Terça-feira, 6 de Maio de 2008
A capa do Expresso deste sábado brindava-nos com umas setas apontadas para cima legendadas com "Leite 74%, Arroz 71%", etc... Lá dentro percebíamos que aquelas subidas eram subidas em categorias específicas, sendo portanto totalmente falso que o Leite como classe de produtos tenha subido 74% em média (seja lá qual fosse a média) como a capa tenta dar a entender.
Segunda-feira, 5 de Maio de 2008
Quem acabou de ouvir o António Vitorino dizer nas suas Notas Soltas que ainda hoje tinha ouvido o presidente do Banco Asiático de Desenvolvimento dizer que "mais de um bilião, isto é, mil milhões, de pessoas seriam afectadas pela crise alimentar," que não deixe solta esta nota: em português, um bilião não corresponde a mil milhões, mas antes a um milhão de milhões! O nosso António lá terá ouvido o senhor dizer "one billion" e traduziu para "um bilião". Só que enquanto nos Estados Unidos "one billion" significa, de facto, "a thousand million", em Portugal (e na restante Europa) um bilião (ou bilhão) corresponde a "um milhão de milhões". Dado que não vivem um milhão de milhões de pessoas ao cima da terra, o senhor do Banco Asiático referia-se certamente a mil milhões de afectados pela crise alimentar, pelo que o António Vitorino só errou ao falar em "bilião". Mas, felizmente, a emenda saiu melhor do que o soneto, e a mensagem lá passou.
Quinta-feira, 1 de Maio de 2008
O Público refere hoje na capa um comparação entre os preços dos combustíveis e o do petróleo Brent, onde é dito que os primeiros subiram menos que o segundo (em termos percentuais) desde o início do ano.
1. A comparação que é feita não faz qualquer sentido - e este é um erro que ultimamente tem enchido aqui o blog - porque o preço do Brent não é o único factor a determinar o preço dos combustíveis. Há os preços de transporte do petróleo, de refinação, da distribuição dos combustíveis, de funcionamento das bombas, de mão-de-obra, impostos não-proporcionais, etc.. etc.. etc.. Isto é, nem seria sequer de esperar que a variação do preço fosse a mesma.
2. A comparação que é feita não faz qualquer sentido porque o petróleo negociado hoje não é o combustível vendido amanhã. O preço negociado não são preços para entregas imediatas, há depois o transporte, há depois a refinação, há depois a distribuição. Não sei qual o tamanho exacto deste hiato temporal (alguns meses provavelmente), mas não será certamente zero. Isto é, deveria comparar-se os preços do combustível com o Brent de há uns meses atrás.
3. Por fim, um enorme disparate, que cheira a intenção política: "Consoante a perspectiva e os números usados, os portugueses têm e não têm razão de queixa, havendo apenas dois pontos sem discussão:(...) segundo, a carga fiscal, sobretudo com o aumento do IVA de 19 para 21 por cento, ajudou muito". Quando o aumento em causa é de 100% no gasóleo e 61% (desde 2000), insistir neste aumento do IVA (eu até me lembro de dois aumentos do IVA, mas a Lurdes Ferreira lá sabe porque será que só um é que conta) que levou a um aumento de 1,7% no preço ao consumidor, é ridículo.