Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2008
O Indicador mensal de expectativas sobre a evolução de curto prazo da economia portuguesa do ISEG - e aqui a palavra fundamental é
expectativas - registou uma descida este mês. Para a LUSA é totalmente indiferente que este índice seja de expectativas para o futuro e
não seja um registo do que realmente aconteceu, tal como é irrelevante se o seu valor é alto ou baixo, o que interessa é que desceu. (Quando as expectativas passam de estupendas para apenas excelentes há obviamente uma descida deste índice, mas não deixam de ser excelentes! Tal como subir de calamidade para desgraça é uma subida, mas...)
Na sua habitual ânsia de más notícias, a LUSA afirma então
Actividade económica deteriora-se em Janeiro.
Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008
O FED decidiu baixar a taxa de juro em "meio por cento", insiste o José Rodrigues dos Santos no Telejornal. Agradecíamos todos, eu que me começo a fartar de escrever posts sobre o assunto e vocês que mais fartos estarão de os ler, que alguém mais próximo fizesse o favor de dizer ao homem como é que isto deve ser dito. Senão, passamos a vida nisto...
Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008
Factos (de acordo com a notícia de Clara Viana no Público de anteontem):
Número de contratos de trabalho por conta de outrem totais: cresceu em 2003, 2004, 2005 e 2006
Número de contratos de trabalho por conta de outrem sem termo cresceram em 2003, 2004, 2005 e 2006
Número de contratos de trabalho por conta de outrem a prazo diminuiram em 2003, 2004 e 2005, tendo apenas crescido em 2006
Clara Viana diz contudo
"É uma tendência em alta que o Anuário Estatístico de 2006 (...) veio confirmar: a criação de emprego está a ser feita sobretudo via contratos a prazo...". Uma "tendência" que nos últimos 4 anos aconteceu uma vez.
O "acréscimo de emprego registado em 2006 - a primeira subida em três anos". Esta passou-me totalmente ao lado.
Domingo, 27 de Janeiro de 2008
Na capa do DN de hoje: Mais duas mortes ligadas ao fecho de urgências
Lá dentro em título, já mais suave: Dois novos casos de morte envoltos em polémica
No texto: No primeiro caso não foi questionada a prestação de cuidados por parte dos técnicos de emergência, mas a falta de humanidade no tratamento hospitalar.
O que é que afinal ligava a morte aos fecho das urgências? A ânsia cega de sensacionalismo do DN.
Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008
O ministro das Finanças dizia hoje na TSF que queria reduzir o prazo médio de pagamento por parte do Estado aos fornecedores de 150 para 30 a 40 dias num prazo de 3 anos, e para tal seria necessária - segundo ele - uma redução de 15% a 25% por ano.
Ora três reduções consecutivas de 25% (já nem falo dos 15%) ao ano resultaria em:
150*(1-0,25)*(1-0,25)*(1-0,25)=63 dias!!
Provavelmente o que o ministro fez, foi notar que reduzir hoje 25% seria uma redução de 37,5 dias, e reduzir 3 vezes 37,5 dias resultaria numa redução de 112,5 dias, e assim passaríamos dos 150 para algo entre os 30 e os 40. Mas isto não é a mesma coisa que reduzir 3 vezes 25%. No segundo ano se reduzíssemos 25% de 112,5 dias estaríamos apenas a cortar 112,5*0,25=28 e não 37 dias!
A conta que o senhor ministro deveria ter feito é encontrar o x que faz com que isto seja possível:
150*(1-x)*(1-x)*(1-x)=40 dias, ou seja x=1-(40/150)^(1/3) o que dá 36% (onde ^(1/3) significa a raiz cúbica).
Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008
... vem o José Rodrigues dos Santos dizer disparate. Parece que o FED baixou de urgência a taxa de juro de referência em 0,75 por cento, segundo nos disse hoje o nosso José no Telejornal. Não, José, já é a
segunda vez que te digo que, nestes casos, é 0,75
pontos percentuais que tem de ser dito. Ou 75 pontos base, também serve. Mas nunca 0,75 por cento. Se assim fosse, a taxa de juro teria caído de 4,25% para apenas 4,21%, nem sequer teria dado para abrir o Telejornal de forma tão bombástica. Já era tempo de aprenderes.
O Diário Digital escreve hoje
"Estudo: Portugueses têm das pensões mais baixas da Europa", referindo-se a um Estudo da
AXA. Ora basta abrir a página da AXA para ver que o estudo não tem uma amostra exaustiva nem representativa da Europa. Ou basta ler a frase "
Portugal é o país europeu com as pensões mais baixas, a seguir à Hungria e à República Checa" da notícia para concluir que falta ali muita coisa.
Um exemplo: usando como amostra Portugal, Bielorrússia, Estónia, Moldávia, Roménia, Sérvia, Bósnia, Croácia, Bulgária, etc... o DD iria concluir em grande estilo algo como "Portugal tem pensões
três vezes maiores que a média europeia".
Se a amostra for Portugal, Suiça, Suécia, Irlanda, Noruega, Holanda, Luxemburgo, etc... a conclusão teria que ser "Portugal tem pensões a
metade da média europeia".
Ora até um miúdo de 10 anos sabe que ambas não podem estar correctas ao mesmo tempo, ou parafraseando o imaginário moço, "
os senhores do Diário Digital são uns aldrabões".
Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2008
O Expresso diz este sábado na capa que os "Profs perderam 12% do salário em 8 anos". Não me dando ao trabalho de verificar os números, reparo em dois erros na análise.
- Embora o título e o texto se refira à generalidade dos professores, nas letrinhas pequeninas no gráfico ficamos a saber que só foram verificados os professores em topo de carreira. Ora eu conseguiria facilmente encontrar 1000 portugueses que em 8 anos viram o seu salário duplicar, mas não seria sério concluir daí que os portugueses no seu todo tiveram uma duplicação. Aqui a escolha do escalão mais alto não é inocente. Tem sido política nos últimos anos dar aumentos percentuais maiores aos escalões mais baixos (o próprio texto o refere a propósito do congelamento de salários), logo o topo da carreira tem sido penalizado em relação à média. Não se pode portanto generalizar estes 12%.
- Os valores em causa são do vencimento bruto. Eu continuo sem saber o que é o "poder de compra", mas salário bruto não é exactamente o que pensamos quando nos referimos a "poder de compra", que imagino estar mais associado ao salário líquido. E a diferença neste caso é importante, porque se houve aumentos de salários abaixo da inflação esperada e os escalões do IRS foram actualizados ao nível da inflação esperada, houve quem tenha saltado de escalão, resultando numa diminuição percentual menor do salário líquido do que do salário bruto - ou maior já que ao longo deste período houve várias mexidas nos escalões, nomeadamente a introdução de um escalão de 42%.
Alguém do Expresso escreveu na última página "Economia piora", e, por baixo, "A situação económica nacional voltou a agravar-se em Dezembro", e ainda, "O indicador coincidente do Banco Portugal está em queda desde Outubro". Só disparates. O que realmente está em queda desde Outubro é a
taxa de variação homóloga deste indicador, como consta do Quadro 5 do relatório de
Indicadores da Conjuntura do Banco de Portugal. Acontece que esta mesma taxa foi sempre positiva ao longo de 2007, Dezembro incluído, o que significa que o indicador coincidente da conjuntura económica do Banco de Portugal não está a diminuir, simplesmente aumentou menos, em termos homólogos, que no mês anterior. Portanto, Sr(a). Jornalista do Expresso que escreve estes disparates, se me está a ler, isto não significa que a "economia piorou", significa tão só que a actividade económica desacelerou. Será assim tão difícil de entender?
Nota: Um indignado leitor alerta para o facto de o indicador coincidente do Banco de Portugal ser por definição uma taxa de variação homóloga. Definir o indicador como um indíce (nível) ou como uma taxa de variação (como parece ser o caso) é completamente irrelevante. O que é relevante é que os números em questão (chamando-lhes indicador coincidente, ou, como eu, taxa de variação do indicador coincidente) representam variações percentuais homólogas. E, sendo positivos, não permitem concluir que a situação económica é pior (atenção: a questão do desemprego é de enorme importância mas não entra neste debate), por mais descontentes que estejamos com o rumo das coisas. Portanto, com o fraseado devidamente ajustado, a crítica ao artigo do Expresso mantem-se intacta.
Domingo, 20 de Janeiro de 2008
Oposição sem poder em 95% das câmaras diz hoje Susete Francisco no DN. Isto porque actualmente existem apenas 16 assembleias municipais onde a oposição tem votos suficientes para aprovar uma moção de rejeição de acordo com a nova lei eleitoral autárquica.
Ora de acordo com o texto a figura da moção de rejeição só agora será introduzida ao nível autárquico. Ou seja seguindo exactamente a mesma lógica, Susete Francisco só poderá concluir que a oposição autárquica esteve sem poder desde 1974 até hoje.
Mais, seguindo a mesma lógica, Susete Francisco só pode concluir que desde 1987 a oposição a nível nacional só teve poder durante quatro anos (o primeiro governo de António Guterres).
Fascistas!