Quando se faz contas de mercearia é na maioria dos casos um perfeito disparate falar na criação e destruição de desemprego separadamente. O facto de terem desaparecido um milhão de empregos não é necessariamente muito grave se forem criados outros tantos. Por isso se fala na criação
líquida de emprego, ou seja o total criado menos o total destruído. Depois há casos em que estamos interessados em pormenores da dinâmica do emprego, onde os valores brutos já são importantes.
Há dois dados sobre o emprego que têm dominado os últimos dias. A
criação líquida de empregos desde o início da legislatura que foi de 106 mil empregos, e alteração da composição do emprego em Portugal onde houve um
decréscimo líquido de 167 mil empregos mais qualificados (ler contudo o primeiro comentário deixado
aqui). O primeiro é uma boa notícia de curto-prazo, que contudo não impede que haja mais desemprego (basta haver uma maior oferta de mão-de-obra). A segunda é uma má notícia de longo-prazo, porque só poderemos crescer solidamente com mais emprego qualificado.
Ontem no Fórum TSF o líder da JSD (não registei o nome do rapaz) em nome do PSD mete os pés pela mãos e acaba por fazer uma grande trapalhada. Dizia ele que não serve de nada haver mais 106 mil novos empregos, porque se perdemos 167, o resultado é menos 61 mil, ou seja é mais desemprego. Depois liga a cassete sobre as más opções do governo em termos de criação de emprego.
Primeiro os números não são brutos mas líquidos, logo já indicam o deve e o haver. Há mais 106 mil pessoas a trabalhar, ponto final. Há menos 167 mil empregos de maiores qualificações, ponto final.
Segundo a sua subtracção não faz qualquer sentido. Ao menos a sua soma, 273 mil, tem uma interpretação; indica a criação líquida de empregos de menores qualificações.
Terceiro ataca o governo na única coisa boa em termos de emprego de que o governo se pode orgulhar, isto é a criação líquida de emprego.
Quarto ao deixar de fora a variação do tipo de emprego, deixa de fora o essencial tanto do ponto de vista da qualidade do emprego como da sustentabilidade do nosso crescimento económico.
ADENDA: Hoje, 21 de Novembro, Paulo Portas volta a repetir este disparate. Aos 106 chama empregos criado e aos 167 chama empregos destruidos.