Sábado, 10 de Novembro de 2007

A força dos números

Na sua coluna "A força dos números", no caderno de economia do Expresso de hoje, Daniel Amaral tenta convencer-nos da impossibilidade económica de aumentos reais (isto é, superiores à inflação, prevista em 2,1% para 2008) nos salários da função pública. Lá desejável até seria, mas... lamento muito, não é possível.

 

Eis o argumento: aumentos dos salários reais da função pública levam a aumentos dos custos unitários de trabalho, que levam à perda de competitividade das nossas empresas, que levam à deterioração da balança comercial, que implica endividamento externo. Como o  endividamento externo é um facto, os salários reais não podem aumentar.

 

Dois comentários:

1. Num exercício de ginástica notável, Daniel Amaral confunde salários da função pública com salários do sector privado, e termina a cadeia causal na balança de pagamentos. Medir a produtividade dos serviços não é fácil, e muito menos dos serviços produzidos pelo Estado. Daniel Amaral, como quem não quer a coisa, resolve o problema virando-se para o sector privado.

2. É possível aumentar os salários reais, sem aumento dos custos de trabalho unitários, desde que esses aumentos sejam inferiores ou iguais aos da produtividade. Daniel Amaral até parece perceber a ideia, quando diz que os "(...) acréscimos superiores à inflação mais a produtividade (3,4%) fariam subir os custos salariais unitários, o que seria péssimo". Mas depois conclui: "Moral da história: acréscimos salariais superiores à inflação podem ser socialmente justificáveis mas não são economicamente realistas". Então e a produtividade ? Pois, é que entre 2,1 e 3,4 ainda cabem muitos números. "Para cima de trinta e dois mil", dizia um antigo professor de estatística.

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publicado por Pedro Bom às 12:48
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Sexta-feira, 9 de Novembro de 2007

Aproveitem o intervalo e preparem as máquinas de calcular.... afinal não é preciso

Mesmo antes do intervalo do Telejornal de ontem, diz-nos José Alberto Carvalho: "e [a seguir ao intervalo] vamos ficar também a saber como ficam as taxas de juro depois da última decisão do Banco Central Europeu". É pá, até nem comprei casa recentemente, mas já agora também quero saber. Descem? Sobem? Se calhar até descem, pela forma despreocupada como o nosso José Alberto nos leu o teleponto. Ou, se calhar, até sobem, tivesse ele dito isso na primeira parte e às tantas ficava sem espectadores para a segunda. Mal posso esperar pelo a-seguir-ao-intervalo. Eis que chega o tão aguardado momento: "O Banco Central Europeu decidiu manter a taxa de juro nos 4%...". Oh.
publicado por Pedro Bom às 10:10
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Quinta-feira, 8 de Novembro de 2007

Telivizão Imdependente

Eu não tenho grande orgulho do meu português, mas nunca pensei ver ESCLUSIVO em letras garrafais no Telejornal da TVI.
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publicado por Miguel Carvalho às 20:55
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Vila piscatória de Anvers

Carla Alves Ribeiro escreve na Visão da semana passada uma pequena reportagem sobre a La Redoute. Diz a certa altura que a empresa recebe os materias pelo "porto de Anvers".
Bom, o porto de "Anvers" não é uma coisinha pequenina, parece que é o segundo maior da Europa, parece que teve um papel fundamental na História Europeia e mesmo na Portuguesa e até parece que há um nome em Português para o designar. Acho que é Antuérpia...
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publicado por Miguel Carvalho às 15:39
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Terça-feira, 6 de Novembro de 2007

O que fica: "Fátima e idosos universitários" ou "viagem acaba em tragédia"?

Em análises estritamente financeiras tenta-se calcular o valor da vida, o valor de diferentes vidas. E as vidas, em análises estritamente financeiras, têm valores diferentes.

Na primeira página de hoje o DN tenta, de uma forma muito retorcida e falhada, fazer esse exercício com o seguinte título em letras garrafais: “Viagem a Fátima de idosos universitários acaba em tragédia”. Tentativa falhada porque tenta produzir sentimentos primários de pena e compaixão como que para justificar que algumas vidas têm mais valor que outras. Qualquer coisa como: “se for verdade que ninguém merece morrer, uns merecem morrer ainda menos”.

O acidente na A23, no sentido Sul-Norte, deu-se com um ligeiro e um autocarro, cujos passageiros eram idosos que regressavam a casa. Ou seja, a viagem era já de regresso, e portanto não no sentido de Fátima. Mais que isso, a viagem, isto é, a viagem anterior, havia sido a Fátima, mas também, ao que parece, à Nazaré. Qual a intenção de enfatizar “Fátima”? O que se pretende fazer sub-repticiamente? Não é descarnado a que códigos de valores, a que referências da matriz sócio-cultural portuguesa se está aqui a apelar? E qual a intenção de referir idosos universitários? Era (ou é) essa a essência que caracterizava (ou caracteriza) aqueles idosos? E se fossem jovens universitários? E se fossem jovens empregados em consultoras? E se fossem idosos reformados que não tivessem decidido estudar?

O ponto é: a emoção não deve poluir o que é (deve ser) informação objectiva ou serviço público. Uma viagem acabou numa tragédia de dimensão relativamente invulgar. E, a haver razões para averiguar as causas do acidente, apurar responsabilidades e eventualmente prevenir futuros acidentes, essas são (devem ser) independentes do valor particular das vidas em causa. Somente porque ocorreu num espaço que é público e, assim sendo, as vidas valem (devem valer) todas o mesmo.
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publicado por Carlos Lourenço às 13:22
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Geografia de Portugal

O Público noticiava ontem na sua versão online que o terrível acidente que envolveu um autocarro e uma viatura ligeira tinha acontecido "no sentido Sul-Norte da Auto-estrada 23, junto à barragem de Fratel , no concelho de Vila Velha de Ródão". Na mesma notícia, um pouco mais à frente, lemos a seguinte informação, palavras de um oficial da BT de Castelo Branco: "o acidente ocorreu ao quilómetro 77,2 da auto-estrada que liga a Guarda a Torres Novas, junto ao nó de Fratel (que dá ligação ao IP2 para Portalegre)".

 

Um indignado Joaquim Oliveira questiona-se, nos comentários à notícia, se os jornalistas do Público saberão a que distância a barragem do Fratel fica do local do acidente. Como não sou conhecedor da zona, fui ver ao mapa. E, de facto, a informação dada pelo Público não podia ser mais contraditória. Vejamos: (1) A barragem do Fratel não está sequer situada no concelho de Vila Velha de Ródão, mas no concelho de Nisa. (2) A localidade Fratel sim, é uma freguesia do concelho de Vila Velha de Ródão, mas se a esta se referem, então que fique claro que dista da barragem do Fratel uns 20/30 Kms. (3) Se o acidente ocorreu junto ao nó que dá ligação ao IP2, então terá sido perto de uma localidade de nome Gardete, que dista uns 10 ou 15 Kms de Fratel e uns 10 da barragem de Fratel. (4) Este nó corresponde à saída 15 e não é, portanto, o de Fratel, que corresponde à saída 17, bem mais acima.

 

Onde se deu então o acidente? Eu não sei, mas se foi na A23 e junto ao nó do IP2 , então não foi nem em Fratel, bem mais acima, nem junto à barragem do Fratel, mais abaixo.

publicado por Pedro Bom às 09:39
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Segunda-feira, 5 de Novembro de 2007

Valor nominal ou real, per capita ou agregado, absoluto ou percentagem do PIB

Há um problema muito comum na discussão de números que é a enorme quantidade de maneiras em que eles podem ser apresentados. Mesmo quando falamos da mesma estatística, o título mostra que ela pode vir em sabores diferentes. O governo e a oposição são peritos em escolher a forma que mais lhes convém. Como exemplo, e dou este porque é particularmente irritante pela falta de honestidade intelectual, o PSD insiste (insistia ?) em falar da despesa pública em termos nominais e absolutos, quando só faz sentido falar nela em termos de % de PIB.
O disparate que me leva a escrever este post, já há muito tempo queria catar mas faltava-me uma fonte com o texto literal. Trata-se da afirmação do Governo e do PS que o aumento da parte das pensões que é colectável em sede de IRS sobe apenas 100€. Isto porque o imposto passa a ser contabilizado a partir dos 6000€/mês em vez dos 6100€. Diz Afonso Candal na Sábado de 31 de Outubro que "há 100€ que passam a ser sujeitos a tributação".
Ora há uma coisa chamada inflação, logo os 6100€ de 2007 não são 6100€ de 2008. Usando a inflação prevista pelo Governo (2,1%) temos uma alteração da base colectável de 6228€ para 6000€. Ou seja um aumento que é mais do dobro do que aquilo que o Governo defende.
publicado por Miguel Carvalho às 15:38
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Sábado, 3 de Novembro de 2007

Fujam que eles parecem parados mas vão relançados

Sim, eu sei, catar disparates em jornais desportivos até o macaco Adriano conseguia. Mas é só este. Diz o Record hoje na capa: "Belenenses relança Benfica e Sporting na Liga". Ora, vejamos: antes do Belenenses ter ido empatar ao Dragão, Benfica e Sporting estavam a 8 e 9 pontos do Porto, respectivamente. À hora a que escrevo, Benfica e Sporting encontram-se a 9 e 10 pontos do Porto. Isto é que é "relançamento". Se amanhã o Benfica e o Sporting estiverem com os mesmos pontos de distância do líder, já sabem quem culpar: o Belenenses, pois claro! Então, tinham dito que relançavam, e depois esqueceram-se?!

publicado por Pedro Bom às 11:20
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Mais um jeitinho e fica em primeiro... atrás de outros dois

"A Proudfoot Consulting (...) coloca a economia portuguesa como a segunda com maior percentagem de tempo [de trabalho] desperdiçado, (...) apenas ultrapassado pela Espanha e pela França", in Expresso 3/11/07.

 

Pois, é como eu. Sou certamente o segundo homem mais bonito de Portugal, apenas ultrapassado por 4 ou 5 milhões de outros portugueses. Portugal tem um grave problema de produtividade, é verdade, mas não vale a pena exagerar.

publicado por Pedro Bom às 10:23
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Sexta-feira, 2 de Novembro de 2007

Mais detecções não significam mais infracções

Sara Capelo hoje no Público confunde o número de apreensões de instalações de TV por Cabo piratas, com o número de pessoas que realmente têm uma instalação pirata. Num artigo sobre o aumento das apreensões deste tipo de pirataria, o título escolhido é Pirataria no acesso a conteúdos televisivos aumenta 40 por cento!
Ora mesmo numa situação em que a pirataria diminui, poderemos obviamente ter mais detecções. Seja por haver mais ou melhor fiscalização, ou pura e simplesmente porque a mesma fiscalização teve mais sorte. É como concluir que hoje choveu mais que ontem apenas baseando-me no facto de hoje ter apanhado mais chuva quando fui à rua.
Pior ainda é o próprio texto referir o facto de a fiscalização ter aumentado! Ora se a fiscalização aumentou, não é óbvio que as apreensões aumentam? Porquê concluir então que foi a prática da pirataria que subiu 40%?
Obrigado Nuno!
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publicado por Miguel Carvalho às 16:00
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