A imensidão de interpretações que um termo económico como "queda da exportações" pode ter, é o paraíso para um jornalista sensacionalista. São várias escolhas possíveis: mensal, trimestral ou anual. Homólogo, período anterior ou média. Nível ou variação. Real, nominal, percentagem do PIB, percentagem do média comunitária, etc. É só fazer a combinação certa entre elas e há sempre uma notícia má para dar.
Tenho pena de não haver mais exemplos disto no blogue, mas infelizmente não há sempre uma "escolha certa". Não havendo, a crítica deixa de ser objectiva.
Hoje no Público, esta imensidão de escolhas virou-se contra o jornalista (que não estava de modo nenhum a ser sensacionalista).
As exportações portuguesas cairam [sic] 31,4 por cento em Fevereiro e face ao mesmo mês de 2008. As compras ao estrangeiro recuaram a um ritmo mais elevado (34,1 por cento) o que fez com que a taxa de cobertura das importações pelas exportações fosse, no final do trimestre terminado em Fevereiro, fosse de 75,4 por cento, muito acima dos 58,4 por cento apurados no entre Dezembro de 2007 e Fevereiro de 2009.
1. Mesmo que Dez07 fosse igual a Dez08, e Jan08 fosse igual a Jan09, o facto de as exportações em Fev09 terem crescido mais ou menos do que as importações nada implica sobre a variação da taxa de cobertura. Quando temos uma fracção (taxa cobertura) com várias parcelas em cima e em baixo, e aumentamos uma delas em cima (exportações fev09) e uma delas em baixo (importações fev09) do mesmo modo, o resultado não será o mesmo.
2. Os valores da primeira frase nada têm a ver com os da segunda frase. São de linhas dfierentes da mesma tabela, logo items diferentes. A taxa de cobertura passou sim de 63% para 61,6%. Piorou na realidade ao contrário do que o jornalista nos quer fazer querer! (Serve também como exemplo do que queria mostrar no ponto 1.)
A quebra de Fevereiro, nas exportações, segundo o Instituto Nacional de Estatística, segue-se a um recuo homólogo de 28,9 por cento em Janeiro e foi muito influenciada pelos combustíveis e lubrificantes, cujas vendas cairam 51,4 por cento, e pela maquinaria (-24 por cento).
Quanto às importações, o peso essencial relaciona-se com os combustíveis e o material de transporte (-37,3 por cento), muito associado à crise da indústria automóvel.
3. Não percebo porque pega na maquinaria (que até desceu menos que a média!) nem no material de transporte. No primeiro caso há outra categoria que desce mais em % e em valor. No segundo, o "peso essencial" viria de outra categoria cuja variação em valor é maior, logo maior peso na taxa de cobertura e na variação homóloga.
Por outras palavras, se as exportações de amendoim caíssem 99% isso não daria ao amendoim um "peso essencial".
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