Quarenta milhões podem perder emprego este ano no mundo diz um título do Público. Mas o texto explica que No quadro mais grave, o número de desempregados subiria para 230 milhões, mais 40 milhões do que os 190 milhões das estimativas existentes para 2008.
Estamos perante o erro da moda, confundir entradas (ou saídas) com o saldo de entradas e saídas. A acreditar no texto (a experiência mostra que é normalmente no título que está o erro) o saldo entre as pessoas que entram e que saem do desemprego serão 40 milhões este ano. Como haverá certamente muitos milhões que arranjarão emprego este ano, conclui-se que o número de pessoas que vão perder o emprego será muito maior do que os 40 milhões que o título dá a entender.
No DN de hoje: "Israel vinga em força novo atentado do Hamas". Ora, como se lê no corpo da notícia, o atentado não foi perpetrado pelo Hamas mas pela Jihad Internacional, que são organizações distintas:
"O ataque, junto do posto fronteiriço de Kissufim, foi reivindicado pela Jihad Internacional, um grupo com ligações à Al-Qaeda. [...] De acordo com o jornal israelita Yediot Aharonot, o exército acredita que, de facto, não tenha sido gente do Hamas quem perpetrou a emboscada junto da fronteira mas as mesmas fontes consideram que a operação não teria acontecido se não tivesse recebido a cooperação e luz verde do movimento integrista palestiniano."
Ou seja, de acordo com jornal israelita, o exército israelita acredita que o Hamas tenha sido conivente no ataque. Ora, será isto compatível com o título da notícia?
No DN de ontem, Rudolfo Rebêlo assina mais um artigo merecedor de destaque nesta antologia do disparate jornalístico.
1. A habitual confusão entre stocks e fluxos: "Agora, com a crise, o desequilíbrio das contas passa para os 3,9% da riqueza." O que o Rudolfo queria dizer é que o défice orçamental passa para os 3.9% do PIB. PIB e riqueza não são a mesma coisa. O primeiro é um fluxo, o segundo é um stock.
2. A habitual confusão entre pontos percentuais e percentagens, ao estilo do que foi escrito aqui: "Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, afirma que as medidas anti-crise custam 0,8 pontos percentuais do PIB." Não, não custam. Custam sim 0,8 por cento do PIB. O Rudolfo, que se vangloriava de não entrar nestas confusões entre percentagens e pontos percentuais, fica especialmente mal nesta fotografia.
3. A birra do Rudolfo. Há duas semanas, dizia-nos que o número de novos desempregados (90 mil) seria igual à destruição de empregos (50 mil) mais o número de pessoas que entravam no mercado de trabalho (40 mil) (ver aqui). Perante o nosso protesto de que se tinha esquecido de subtrair quem saía do mercado de trabalho, o Rudolfo riposta em comentário irritado que os 40 mil se tratava de um "saldo" e que estava em "defeito (e muito)". O leitor comum interroga-se então: se os 40 mil são um saldo (entradas menos saídas), porque razão os definiu o Rudolfo como "(jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho"? Isto soa a entrada, não soa lá muito a saída. Se o Rudolfo sabe que isto é um saldo porque é que não o diz claramente, em vez de inventar esta história de jovens-não-sei-das-quantas? Será que não percebe que está a induzir as pessoas em erro? E, já agora, se está em "defeito (e muito)", porque é que não dá o número correcto, em vez de insinuar que está propositadamente a divulgar um número exageradamente baixo?
Mas o mais grave de tudo isto é que o Rudolfo, na edição de ontem, decide insistir: "Isto significa que pelo menos 36 mil pessoas saem do mercado de emprego. A estes "números" haverá que somar pelo menos 40 mil pessoas que todos os anos tentam entrar no mercado de trabalho". Desta vez, com o verbo "entrar" bem evidenciado! Será que entrar inclui sair? Ou os 40 mil afinal não são líquidos, como o Rudolfo tinha dito? Caro Rudolfo, convém que se decida.
4. Finalmente, um novo termo económico: "há 36 mil pessoas a sair do mercado de emprego" Mercado de emprego?! E o mercado de desemprego, também existe? Ou será que o Rudolfo queria dizer mercado de trabalho? Ah, mas isso não pode, porque parte das pessoas que perdem o emprego continuam no mercado de trabalho à procura de outro, como o Rudolfo certamente sabe. Desisto, não sei o que é...
Título na capa do SOL: Baixou o consumo de electricidade. (O bold é do próprio SOL)
Trata-se pela 1001ª vez do disparate de confundir subida mais lenta com uma descida. O texto explica que o consumo "vinha a crescer" 4% e o crescimento caiu para 1%.
Eu sei que é complicado perceber para quem não tem a 4ª classe, mas eu tento explicar. Quando do 100, se cresce 1%, passa-se para 101. E 101 é maior do que 100, logo cresceu. Qualquer dúvida, escrevam aqui para o blogue.
Título do Meia Hora de hoje na primeira página: Querem tirar as tropas ao chefe supremo das FA?
Não sei se a notícia é verdadeira, meia-verdade ou totalmente falsa!
O que sei é que isto não é jornalismo sério, pois quem escreveu a notícia, limitou-se a transcrever as afirmações do deputado António Filipe, citado pela Lusa. Assim dá muito menos trabalho e dá pica na mesma que é o que interessa!
Número de mortos aumentou depois da instalação dos radares dizia ontem Licínio Lima no DN. Um subtítulo insistia Sistema foi instalado em 2007 e registou mais dois mortos do que em 2006.
Eu estranhei os dados, porque tinha lido o contrário recentemente. Rapidamente descobri outras notícias e até um documento da Câmara que diz exactamente o oposto, menos dois mortos em 2007.
E assim se cria um mito "urbano".
Licínio, verifique os factos antes de escrever, ok?
Défice externo vai consumir todo o PIB em 2010 diz a capa do SOL.
É impressionante que depois de tantos anos a falar no défice orçamental, ainda haja quem não tenha percebido a diferença entre défice e dívida. Se eu disser que o défice orçamental anda acima dos 60% até as criancinhas sabem que eu estou a cometer um erro. Pelos vistos alguém no corpo editorial do SOL até concordaria.
A expressão "vai consumir todo o PIB" também tem o seu encanto. Primeiro porque dá a entender, em mais um exemplo de sensacionalismo barato, que tudo o que produzimos vai ser levado. Ou seja não se confunde só dívida com défice, como também se confunde dívida com o seu pagamento. Segundo porque prova que a troca de "dívida" e "défice" não foi uma simples distracção, mas é causada por desconhecimento.
No texto (da capa, que eu não vou gastar 2,5€ para poder ler o interior do bicho) temos "... ficando o país totalmente hipotecado ao estrangeiro". Ai, ai... Se eu ganho 10 e peço um empréstimo de 100 para comprar uma casa de 100, pela lógica da batata (ou do nabo) do SOL, eu estaria totalmente hipotecado 10 vezes...
Na edição online ainda se vê um subtítulo "Todo o valor de Portugal", referindo-se aos 100% do PIB. Esta gente não faz a mínima ideia o que é isso do PIB. Mais uma vez, se eu tiver 20 moradias, 100 automóveis, 20 iates, um saca-rolhas de plástico e 10 castelos do Playmobil, mas tiver também o azar de ter sido despedido, qualquer criancinha diria que eu sou rico (pelos castelos, claro). Para o corpo editorial do SOL, não. Os valores que eu possuo resumem-se ao subsídio de desemprego.
Notícia do Diário Digital:
Galiza e País Basco preparam eleições regionais a 1 de Março
(...)
No caso das Galiza, as atenções centram-se no Partido Popular (PP) e no líder, Mariano Rajoy, natural daquela região espanhola. O PP perdeu nas últimas eleições regionais a maioria absoluta, ainda que tenha continuado a governar.
É tão, tão, tão fácil verificar que o governo da Junta da Galiza é constituido pelo PSOE da Galiza, e pelo BNG desde 2005 que eu nem me vou dar ao trabalhar de pôr um link. É uma coisa tão simples, não tem contas, não tem conceitos jurídicos estranhos... onde é que vão inventar isto? É que não há a mínima preocupação com o que se escreve.
O disparate só pode ser da própria LUSA, porque aparece noutros jornais online.
Na capa de hoje do DN, em grande destaque: "Banco de Portugal [BP] prevê 90 mil novos desempregados". No título da notícia: "Constâncio admite 90 mil novos desempregados em 2009". Embora o Rudolfo Rebêlo atribua este número ao BP, parece ter sido ele mesmo a calculá-lo. E fez o seguinte:
1. O BP aponta para um decréscimo no emprego de 1% em 2009. Como a população activa portuguesa é composta por cerca de 5 milhões de pessoas, isto dá um total de 50 mil novos desempregados.
2. O Rudolfo acrescenta que "a este número haverá que juntar mais 40 mil pessoas (jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho".
3. Ora, 50 mil mais 40 mil dá 90 mil. Aí está: 90 mil novos desempregados.
E eis que perguntamos todos: então e as pessoas que saem todos os anos do mercado de trabalho, não contam? É que o próprio BP fala em "estabilização da taxa de participação", pelo que se entram muitos, muitos (mas não necessariamente no mesmo número) têm de sair.
Há que ser justo: a confusão entre percentagem e ponto percentual tem sido menos frequente nos últimos tempos. Era erro habitual ler "percentagem" quando o correcto seria "ponto percentual" (como nos fartámos de escrever aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Exemplo: a taxa de inflação subiu 2 por cento, de 1 para 3 por cento. A taxa de inflação é ela própria uma variável expressa em percentagem, pelo que uma variação absoluta tem de ser expressa em pontos percentuais. Doutra forma, estaríamos a falar de uma variação relativa (no exemplo acima, um crescimento de 2 por cento significaria uma subida de 1 por cento para apenas 1.02 por cento).
O Público comete hoje a proeza de, pela primeira vez desde que reparo nestas coisas, (ab)usar erradamente (d)o ponto percentual: "Os funcionários públicos poderão vir a beneficiar de um aumento real do poder de compra em 1,9 pontos percentuais". Era tão simples usar ali uma percentagem, porque foi a jornalista complicar?
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