Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008

Misturar alhos com bugalhos

Notícia de hoje na SIC:

Em rodapé5 mortes em Loures numa semana!!

 

Se ficaram com medo de ir a Loures porque a criminalidade violenta e indiscriminada disparou, podem ficar descansados! Oiçam o resto:

 

Diz a locutora: "Mulher baleada por um desconhecido.........a juntar a esta morte, refira-se que houve também esta semana um homem que morreu numa rixa num café em Camarate e um homem que matou os pais e suicidou-se a seguir"...

 

Somar eventos de natureza diferente não faz sentido nenhum, a não ser que o objectivo seja empolar  sentimentos de insegurança.

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publicado por Oscar Carvalho às 23:05
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Quando mete sondagens, sai disparate

Comento o texto do Paulo Martins no JN, por ser o mais completo e onde a sondagem foi publicada.. aliás os outros são geralmente cópias dos mesmos disparates.
1. PS, PSD e PP descem, PCP mantém-se. Apenas o BE sobe, mas sobe apenas 4pp ou seja bem menos do que as outras descidas. Da última vez que vi umas eleições a soma das percentagens ainda dava 100%... Ou o PCTP-MRPP disparou para os 7% ou 8% ou Paulo Martins está dizer-nos que nas próximas eleições a soma vai ficar abaixo dos 100%.
2. O que parece mais óbvio (como sempre não posso confirmar porque o JN online não tem a ficha técnica) é estarem a ser analisados os resultados em bruto, o que é errado por várias razões, como o facto de comparações entre meses deixarem de fazer sentido. Sendo assim, o Paulo mete outra argolada quando diz que os 39% do PS estão longe da maioria absoluta. É que descontando os indecisos, este valor seria bem mais alto. (P.S. não fiz as contas e logo não estou a querer dizer que o PS está perto da maioria absoluta, apenas a afirmar que não faz sentido pegar no 39% para fazer esta análise)
3. Diz o Paulo "Como o trabalho de campo desta sondagem teve lugar quase um mês após a remodelação governamental, que resultou no afastamento do ministro da Saúde, é legítimo inferir que ela não travou a curva descendente". Não Paulo, isso não é legítimo. Primeiro porque as margens de erro (não publicadas) muito provavelmente são maiores que a variação em causa Segundo porque não interessa apenas quando foi feita este trabalho de campo, mas também quando foi feito o trabalho de campo anterior... que foi há 4 meses! Teria que se comparar com sondagens imediatamente antes da saída do ministro, e em 3 meses pode ter havido muitas variações.
4. "O PSD perde 4%". Não Paulo, o PSD perde 4 pontos percentuais.
5. "Em conjunto, PSD e CDS atingem um score inferior em 4% ao do PS". Também não.. São outra vez 4 pontos percentuais.


Adenda/correcção
O Pedro Magalhães do CESOP da Católica, centro responsável pela sondagem em causa, já tinha respondido às minhas dúvidas no seu interessante blogue Margens de Erro, onde publica o relatório da sondagem. Com os novos dados, posso corrigir/aprofundar o que escrevi em cima, optando contudo por deixar o texto original.
1. A soma dos valores afinal dá mesmo 100%, eu só fui induzido em erro por haver 4pp que desaparecem. A explicação vem da previsão dos votos brancos/nulos que tem um número inesperadamente alto (5%) que não vinha referido na notícia, e de uma estranha série de coincidências nos arredondamentos para baixo.
2. Este meu ponto deixa de fazer sentido. Os 39% são o valor correcto a analisar, e logo o PS está claramente longe da maioria absoluta.
3. a 5. As críticas continuam pertinentes. Por curiosidade, e como eu antevia, a margem de erro é de 2,8% logo maior que as flutuações em causa.
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publicado por Miguel Carvalho às 12:06
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Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008

O governo quer acabar com o Hospital do Litoral Alentejano

Pelas minhas mui dúbias fontes, soube que era este o título que o Público de 6ª-feira passada pretendia usar. Como isto correspondia em 0,00001% à realidade optaram por um título menos sensacionalista mas que já corresponde em 0,00002% à realidade.
Raul Oliveira refere então no título a intenção de "privatização" do hospital. Na língua que se fala em Portugal (descontando o estranhíssimo dialecto de alguns locais como a Rua Viriato em Lisboa) privatizar significa vender algo público aos privados. Ora o próprio Raul esclarece no texto que afinal a intenção do governo é de entregar a gestão a uma empresa pública empresarial. Reparem não só não é uma venda ao privado, como nem sequer a gestão passa a ser privada. Mas se o título espelhasse a realidade, se calhar ninguém lia a caixinha pequenina perdida no meio do jornal que o Raul escreveu.
publicado por Miguel Carvalho às 22:22
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Pão IV

Ainda bem que esta onda de espírito crítico se instalou sobre o preço do pão. Há anos que comento sobre os dislates da indústria e já há dois meses aqui tinha escrito sobre isto. Os jornais foram lentos, mas já colocaram o dedo na ferida.
O Público publica mais umas contas disparatadas apresentadas pela indústria.
1. O representante da indústria, Carlos Alberto Santos, diz que desde 2006 o preço da farinha aumentou 120% a 140%. Curioso que ontem dizia que o preço do trigo tinha subido de 350€ para 450€. Na minha terra, e na terra das pessoas com um cérebro maior que o do meu gato, isto é um aumento abaixo dos 30%.
2. Contrariando também o que disse ontem, afinal a matéria prima é apenas a segunda parcela dos custos, nomeadamente 25%. Mesmo assumindo disparatadamente que a única matéria-prima é farinha, e que o seu preço subiu os disparatados 140%, então o preço total deveria subir 35% e não os 50% que a indústria alega.
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publicado por Miguel Carvalho às 22:06
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Contas do Pão, ou Tiros no Pé

Jaime Silva, Ministro da Agricultura e Pescas, foi ontem bastante claro sobre a polémica do aumento do preço do pão: (1) o aumento do preço em euros do trigo foi bastante inferior ao aumento do preço em dólares devido à valorização do euro face ao dólar, e (2) o custo da farinha é uma pequena parte do custo final do pão. Jaime Silva fala de uns meros 5 por cento, mas Carlos Santos, da ACIP, reclama 24 a 26 por cento. Muito bem, senhor Carlos Santos, mas, sendo assim, faça o favor de nos explicar porque razão precisa de aumentos. É que, com a tonelada de farinha a custar 450 euros, só com muito desperdício de matéria-prima pelo meio é que um hipotético (e intragável) pão feito de 40 gramas de farinha precisaria de 2 cêntimos dela. Se isto representasse 25% do seu custo, então este rondaria os 8 cêntimos. Acrescentando-lhe uma improvável (mas assaz choruda) taxa de lucro de 25%, o preço saltaria para os 10 cêntimos, preço que, por sinal, ronda o praticado actualmente. Ou seja, na tentativa desesperada de mostrar que afinal o preço da farinha conta, e muito, no preço final do pão, o senhor Carlos Santos mostra-nos que a indústria panificadora faz bons lucros e, por conseguinte, não precisa de aumentos coisíssima nenhuma. É cada tiro no pé...
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publicado por Pedro Bom às 10:30
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Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2008

Pão III

Em entrevista de rua, o repórter da TSF entrevista a dona de uma padaria na zona de Santa Apolónia. Diz a senhora que se lembra do preço da carcaça ser "quatro tostões" e que tem uma solução para Portugal deixar de importar cereais: "plantar trigo no Alentejo"!

E o reporter fica babado com tamanha clarividência!

 

Também eu me lembro da carcaça a 4 tostões! Mas nesse tempo, a "criada da família" ganhava 200 Escudos por mês. O ordenado de um engenheiro era 3.000 Escudos mensais.

Se quiserem façam as contas para ver quantas carcaças se compravam com um ordenado de 3.000 Escudos e comparem com quantas se compram hoje com os valores actuais. E depois digam-me!

Não há uma alma caridosa que seja capaz de explicar ao senhor reporter que existe uma coisa chamada inflação?

 

E já agora, também não seria mau se o reporter estudasse um pouco de história e aprendesse o que foi a campanha do trigo encetada pelo Salazar, e os resultados desastrosos da mesma.

 

Qual é a relevância desta entrevista? 

Dar a conhecer as patetices que as pessoas dizem? É certo que numa democracia a asneira é livre! Mas custa um bocado!

 

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publicado por Oscar Carvalho às 18:29
editado por Miguel Carvalho às 19:12
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Que dia extraordinário, só recordes

Ao abrir o Diário Digital:
Preço dos cereais bate record.
Preço do petróleo bate record.
Preço do Euro bate record.

Eu já nem peço um "bocadinhozinho" de noções do funcionamento da economia. Apenas um minimozinho de espírito crítico. Não será que estes recordes todos se devem à desvalorização do dólar, e não à valorização destes produtos todos??

Adenda: Não estou com isto a querer dizer que o petróleo e os cereais não estejam a ficar mais caros (em euros inclusive) no médio prazo, mas quando estes recordes - que quase por definição são eventos raros - acontecem todos ao mesmo tempo é de desconfiar do que está por detrás deles.
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publicado por Miguel Carvalho às 10:50
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Pão II

O Miguel já aqui escreveu sobre o assunto, mas volto a insistir. Desta vez, Carlos Alberto Santos, da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares, vem-nos dizer que ou o preço do pão aumenta 50% ou vai tudo à falência. Em causa está, como sempre, o preço da farinha devido à alta do preço do trigo nos mercados internacionais.
Dados os lúcidos protestos de quem percebe que o custo da matéria-prima é apenas uma das parcelas constituintes do  preço do produto final (há quem venha com percentagens ínfimas de 2 a 3%), alguém se lembrou de confrontar o senhor Carlos Santos com essa questão. Resposta: "Na composição do preço do pão temos três componentes: as matérias-primas, a mão-de-obra e os outros custos, como instalações, viaturas, etc." Muito bem, isto já sabíamos, mas vale a pena relembrar. Mas acrescenta: "Há um ano e meio, era a mão-de-obra que mais influenciava o preço, mas agora esta situação inverteu-se e não parece que iremos ficar por aqui." Bem, o senhor Carlos Santos prefere fugir à questão e não revelar qual é, na sua opinião, a importância do custo da matéria-prima no preço final, é só isso que nos interessa. Mas ficamos a saber que uma carcaça vale mais pela sua farinha do que pela sua mão-de-obra. Bem, podia pegar no argumento dos 2 ou 3%, mas não resisto a fazer umas contas de algibeira.
O Público diz-nos que o preço da tonelada de farinha rondava os 350 euros em 2006 e está actualmente pelos 450, com perspectivas de chegar aos 500 (o que corresponderia, neste caso, a uma aumento de cerca de 43%). Até pego nos 500, para não haver dúvidas. Uma carcaça de 40 gramas custa actualmente perto de 10 cêntimos, custava perto de 8 em 2006 e o senhor Carlos Santos acha que tem de saltar para os 15 ou 16. Mesmo admitindo que o conteúdo de uma carcaça é apenas farinha (o que não é verdade, também há água, fermento, sal, etc.), uma tonelada chegaria para fabricar  25 mil carcaças de 40 gramas. A 500 euros por tonelada, isto daria um conteúdo de 2 cêntimos por carcaça. Torna-se, pois, claríssimo que a contribuição do preço da farinha no preço final do pão é actualmente bastante pequena e quase certamente inferior à contribuição do custo do trabalho. Mas, o mais engraçado (para quem não come pão) é que o senhor Carlos Santos quer aumentar o preço do pão em 50% quando o preço da farinha apenas terá aumentado 43% quando estiver (ainda não está) nos 500 euros. É que, mesmo que o único custo do pão fosse a sua farinha, um aumento de 43% até chegava. Mas não, Carlos Santos quer 50%. Só se for para compensar os desperdícios. Ou para meter ao bolso.
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publicado por Pedro Bom às 10:08
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Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2008

Chuva aumenta 10000000%

Mais um exemplo do eterno erro de comparar valores de estatísticas com flutuações enormes: Brasil: IDE português triplica em Janeiro diz o Diário Digital. O investimento directo estrangeiro, mesmo em termos anuais, tem enormes flutuações, logo é preciso ter algum cuidado em comparar uma período com o outro. Aqui a situação ainda é pior porque apenas se compara uma fracção do IDE total (aquele dirigido ao Brasil) dentro de outra fracção do IDE (aquele de Janeiro).
Como sempre, um exemplo semelhante e mais infantil para o jornalista responsável pela peça, é como afirmar que Chuva aumenta 10000000% porque ontem caiu uma gota e hoje choveu, ou seja uma informação irrelevante.
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publicado por Miguel Carvalho às 12:22
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Domingo, 24 de Fevereiro de 2008

Total ausência de espírito crítico

Há jornalistas que adoram inventar factos e de os estampar nos títulos, a partir de fontes totalmente absurdas e inseguras.

Recordo-me com uma grande risota de um jornal a meio da longa discussão sobre o túnel do Marquês em Lisboa, ter estampado na capa "Túnel considerado dos mais seguros da Europa". Quando se vasculhava lá dentro sobre a fonte de tal afirmação, descobria-se que tinha sido Santana Lopes, esse engenheiro de estruturas viárias de renome internacional, a afirmar que o túnel era dos mais seguros da Europa... sem nenhuma outra fonte.
Também ridículo foi um título numa capa há uns tempos que afirmava que as casas num dado local tinham se desvalorizado 50% devido à presença de cabos de alta tensão. O número era repetido então num título de uma página interior, e perdido no meio do texto vinha a rigorosa e fidedigna fonte de tão precisa estimativa: um morador local.

Hoje na RTP houve uma peça onde se dizia que as crianças que vivem nos circos trocam de escola 80 vezes por ano. Lá no meio da reportagem percebia-se qual era a fonte: uma menina que vivia num circo. Não é preciso ser um génio para perceber que a menina se estava a enganar. Seria necessário mudar de escola de 3 em 3 ou 4 em 4 dias, para tal ser possível... nem daria tempo para montar o circo!

O que está em causa não é se é 8 ou 80, mas a constante falta do mínimo de espírito crítico de quem supostamente é profissional de "informação".
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publicado por Miguel Carvalho às 21:14
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