Terça-feira, 20 de Novembro de 2007

A propósito do Control(o)

Achar que “num mundo perfeito” os Óscares seriam indicadores inequívocos e universais da qualidade de um filme é talvez utópico e potencialmente perigoso. Simplesmente porque para o “mundo perfeito” de muitos outros, nem haveria Óscares.
Os Óscares da Academia de Hollywood existem. E existem para premiar os filmes que a Academia entende como “bons”. Obviamente, o que é bom para uns não é bom para muitos e é até mesmo muito mau. Em particular, para muitos, o que a Academia acha “bom” é um anúncio que certifica o oposto: se é “bom”, é porque é “mau”.
 
Já investigado cientificamente, o que está em causa é saber se cada espectador adopta um comportamento de “Maria vai com as outras” ou se é “snob”. Embora qualifique aqui intencionalmente ambos os comportamentos pejorativamente, estes podem corresponder a estratégias óptimas para diferentes indivíduos face aos Óscares, não sem variações que podem depender do contexto específico em cada decisão (alternativas existentes, tempo, informação disponível).
 
Por exemplo, para muitos espectadores, o facto de a Academia qualificar um filme como bom, isto é, nomear um filme para e, possivelmente, premiá-lo com um Óscar nas categorias mais importantes, é uma garantia de qualidade que funciona como uma redução do risco de pagar por um bilhete de cinema e não gostar do filme, e, ao mesmo tempo, uma heurística de decisão que permite poupar nos custos de obtenção de informação e nos custos de tempo.
 
Isto acontece quando um indivíduo considera que as suas preferências estão alinhadas com as preferências da Academia, alinhamento este que provavelmente foi construído com base em experiências passadas “bem sucedidas”. Ou seja, não é só publicidade. Mas é claro que a questão se impõe: gostaria de um filme, da mesma forma, isto é, com a mesma intensidade, um indivíduo com preferências alinhadas com a Academia, tivesse o filme sido nomeado/premiado pela Academia ou não? Portanto, um problema de endogeneidade na decisão do indivíduo. E é esta uma questão importante? Sim, porquanto um indivíduo pode influenciar fortemente as decisões de outros indivíduos.
 
Mesmo para indivíduos cujas experiências passadas lhes tenham revelado um desfasamento entre as suas preferências e as preferências da Academia, os Óscares funcionam exactamente da mesma forma, mas com resultados opostos: certificam que é arriscado pagar por um bilhete de cinema para ver um filme que muito provavelmente não se irá gostar e permitem igualmente poupar nos custos de obtenção de informação e de tempo.
 
Agora, se um filme chega a ser nomeado/premiado para os Óscares porque tem sucesso comercial ou se um filme tem sucesso comercial porque foi nomeado/premiado para os Óscares, é uma questão de causalidade que poderia ser facilmente testável com recurso a dados das bilheteiras antes e depois dos Óscares.
 
Nota final: estas considerações são válidas para qualquer tipo de produtos/bens para os quais haja atribuição de prémios.
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publicado por Carlos Lourenço às 10:47
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1 comentário:
De Oscar Carvalho a 21 de Novembro de 2007 às 18:22
Caro Carlos,
Creio que estava implícito, mas reforço: Há toda uma graduação de influência: os muito inflenciados, os nada inflenciados, os negativamente, os indiferentes e por aí fora. Seria curioso fazer um estudo sobre qual a distribuição estatística que se obtinha.

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