Quinta-feira, 28 de Agosto de 2008

Leitores catadores

Duas notas do leitor A.M.:

 

1. A propósito da lei do divórcio: "Aqui está um título manifestamente abusivo, que o corpo da notícia… desconfirma. Sobre a lei do divórcio, que não é coisa de somenos."

 

2. A propósito de traduções infelizes.

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publicado por Pedro Bom às 23:39
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Terça-feira, 19 de Agosto de 2008

O mundo vai acabar

Crimes violentos estão a aumentar diz o Portugal Diário.

Quando se lê a notícia percebe-se que afinal há alguns tipos de crime violento que estão a aumentar, sendo o título portanto abusivo, enganador e sensacionalista. Se houver mais violações e menos homicídios será que podemos afirmar que os crimes violentos estão a aumentar.. ou a diminuir?

Se me apetecer olhar para o carjacking, tenho direito a um título sensacionalista. Se me apetecer olhar para os homicídios (um crime realmente mais violento a julgar pelas penas de prisão), então - como a própria notícia o diz - então tenho a criminalidade a descer!! Tanto uma como outra escolha não dão um retrato fiel da realidade... e é óbvio que em caso de dúvida os media optam pelo sensacionalismo, enganando os leitores. O próprio jornalista mostra bem o seu enviesamento, simplismo e falta de rigor quando escreve "quando [sic] ao número de homicídios, que poderíamos pensar estarem a subir (...) nos três primeiros meses de 2008 até se verificou um decréscimo".

Colocando as coisas de outro modo, por melhor que fosse a evolução da segurança num país (não estou a dizer que seja o caso), estatisticamente haverá sempre algum crime violento a subir, e ao escolhermos esse tipo de crime a dedo para uma notícia, poderíamos sempre afirmar "crimes violentos estão a aumentar".

publicado por Miguel Carvalho às 16:42
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Sexta-feira, 15 de Agosto de 2008

Trocas e baldrocas

GOVERNO VAI FALHAR META DOS 150 MIL EMPREGOS diz Manuel Esteves no DN de hoje. Assim mesmo em maiúsculas, pelo menos na versão online. Quando os últimos números dizem que a criação líquida de emprego foi de 133,7 mil desde o início do legislatura, e ainda falta mais de um ano para o seu fim, este título chama a atenção.

 

1. Ao contrário do que seria de esperar de uma notícia, aquela afirmação não decorre dos números do INE, não é tirado de nenhum estudo ou projecção e não é sequer a opinião de algum especialista consultado. É pura e simplesmente a opinião pessoal do Manuel, que confunde opinar com informar. E repare-se no tempo verbal da afirmação. O título é apresentado como um dado adquirido, nem sequer é uma possibilidade.

 

2. O Manuel diz "o Governo criou, em termos líquidos, 86 mil postos de trabalho". Talvez tenhamos entrado numa economia comunista de planeamento central e eu não tenha reparado, porque o Governo, propriamente dito, só tem destruído emprego em termos líquidos.

 

3. Apesar de o governo ter entrado em funções no primeiro trimestre de 2006, o Manuel  - ao contrário de toda a gente - vai fazer a comparação com o segundo trimestre, daí os tais 86 mil. Ele sente a necessidade de se justificar dizendo (e bem) que se deve comparar os valores de trimestres homólogos. Só que a meta do Governo era o emprego criado desde o início da legislatura. Pode dizer-se que foi manha do Governo (e eu concordo) ao escolher como base de comparação um trimestre com números de emprego baixos, agora não se pode contrariar alhos com bugalhos. Não se pode contrariar um valor, por mais estapafúrdio que seja, com um valor ao lado. Se o objectivo do Benfica era alcançar os 70 pontos não posso dizer que ele não foi alcançado, no caso do Benfica ter 71, apenas porque não foi campeão.

 

4. Voltando à argumentação do Manuel... é impossível encontrá-la. Dedica um parágrafo inteiro a dizer que o novo emprego foi maioritariamente absorvido pelo aumento da população activa. E então? Não contraria em nada a meta, nem lhe dá direito à conclusão do título.

 

5. O Manuel levanta depois a questão da criação líquida vs bruta. Ora a criação bruta de emprego só tem importância para os estudiosos. Colocar o objectivo dos 150 mil empregos em termos brutos só ajudaria o Governo, porque já foi obviamente alcançado. Bastaria pensar que a criação líquida foi de 133,7, e que certamente já houve mais de 16,3 mil pessoas a perder o emprego em 3 anos e meio. Mais uma vez, nada tem a ver com a afirmação do título, nem percebo porque é que esta questão lateral é levantada. O Governo sempre foi claro, referia-se ao objectivo mais difícil, a criação líquida de emprego... as próprias declarações de ontem referiam-se a criação líquida. O Manuel cita algumas frases de ministros para mostrar que o Governo tinha a criação líquida em mente, mas só ele é que deve ter tido essa dúvida. Aliás, como disse, se tivesse sido em termos brutos, o objectivo já teria sido alcançado, e por ser em termos brutos, o "êxito" seria irrevogável e nem haveria discussão possível.

 

6. À frente começamos a perceber que o Manuel não faz a mínima ideia da distinção entre os dois termos, quando começa a falar de desemprego. Criação líquida de emprego é o número de empregos criados menos os destruídos. Se a população activa estivesse fixa, então haveria uma relação directa com os números de desemprego, mas como o próprio Manuel diz antes, houve um grande aumento da população activa. Logo seria perfeitamente possível que houvesse criação líquida de emprego e que o desemprego aumentasse. Aqui fica a confusão dos termos bem explícita no texto: "Quando o Governo assumiu funções, havia 412,6 mil desempregados (e 399,3 mil no segundo trimestre de 2005), pelo que a promessa de José Sócrates correspondia a reduzir o universo de pessoas sem emprego a 263 mil". Ele ainda tenta meter as palavras na boca de outrem "Foi a pensar nisso [a redução para 263 mil] que o Partido Socialista avançou na altura com aquela meta.", mas mais uma vez acho que só ele é que teve essa dúvida.

 

7. Relacionado com os dois pontos acima temos ainda este excerto "a população activa aumentou em 131 mil, enquanto o emprego cresceu um pouco mais, 133,7 mil. O diferencial são 2,7 mil novos postos de trabalho - uma gota no oceano de 150 mil novos empregos prometidos pelo Governo". Pois de facto 2,7 mil feijões são poucos comparados com 150 mil grãos de areia. Mas feijão é feijão, e areia é areia. A fazer fé nas contas do Manuel, os 2,7 mil são os números da redução do desemprego e não dos novos postos de trabalho, como ele escreve.

 

8. Depois de vários tiros ao lado, o Manuel conclui "tendo em conta as estimativas nacionais e internacionais relativas ao desemprego, não é crível que o Governo venha a concretizar esta promessa". Ora e assim se fabricou mais afirmação bombástica, que tem direito a aparecer na capa. No texto, a frase anterior é completada com a enigmática "Não porque não queira, mas porque não pode"...

 

9. Por último, 133,7 arredonda-se para 134 e não para 133, como o Manuel faz... e percebe-se porque o faz.


Uma dúvida: o Manuel se estiver a ler isto, que me explique esta frase "ao contrário do que seria desejável, este novo emprego alimenta-se exclusivamente do alargamento da população activa", que é mais um exemplo da confusão entre uma crónica e uma notícia. Se a população activa aumenta, o que seria então desejável? É que pondo as coisas nestes termos a coisa acontece assim por definição. Se há mais X empregos e mais ou menos X novos trabalhadores, isto acontece por definição.

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publicado por Miguel Carvalho às 16:21
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Segunda-feira, 11 de Agosto de 2008

Um título à Correio da Manhã

No Correio da Manhã (CM) de hoje há um artigo enorme com um título que salta à vista até aos mais distraídos: "Padre expulsa mulher de igreja no Chiado". Os factos, segundo o próprio texto do CM, são, no entanto, outros: uma senhora entra numa igreja do Chiado, onde se celebrava uma missa, dirige-se a um corredor lateral, acende uma vela, e é, logo de seguida, interpelada por um segurança que a manda apagar. O padre terá então interrompido a sessão para pedir à senhora para apagar a vela e sair da igreja, ao que a senhora terá respondido "Não saio, já apaguei as velas como me foi pedido". E pronto, a missa continuou e a senhora assistiu até ao final.

Resta saber o que o CM entende por "expulsar". Com receio da minha própria ignorância, até fui à Priberam esclarecer o seu significado. Cinco hipóteses: (1) Expelir com força. Ora, a senhora nem sequer foi expelida, quanto mais com força. (2) Fazer sair por castigo. O padre até pode ver ali fundamento para castigo, mas sair, não saiu. (3) Escorraçar. Não me parece, desejada ou não, a senhora lá ficou. (4) Repelir. Idem. (5) Excluir com violência, eliminar. Violência verbal até pode ter havido, mas não exclusão nem eliminação.

Enfim.

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publicado por Pedro Bom às 16:47
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Quinta-feira, 7 de Agosto de 2008

Uma proposta de um estudo NÃO é um decreto-lei

Entrar em Lisboa sozinho de carro vai sair mais caro, diz a capa do Público. Trata-se de mais um caso de sensacionalismo típico, onde uma proposta de um estudo de um grupo de trabalho é transformada em decreto-lei pronto a aplicar.

Obviamente que o Governo já veio desmentir e lembrar apenas o óbvio, uma proposta de um estudo é apenas uma proposta de um estudo.

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publicado por Miguel Carvalho às 12:48
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Sexta-feira, 1 de Agosto de 2008

Sempre mesmo

"Juros para a compra de casa no nível mais alto de sempre" diz em grande a capa do DN. A afirmação é tão ridícula e absurda, que nem me dou ao trabalho de a desmontar. Se ainda fosse um jornal gratuito, eu perceberia o "sempre" como "desde o aparecimento do jornal", agora o DN deveria ter alguma memória.

Ou então é o Alzheimer.

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publicado por Miguel Carvalho às 17:55
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