Sobre o número de desempregados sem direito a subsídio de desemprego (por terem um curto período de descontos) o Público tem esta brilhante análise de João Ramos de Almeida:
Esta realidade dá, por outro lado, indícios da estrutura do mercado de trabalho. Tem direito a subsídio de desemprego quem tenha feito 450 dias de descontos nos últimos dois anos anteriores ao desemprego. Já para receber o subsídio social de desemprego é obrigatório ter feito mais de 180 dias de descontos.
Se o desemprego começou a afectar cada vez mais trabalhadores sem direito a subsídio de desemprego ou mesmo a subsídio social é porque parte considerável do mercado de trabalho não possui esses períodos de descontos. Seja porque se torna cada vez mais difícil encontrar empregos com prazos prolongados de desconto e os contratos a prazo não permitem aceder ao subsídio; ou porque formalmente não têm qualquer tipo de contrato, como é o caso dos "falsos recibos verdes".
Ponham-se na cabeça de um patrão que tem que despedir gente durante um mau período. Despedem quem tem contrato sem termo ou quem tem contrato a prazo/recibos verdes? Obviamente a segunda categoria, porque é mais fácil despedir. Logo num momento de crise é de esperar que este tipo de trabalhadores (os que depois podem não receber subsídio) sejam mais despedidos que os outros. Logo haverá mais deles à procura de desemprego.
Por isso, para ter este resultado não é minimamente necessário haver muita gente com ligações precárias ao contrário do que o jornalista nos quer fazer crer. Em vez de verificar os dados o João Ramos de Almeida tira umas conclusões ao estilo conversa de café.
E agora toca de mandar umas postas de pescada sobre a conclusão infundada. Se há muita gente com contratos precários, é porque é difícil encontrar dos outros. Conclusão paralela, mas igualmente errada pelas mesmas razões de cima.
E mais outra! Outra hipótese de haver gente sem subsídio é devido aos falsos recibos verdes. E os verdadeiros recibos verdes? Como é que o João Ramos de Almeida sabe se os que procuram emprego vêm de uns ou de outros?
Como sempre eu também não verifiquei os dados, é até possível que as três afirmações (sem encadeamento lógico) estão correctas. Mas não há ali nada que as legitime.
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