Segunda-feira, 7 de Abril de 2008
Mais um exemplo de peças na televisão, onde o jornalista não se deu ao trabalho de preparar o assunto sobre o qual fala, neste caso o acordo ortográfico na RTP.
Enquanto o jornalista dizia que "os portugueses se tinham que habituar às novas grafias" mostravam-se na imagem as palavras "polémico/polêmico" e "cómico/cômico"... que são exemplo de grafias que se vão MANTER!! (Ou seja com versões diferentes para acomodar a fonética portuguesa e a brasileira).
Domingo, 16 de Março de 2008
O inevitável José Rodrigues dos Santos diz-nos no Telejornal de sexta-feira: "Os preços em Portugal mantiveram-se inalterados em Fevereiro, (...) a taxa de inflação homóloga manteve-se nos 2.9%". Alguém explica ao nosso José, e já agora aos demais jornalistas da RTP, que uma taxa de inflação positiva, mesmo que inalterada, implica sempre uma subida de preços? Pronto, explico eu. José, a taxa de inflação mede a variação percentual do nível de preços. Portanto, se o nível preços for 1 em dois anos consecutivos, então a taxa de inflação é zero. Se no segundo ano o nível de preços tiver descido para 0.9, então dizemos que a taxa de inflação foi de -10%. E se tiver subido para 1.1, então podemos dizer que a taxa de inflação foi de 10%. Eu sei que é difícil, mas agora podemos pensar ao contrário; se a taxa de inflação foi positiva, então o nível de preços teve obrigatoriamente de ter subido. Percebeste? Pronto, agora estuda bem isto antes de apresentares o próximo Telejornal.
O Telejornal de sexta-feira abre com a discrepância dos números da greve da função pública. Segundo José Rodrigues dos Santos, enquanto os sindicatos apontavam uma adesão na ordem dos 70%, o Governo estimava uns meros 5%. Mais à frente na peça, suficientemente à frente para os telespectadores se terem esquecido deste número, e após a entrevista ao Secretário de Estado da Administração Pública, ficamos a saber que o Governo afinal estimava uma adesão de 8,5%. Os 5% deverão ter vindo da diferença para 100% dos 95% de serviços públicos que, segundo o Governo, estiveram encerrados devido à greve. Cheguei a pensar que a RTP não soubesse a diferença entre adesão à greve e serviços encerrados, mas o repórter deixou bem claro na sua última intervenção que a adesão estimada pelo Governo rondava os 8,5%. Restam duas hipóteses: ou a RTP não sabe que 5 e 8,5 são números diferentes, ou sabe mas considera que a diferença é suficientemente pequena para os telespectadores não darem por ela e suficientemente grande para compensar em termos de impacto mediático. Pessoalmente, não descarto de todo a primeira, mas inclino-me mais para a segunda.
Domingo, 24 de Fevereiro de 2008
Há jornalistas que adoram inventar factos e de os estampar nos títulos, a partir de fontes totalmente absurdas e inseguras.
Recordo-me com uma grande risota de um jornal a meio da longa discussão sobre o túnel do Marquês em Lisboa, ter estampado na capa "Túnel considerado dos mais seguros da Europa". Quando se vasculhava lá dentro sobre a fonte de tal afirmação, descobria-se que tinha sido Santana Lopes, esse engenheiro de estruturas viárias de renome internacional, a afirmar que o túnel era dos mais seguros da Europa... sem nenhuma outra fonte.
Também ridículo foi um título numa capa há uns tempos que afirmava que as casas num dado local tinham se desvalorizado 50% devido à presença de cabos de alta tensão. O número era repetido então num título de uma página interior, e perdido no meio do texto vinha a rigorosa e fidedigna fonte de tão precisa estimativa: um morador local.
Hoje na RTP houve uma peça onde se dizia que as crianças que vivem nos circos trocam de escola 80 vezes por ano. Lá no meio da reportagem percebia-se qual era a fonte: uma menina que vivia num circo. Não é preciso ser um génio para perceber que a menina se estava a enganar. Seria necessário mudar de escola de 3 em 3 ou 4 em 4 dias, para tal ser possível... nem daria tempo para montar o circo!
O que está em causa não é se é 8 ou 80, mas a constante falta do mínimo de espírito crítico de quem supostamente é profissional de "informação".
Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2008
A taxa de natalidade é o número de nascimentos por cada mil habitantes num dado ano, e é por isso apresentado em permilagem (número de uma certa coisa por cada mil de outra). Uma taxa de 10 por mil, significa que em cada mil portugueses, houve 10 nascimentos. A permilagem até tem um símbolo próprio que é:
‰
Não se deve portanto confundir com percentagem, que tem um símbolo semelhante:
%
Uma taxa de 10 porcento, significaria 10 nascimentos por cada 100 habitantes, ou seja aproximadamente 10 por cada 50 mulheres, ou ainda que em cada 5 mulheres uma teve um filho. (Já agora 10 porcento equivale a 100 por mil, tal como 10 por mil equivale a 1 porcento). Esta taxa claramente não faz sentido (pense nas mulheres que conhece e nas que tiveram um filho), mas foi isto que foi repetidamente dito hoje de manhã na RTP. Era dito que a taxa de natalidade tinha baixado de x porcento para 10 porcento.
Por último, para os leitores que aqui vêm para para tirar dúvidas e para os jornalistas da RTP, como calcular uma permilagem:
A=número de nascimentos
B=população
Taxa de natalidade (em permilagem): 1000*A/B
Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008
O FED decidiu baixar a taxa de juro em "meio por cento", insiste o José Rodrigues dos Santos no Telejornal. Agradecíamos todos, eu que me começo a fartar de escrever posts sobre o assunto e vocês que mais fartos estarão de os ler, que alguém mais próximo fizesse o favor de dizer ao homem como é que isto deve ser dito. Senão, passamos a vida nisto...
Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2008
A RTP acaba de passar uma reportagem sobre a queda das taxas de juro da Euribor (juro para os empréstimos entre bancos), que têm vindo a descer há algumas semanas. Logo a seguir a uma pequena referência às vantagens que isto traz a quem têm empréstimo indexados, é dito que isto não é obrigatoriamente uma boa notícia. É passada então uma citação de João César das Neves onde é dito, e bem, que a queda das taxas de juros não é bom sinal porque significa que a economia está a abrandar e os bancos centrais estão a querer puxar pela economia.
A questão é que uma coisa não tem nada a ver com a outra, estamos a falar de taxas diferentes! João César das Neves referia-se certamente ao valor de referência (para a taxa de juro) dos bancos centrais que é ajustado de x em x meses, e que não é alterado há longos meses na Zona Euro. Embora as taxas da Euribor dependam fortemente deste valor de referência, a variação em causa (últimas semanas) não está assim relacionada com intervenções do BCE.
Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2007
Sobre a notícia que já referi
aqui, a RTP comete exactamente o mesmo erro, mas dum jeito bem mais sensacionalista e deturpando os números em causa.
"O poder de compra em Portugal voltou a descer", diz José Rodrigues dos Santos."
Viver é cada vez mais difícil" diz Leonor Elias.
"
É cada vez mais difícil satisfazer as necessidades" repete Leonor Elias.
(transcrições não literais)A RTP acrescenta outra mentira. O facto de o PIB per capita ter descido
relativamente à média europeia, não significa de modo nenhum que o seu valor absoluto caia. Aliás, como sabemos até subiu este ano e o ano passado.
Para que Leonor Elias perceba, aqui fica um exemplo.
76% de 100€ em 2005 dá 76€
75% de 105€ em 2006 dá 78,75€
E agora o passo difícil, 78,75 é
maior que 76.
Segunda-feira, 26 de Novembro de 2007
No Telejornal da RTP acabou de passar a tradicional peça das compras de Natal, em que se repete os mesmo lugares comuns de sempre. "Este ano tem que ser a cortar", "como o país está, tem que se gastar menos", "este ano vou gastar menos do que no passado", blá blá... A jornalista reforçava "cortar, cortar, cortar".
Não, não vou argumentar com estatísticas.
Basta lembrar que há décadas que todos os anos se ouve a mesma reportagem por esta altura, com os mesmos lamentos. Ou somos hoje mais pobre do que em 1900, ou isto é mais um caso de "bota-abaixismo" tão lusitano.
Segunda-feira, 19 de Novembro de 2007
"Os pais portugueses são os menos brincalhões da Europa". Assim fecha José Rodrigues dos Santos a primeira parte do Telejornal de ontem. Com uma notícia destas, quem ousa mudar de canal. Fico para a segunda parte. Segundo um determinado estudo, parece que só 6% dos petizes é que não têm o azar de não terem pais com quem brincar. Lá pelo meio da peça, perdida entre as opiniões dos especialistas em psicologia infantil, lá se refere a composição da amostra. Pois, parece que só 9 países foram considerados no estudo. Era o que havia. Por favor, alguém explique a esta gente que só na zona Euro são 12, na restante União Europeia mais 15 e na restante Europa outros 20. Portanto, 12 mais 15 mais 20, noves fora, acho que dá... 47 países europeus. A RTP não perde tempo, e toca a brincar com os telespectadores.