguesa cresce 1,6% este ano". Então Rudolfo, "empobrecer"? Estamos 1.6% mais ricos e tu falas em empobrecimento. Sem dúvida, 1.6 pode ser pouco, nada, quase nada, razão para protestos em São Bento, para eleições antecipadas, para golpe de Estado, para fugirmos para o Brasil, para nos entregarmos à bebida, etc. Agora, "empobrecer" é... estúpido.

 

Depois ainda há mais alguns:

 

3. "O desemprego afectará quase 8% dos portugueses, o que ajuda a explicar uma travagem nas despesas com as compras". Primeiro, afectará 8% dos "portugueses"?  A minha tia Conceição, 82 primaveras, também conta? E o meu primo Francisco, que acabou de entrar para a primária, também? Segundo, não, não ajuda a explicar coisa nenhuma. Apesar de alto, muito alto, está a descer. Devagarinho, muito devagarinho, mas está a descer (8% em 2007 e 7.9% em 2008, segundo a OCDE). Se me dissesses "desemprego alto explica consumo baixo", ainda aceitava. Agora, "desemprego alto explica desaceleração do consumo" já não pega. E, claro, "desemprego a cair (ainda que umas migalhitas) explica desaceleração do consumo", esta nem a minha tia Conceição engolia.

 

4. "Portugal consome mais do que produz". Isto é obviamente falso. O que é superior à produção é a despesa total, incluindo investimento. O que torna a balança fortemente deficitária e obriga a endividamento externo, pois claro.

publicado por Pedro Bom às 22:18
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De luis arouca a 16 de Junho de 2008 às 20:29
Caro Pedro Bom, atenção ao que escreve... o homem tem razão. Pois se no ano passado o consumo cresceu 1,5% e agora cresce 1,4% é porque os portugueses reduziram no crescimento do consumo! Ou seja, cortaram ou desaceleraram no consumo, isto porque é suposto, pelo menos, manter o mesmo nível de crescimento do passado...
Quanto ao empobrecer, também tem razão. Se outros países crescem mais que Portugal então o país fica mais pobre. Se o Alentejo crescer menos que Lisboa, então os lisboetas ficam mais ricos que os alentejanos. Por isso Portugal pode vir a ser o Alentejo da Europa... Quanto ao desemprego não se perceebe muito bem a critica, mas o desemprego só afecta os empregados, não os reformados ou os meninos de bibe, o Pedro Bom. E também é verdade que uma economia que perdura no alto desemprego tende a consumir menos.
De Pedro Bom a 16 de Junho de 2008 às 21:17
Caro Luis ,

Mesmo correndo o risco de ser, de facto, uma piada e estar aqui a gastar o meu tempo, aqui vai:

1. Se pensar um bocadinho, perceberá que "cortar no crescimento do consumo" e "cortar no consumo" não são a mesma coisa. Se é verdade que o "crescimento do consumo desceu", já não é verdade que o "nível de consumo" desceu. Se estas palavrinhas conjuntamente com 1 minuto de reflexão da sua parte não chegarem para perceber a ideia, eu prometo que lhe arranjo um exemplo numérico mais simples.

2. Quanto ao empobrecer, o Luis pode por as palavras que quiser na boca do Rudolfo , mas já é tarde para emendar o erro. O Rudolfo não está a comparar a situação de Portugal com outro país. Está apenas a comparar Portugal consigo mesmo. E comparado consigo mesmo, Portugal não está mais pobre.

3. Sobre o desemprego, não fico admirado por não ter percebido, já que não percebeu a história do consumo. Depois de ter perdido o minuto que lhe pedi a reflectir sobre o ponto 1, volte a tentar. Pode ser que já consiga. Senão, prometo que lhe arranjo outro exemplo numérico.
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