Há um problema muito comum na discussão de números que é a enorme quantidade de maneiras em que eles podem ser apresentados. Mesmo quando falamos da mesma estatística, o título mostra que ela pode vir em sabores diferentes. O governo e a oposição são peritos em escolher a forma que mais lhes convém. Como exemplo, e dou este porque é particularmente irritante pela falta de honestidade intelectual, o PSD insiste (insistia ?) em falar da despesa pública em termos nominais e absolutos, quando só faz sentido falar nela em termos de % de PIB.
O disparate que me leva a escrever este post, já há muito tempo queria catar mas faltava-me uma fonte com o texto literal. Trata-se da afirmação do Governo e do PS que o aumento da parte das pensões que é colectável em sede de IRS sobe apenas 100€. Isto porque o imposto passa a ser contabilizado a partir dos 6000€/mês em vez dos 6100€. Diz Afonso Candal na Sábado de 31 de Outubro que "há 100€ que passam a ser sujeitos a tributação".
Ora há uma coisa chamada inflação, logo os 6100€ de 2007 não são 6100€ de 2008. Usando a inflação prevista pelo Governo (2,1%) temos uma alteração da base colectável de 6228€ para 6000€. Ou seja um aumento que é mais do dobro do que aquilo que o Governo defende.