Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009

Bola de cristal do Público

Sobre o número de desempregados sem direito a subsídio de desemprego (por terem um curto período de descontos) o Público tem esta brilhante análise de João Ramos de Almeida:

 

Esta realidade dá, por outro lado, indícios da estrutura do mercado de trabalho. Tem direito a subsídio de desemprego quem tenha feito 450 dias de descontos nos últimos dois anos anteriores ao desemprego. Já para receber o subsídio social de desemprego é obrigatório ter feito mais de 180 dias de descontos.

Se o desemprego começou a afectar cada vez mais trabalhadores sem direito a subsídio de desemprego ou mesmo a subsídio social é porque parte considerável do mercado de trabalho não possui esses períodos de descontos. Seja porque se torna cada vez mais difícil encontrar empregos com prazos prolongados de desconto e os contratos a prazo não permitem aceder ao subsídio; ou porque formalmente não têm qualquer tipo de contrato, como é o caso dos "falsos recibos verdes".

 

Ponham-se na cabeça de um patrão que tem que despedir gente durante um mau período. Despedem quem tem contrato sem termo ou quem tem contrato a prazo/recibos verdes? Obviamente a segunda categoria, porque é mais fácil despedir. Logo num momento de crise é de esperar que este tipo de trabalhadores (os que depois podem não receber subsídio) sejam mais despedidos que os outros. Logo haverá mais deles à procura de desemprego.

Por isso, para ter este resultado não é minimamente necessário haver muita gente com ligações precárias ao contrário do que o jornalista nos quer fazer crer. Em vez de verificar os dados o João Ramos de Almeida tira umas conclusões ao estilo conversa de café.

E agora toca de mandar umas postas de pescada sobre a conclusão infundada. Se há muita gente com contratos precários, é porque é difícil encontrar dos outros. Conclusão paralela, mas igualmente errada pelas mesmas razões de cima.

E mais outra! Outra hipótese de haver gente sem subsídio é devido aos falsos recibos verdes. E os verdadeiros recibos verdes? Como é que o João Ramos de Almeida sabe se os que procuram emprego vêm de uns ou de outros?

 

Como sempre eu também não verifiquei os dados, é até possível que as três afirmações (sem encadeamento lógico) estão correctas. Mas não há ali nada que as legitime.

publicado por Miguel Carvalho às 11:58
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Sexta-feira, 31 de Julho de 2009

P implica Q não é a mesma coisa que não-P implica não-Q

Duas mulheres tentaram casar-se e isto foi-lhes negado. Depois de vários processos em tribunal, foi pedido que o Tribunal Constitucional declarasse a inconstitucionalidade da definição de casamento no código civil (que exige sexos diferentes). Este pedido em concreto foi rejeitado. Por outras palavras o TC disse que a exclusividade heterossexual do casamento é constitucional.

Todos os Lisboetas são Portugueses, mas isso não implica que quem não seja Lisboeta não possa ser Português! Os Portuenses também o são. E os habitantes de Olivença? Não sabemos, porque ninguém perguntou isso ao TC.

Ou seja, o casamento homossexual também pode ser constitucional. Nunca foi isso que esteve em causa.

 

O CM diz TC chumba casamento gay, o Público diz Tribunal Constitucional diz não ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Diário Económico diz Tribunal Constitucional chumba casamento entre homossexuais, etc. Tudo disparates.

 

publicado por Miguel Carvalho às 15:16
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Sexta-feira, 24 de Julho de 2009

Quando passar de 1000 para 1001 é um aumento de 28%

Sabe o que significa Número de desempregados cresceu 28 por cento em Junho lá para os lados do Público? Pensava eu que "em Julho" quereria dizer "no mês de Julho", "ao longo de Julho", "durante Julho", que ingenuidade.

É que segundo os dados do IEFP (a suposta fonte da notícia) o aumento ao do número de desempregados ao longo de Julho foi de 0,1%. Mas de 0,1% para 28% ainda vai uma grande diferença... acho eu.

publicado por Miguel Carvalho às 02:49
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Segunda-feira, 13 de Julho de 2009

Estamos em último, se descontarmos os que estão para trás

Portugal tem a sexta taxa de desemprego mais elevada da OCDE diz o Público. O facto de faltarem estatísticas de 8 países, e de a França ter o mesmo valor que Portugal, não parece sensibilizar o Público.

Por outro palavras este título está tão perto da realidade como estaria o seguinte "Portugal tem a 15ª taxa de desemprego mais elevada da OCDE".

publicado por Miguel Carvalho às 15:04
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Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

Não parece, é mesmo um contra-senso... só que é na cabeça de quem o imaginou

Portugal está mais competitivo mas com menos resistência para enfrentar a crise diz o Público. Luísa Pinto insiste no primeiro parágrafo: Portugal aumentou a competitividade da sua economia, mas está com muito menor capacidade para resistir às adversidades da conjuntura económica. E acrescenta Pode parecer um contra-senso (...).
 

1. Lendo o título eu diria que Portugal subiu na competitividade e desceu na resistência. Mas afinal o tal ranking das resistência só foi criado este ano. Como é que se pode descer se ainda agora começou o campeonato?

2. O título e a frase estarão portanto a comparar uma variação com um nível. Como comparar a distância até Setúbal com a velocidade do cacilheiro.

3. Terceira tentativa: compara-se a posição num e noutro ranking. Mas os dois índices são criados pela mesma organização, logo, à partida medem coisas completamente diferentes, tal como diz o primeiro parágrafo da fonte da notícia! Contra-senso seria se as posições fossem iguais para todos os países, porque seria o mesmo ranking.

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publicado por Miguel Carvalho às 17:50
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O disparo que durou um ano

Número de desempregados inscritos nos centros de emprego disparou 27,3 por cento em Abril diz o Público.

Não é que os números do desemprego estejam bons, mas 27% num mês seria impressionante. Afinal, em Abril disparou 1,5% segundo a mesma notícia. Ao longo de 12 meses aumentou sim 27%.

A comparação com o mês homólogo está correctíssima, comparar com o Março não faria muito sentido, especialmente neste caso porque os números do desemprego normalmente até melhoram de Março para Abril (o que não aconteceu). O problema é escrever-se "disparou (...) em Abril", induzindo os leitores em erro.

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publicado por Miguel Carvalho às 10:14
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Sexta-feira, 8 de Maio de 2009

O feitiço virou-se contra o feiticeiro

A imensidão de interpretações que um termo económico como "queda da exportações" pode ter, é o paraíso para um jornalista sensacionalista. São várias escolhas possíveis: mensal, trimestral ou anual. Homólogo, período anterior ou média. Nível ou variação. Real, nominal, percentagem do PIB, percentagem do média comunitária, etc. É só fazer a combinação certa entre elas e há sempre uma notícia má para dar.

Tenho pena de não haver mais exemplos disto no blogue, mas infelizmente não há sempre uma "escolha certa". Não havendo, a crítica deixa de ser objectiva.

  

Hoje no Público, esta imensidão de escolhas virou-se contra o jornalista (que não estava de modo nenhum a ser sensacionalista).

 

As exportações portuguesas cairam [sic] 31,4 por cento em Fevereiro e face ao mesmo mês de 2008. As compras ao estrangeiro recuaram a um ritmo mais elevado (34,1 por cento) o que fez com que a taxa de cobertura das importações pelas exportações fosse, no final do trimestre terminado em Fevereiro, fosse de 75,4 por cento, muito acima dos 58,4 por cento apurados no entre Dezembro de 2007 e Fevereiro de 2009.

 

1.  Mesmo que Dez07 fosse igual a Dez08, e Jan08 fosse igual a Jan09, o facto de as exportações em Fev09 terem crescido mais ou menos do que as importações nada implica sobre a variação da taxa de cobertura. Quando temos uma fracção (taxa cobertura) com várias parcelas em cima e em baixo, e aumentamos uma delas em cima (exportações fev09) e uma delas em baixo (importações fev09) do mesmo modo, o resultado não será o mesmo.

 

2. Os valores da primeira frase nada têm a ver com os da segunda frase. São de linhas dfierentes da mesma tabela, logo items diferentes. A taxa de cobertura passou sim de 63% para 61,6%. Piorou na realidade ao contrário do que o jornalista nos quer fazer querer!  (Serve também como exemplo do que queria mostrar no ponto 1.)

 

A quebra de Fevereiro, nas exportações, segundo o Instituto Nacional de Estatística, segue-se a um recuo homólogo de 28,9 por cento em Janeiro e foi muito influenciada pelos combustíveis e lubrificantes, cujas vendas cairam 51,4 por cento, e pela maquinaria (-24 por cento).
Quanto às importações, o peso essencial relaciona-se com os combustíveis e o material de transporte (-37,3 por cento), muito associado à crise da indústria automóvel.

3. Não percebo porque pega na maquinaria (que até desceu menos que a média!) nem no material de transporte. No primeiro caso há outra categoria que desce mais em % e em valor. No segundo, o "peso essencial" viria de outra categoria cuja variação em valor é maior, logo maior peso na taxa de cobertura e na variação homóloga.

Por outras palavras, se as exportações de amendoim caíssem 99% isso não daria ao amendoim um "peso essencial".

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publicado por Miguel Carvalho às 12:59
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Terça-feira, 21 de Abril de 2009

Aldrabices, daquelas que já nem ligamos

Parágrafo principal de uma notícia no Público de Sábado: Os indicadores da instituição mostram que o consumo privado caiu (...).

No texto: O indicador coincidente relativo à evolução homóloga do consumo privado (..) mantendo-se, no entanto, ainda em terreno positivo.

publicado por Miguel Carvalho às 01:52
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Sexta-feira, 10 de Abril de 2009

Resposta antiga do Público II

Aqui fica a mais que tardia resposta, a uma réplica de Sérgio Aníbal proporcionada pelo Provedor do Público depois de um contacto meu semelhante a este post.
Como agradecimento ao tempo perdido com a resposta, e por ser um assunto recorrente mas de difícil explicação, dei-me ao trabalho de adaptar um ficheiro com um exemplo antigo a esta questão em concreto. O ficheiro está aqui em formato standard internacional ISO, e aqui em formato .xls para quem usa software com incompatibilidade.

> O leitor tem toda a razão. Na 1ª pág. nunca deveria ter sido escrito que as conclusões surgem num relatório do INE, é falso. No meu texto isso nunca é afirmado, os cálculos são meus, utilizando dados do INE.

Uma nota ao provedor: já se tornou um hábito nas respostas aqui presentes dos jornalistas, haver um reconhecimento de um erro na capa e nos títulos. O facto de o corpo do texto estar correcto não me parece que deva ser dado como atenuante do primeiro erro. Como sabemos a maioria absolutíssima retem as manchetes e não as frases perdidas no texto.

Repito os dois erros técnicos no artigo:

A. Mistura de fontes diferentes
Isto é metodologicamente errado. Se eu quero saber quanto custa fazer uma salada de feijão com cogumelos, devo somar o preço do feijão e dos cogumelos. Imagine-se que eu sei exactamente quanto custa o feijão no Porto (imagine-se que mais barato do que em Lisboa), e exactamente quanto custam os cogumelos em Lisboa (mais barato do que no Porto). Eu não devo somar os dois porque obteria um preço muito baixo mas irreal porque ninguém compra dessas duas fontes. Devo é somar dados maus (mas não-enviesados) dos cogumelos e bons do feijão no Porto (e dizer que fiz as contas para o Porto), ou o mesmo para Lisboa.

B. Agregação: aqui não um erro metodológico em si, mas os resultados obtidos são de tão fraca qualidade que não os deveremos levar a sério, muito menos fazer manchetes de jornais.
O rácio entre despesas em feijão/despesas em cogumelos Shitake é diferente para consumidores pobres e consumidores ricos. Quando não sabemos estes detalhes, sabendo apenas as despesas dos pobres e dos ricos em alimentação no geral, e estamos perante uma variação de preços diferentes no feijão e nos cogumelos, é muito complicado dizer qual foi realmente a variação de preços para uns e outros.
Mesmo sem quaisquer erros de medição, mesmo sem a mistura de fontes, mesmo assumindo quantidades fixas por consumidor, por categoria e por subcategoria (3 hipóteses!), estas taxas de inflação para cada tipo de consumidor calculadas pelo método de S.A. (a vermelho) são muito diferentes das reais (a azul).

>>Antes de mais um fenómeno paranormal nos resultados de Sérgio Aníbal, que lhe deveria ter saltado à vista. TODAS as classes de rendimento sofreram, segundo ele, inflações iguais ou acima da inflação! Ou seja teremos a média (feita sobre os rendimentos) acima da média. Algo com a média de 10, 9, 8, 7, 6 e 5 ser... 5! O que já mostra que as suas contas estão certamente erradas.

>Não há qualquer fenómeno paranormal. Como é explicado no texto, o cálculo da inflação por classes de rendimento que é feito utiliza os pesos na despesa familiar obtidos no inquérito aos orçamentos das famílias 2005/2006. O INE utiliza ainda os pesos obtidos no inquérito de 2000. Por isso, como penso que é referido no texto, e como escrevi num anterior artigo meu, o valor da inflação global usando os orçamentos 2005/2006 é superior à taxa de inflação oficial declarada pelo INE.

1. Claro que há um fenómeno paranormal. A média das médias tem que ser (quase) igual à média absoluta. No ficheiro o número a verde e o a roxo têm que ser (quase) iguais.

2. Sérgio Aníbal diz que não... porque mistura valores de fontes diferentes, neste caso pesos de despesas de 2000 e variações de preços de 2005/06. Na variação do preço da alimentação calculada pelo INE, está incluida a quantidade que o pobre comprava de feijão em 2000. No peso da alimentação no consumo, está incluida a quantidade de feijão que o pobre comprava em 2005/06. Quando S.A. multiplica um pelo outro, está a misturar a mesma variável retirada de fontes diferentes.
Como disse em A., quando usamos um método errado é óbvio que os resultados são errados, e logo não obedecem a propriedades gerais que os resultados correctos obedecem. O que eu escrevi foi, o não cumprimento dessa propriedade indicia que o método era errado, seja pela razão A ou pela B. S.A. diz que não era de esperar esse cumprimento, porque foi usado um método errado. Estamos de acordo. Só não percebo porque não parou aqui, e escreveu o artigo todo.

3. Taxa de inflação superior
Aqui o problema em usar fontes diferentes para a mesma coisa fica muito claro. S.A. diz que a inflação do INE está errada porque usa dados de 2000. Mas para provar a sua tese, ele usa as variações de preços calculados pelo INE, onde esses mesmos dados de 2000 são usados! Isto apenas prova que há inconsistência nos dados (mas isto é óbvio e incontornável), não prova que lado está certo.
Se alguém hoje diz hoje X e amanhã Y, eu sei que ele mentiu. Agora não posso dizer "X é errado, porque ele disse Y", porque poderia fazer exactamente o contrário.
No ficheiro dou dois exemplos simulando os cálculos do artigo. Um onde X estava mais perto da verdade, e outro onde Y estava mais perto. Comparar os valores a castanho e cinzento com o verde (verdadeiro).

>>Apesar de ter que reconhecer que Sérgio Aníbal se deu ao trabalho de fazer algo que provavelmente poucos fariam, não se pode tirar as conclusões que ele tira. Mais uma vez e bem, ele próprio reconhece isso dizendo: "A análise feita pelo PÚBLICO não leva em conta esse nível de desagregação da despesa familiar..." Mas logo a seguir
estraga tudo mostrando bem o seu facciosismo, quando diz: "Ainda poderia acentuar as disparidades do impacto da inflação sobre os diferentes tipos de famílias". Dou-lhe razão, mas não há razão nenhuma para acreditar que seja para cima ou para baixo. Por que será que não escreveu o oposto, que poderia diminuir e até inverter as disparidades do impacto da inflação? Não dava jeito. Como exemplo posso indicar os legumes, que desceram 15%, o que mostra o quão difícil é tirar o tipo de conclusões que o Sérgio quer tirar, com os poucos dados disponíveis que existem.

>Eu estou convicto (foi por isso que escrevi e não por facciosismo, como diz o leitor mostrando como assume que qualquer jornalista está, por princípio, sempre pronto a ldrabar) que, mesmo desagregando, as famílias mais pobres poderiam sair mais prejudicadas. O leitor dá o exemplo dos legumes, mas a verdade é que as maiores subidas (pão, arroz, leite, ovos, massas) são tudo bens a que com toda a probabilidade as famílias mais pobres dão uma maior importância no seu orçamento. De qualquer forma, compreendo a crítica, deveria estar mais claro que é apenas uma convicção do jornalista. Esta questão tem, no entanto, pouca importância na conclusão principal do texto.

4. Facciosismo
O S.A. tem razão para se sentir ofendido, porque facciosismo não é uma acusação simpática. Mas eu concretizei e fundamentei a minha acusação. Agora, a partir de um ÚNICO exemplo relacionado com um ÚNICO jornalista S.A. acusa-me de ASSUMIR (note-se que eu fundamentei a minha crítica) que TODOS os jornalistas estão SEMPRE prontos aladrabar. Três generalizações de uma vez só. Quanto a ofensas gratuitas estamos conversados.


5. Quanto à convicção de S.A. não me devo sequer pronunciar, porque cada um tem a sua. Nunca quis comentar a opinião de ninguém, apenas comento conclusões que acho erradas. Eu próprio não faço a mínima ideia se a coisa subiria ou não.
Quanto à minha crítica anterior, onde dizia que os cálculos feitos no artigo não permitem a conclusão de que os pobres sofrem taxas de inflação mais altas, dou no ficheiro um exemplo (vermelho) onde o cálculo do Público concluiria isso, mas a realidade seria a oposta.

>> Outro aspecto que mostra o quão forçadas são as suas conclusões é o facto de ele chegar ao valor de 3,1% de inflação para as famílias ricas e 3,6% para as pobres. A diferença é ridiculamente baixa e insignificante dados os problemas de agregação. Mais, esta pequeníssima diferença que foi medida em Março (0.5 pp) pode pura e
simplesmente inverter-se em Abril, já que a inflação dentro de cada classe de produtos é altamente volátil (com variações de mais de 1 pp de mês para mês em termos anuais).

> Não considero a diferença ridiculamente baixa e insignificante.

6. Fico na dúvida se me expliquei bem.
Eu não quis dizer que os 0,5% são insignificantes, se assumirmos que são verdadeiros. A questão é, mesmo contando apenas com o problema B, isto é descontando todos os outros erros, estes 0,5% não são minimamente fidedignos. Veja-se a grande diferença entre os valores a vermelho (com erro B) e a azul (reais)! A minha crítica principal passa exactamente por aqui. A manchete do Público é baseada nos primeiros mas a realidade são os segundos.

7. E repito, a isto somam-se os outros erros, e o facto de terem sido apenas usados dados de um mês. No mês seguinte, as conclusões seriam provavelmente outras, ao contrário do que dá a entender a manchete do Público.

> O objectivo principal do texto foi o de comparar qual a inflação registada para uma distribuição da despesa de uma família de baixo rendimento e de outra de elevado rendimento. Os números mostram que ela é maior para os mais pobres, precisamente porque estas famílias gastam proporcionalmente mais em alimentação e habitação, classes em que os preços têm subido mais. Há sempre limitações neste tipo de cálculos, mas penso que as conclusões são correctas e não contêm qualquer tipo de sensacionalismo, que nunca foi o objectivo do texto quando decidimos realizá-lo.

8. Quanto aos "números mostram" já disse tudo o que tinha a dizer.

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publicado por Miguel Carvalho às 22:47
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Quinta-feira, 19 de Março de 2009

Resposta antiga do Público

Por desleixo meu não cheguei a responder a uma réplica antiga do Sérgio Aníbal do Público a um post meu, onde o acusava de inventar uma contradição. Acrescente-se que a réplica aconteceu por intermédio do provedor do Público, a quem se deve aliás a maioria das reposta que este blog já recebeu.

 

O tema já é antigo, mas vale a pena ler a minha resposta:

 

1. Alega o leitor que é isso que está em causa (ou seja, o que se passará neste ano e no próximo) e que para esse período o FMI não aponta outros factores na evolução da situação nacional.
Não é uma alegação, é uma constatação de um facto. O Público diz  "A crise internacional não é a principal causa para o ritmo de crescimento lento que Portugal irá continuar a apresentar neste ano e no próximo, ao contrário do que tem vindo a ser defendido pelo Governo. A garantia é dada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)".
Volto pois a citar a frase do FMI: "Growth will likely slow in 2008 to about 1¼ percent, and to about 1 percent in 2009, driven by weaker partner country growth, the international financial turbulence, and higher commodity prices."
Repare, ambos os textos referem os próximos dois anos. O do Público diz que a causa não é a crise internacional, o FMI refere três causas, todas internacionais. Contradição mais explícita não poderia haver.

2. Conclui por isso o jornalista, solicitado pelo provedor a esclarecer o assunto: “Assim, o FMI considera que, apesar de haver problemas conjunturais (externos) a afectar Portugal, são os problemas estruturais (internos) que mais estão a limitar o crescimento da economia. O Governo, por seu lado, tem salientado no seu discurso que os problemas estruturais (internos) estão a ser resolvidos pelas políticas postas em prática e que são os problemas conjunturais (externos) o principal entrave ao crescimento da economia. ‘Estamos agora melhor preparados para enfrentar a crise’, tem sido a frase mais utilizada pelos membros do Governo. Foi aqui, quando escrevi o artigo, que encontrei a contradição.
Estamos de acordo. São problemas internos que estão a limitar o crescimento. Também estamos de acordo que o governo tem dito que os problemas "estão a ser resolvidos". Há alguma contradição entre "estar a ser melhorado" e "estar mau", como afirma agora Sérgio Aníbal? Concorda com a afirmação "a economia angolana está mal, mas está a ser melhorada"? Se concorda, perceberá que não ali contradição nenhuma.

3. E, ao citar aquela frase do relatório, referi igualmente a existência de problemas conjunturais externos, ao contrário do que diz o leitor.
Não admito que me chamem mentiroso! Desafio-lhe a mostrar onde é que eu o acusei de não referir problemas externos.

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publicado por Miguel Carvalho às 23:40
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