Eu fico impressionado com a quantidade de vezes em que se diz que 5 é maior do que 6 nos media portugueses. Ainda agora foi a TSF que repetiu até à exaustão que "2008 foi o ano mais violento da última década". A notícia até está online, para se confirmar.
Abre-se o relatório da segurança interna e quais são os números que se vêem?
Criminalidade Violenta:
2008: 24317
2006: 24534
2004: 24469
Estou em crer que o número de 2008 é mais baixo do que os outros dois, mas devo ser só eu.
Nota: eu estou a comparar os números pela bitola da TSF! Não faz sentido tirar grandes conclusões de números que tratam um homicídio e um roubo por esticão da mesma maneira. Além disso tratam-se de números dos crimes registados, e não de números dos crimes praticados como a TSF faz crer.
Adenda: julgo ter percebido de onde vem a aldrabice da TSF. Não fui verificar a veracidade dos números, mas comparando com um artigo no Expresso, parece-me que a TSF inclui coisas como passagem de moeda falsa, condução com álcool em excesso, falsificação de documentos, condução sem carta, incumprimento dos direitos de autor, etc. na sua definição de "violência". Porquê ficar por aqui? Uma má combinação de cores na roupa, um erro num exame de história, tudo isso pode ser violência. Basta querermos!
Ontem no Jornal da noite da SIC somos informados que o Estado recusou dois projectos de investimento que criariam 12 mil postos de trabalho. Saltei da cadeira: Está tudo doido? O Estado está cheio de incompetentes? Como se pode ver aqui, tratava-se de dois projectos de parques de diversões nos concelhos de Alenquer e Azambuja.
Entre outras barbaridades, o locutor explica-nos o que considera ser "o caricato da situação" : Basílio Horta chumbou o primeiro projecto porque haveria um segundo projecto semelhante e o segundo pela existência do primeiro.
Mas Ana Lourenço irá tirar o assunto a limpo mais tarde no programa Dia D, em entrevista a Basílio Horta. Então este explica que o primeiro projecto não tinha viabilidade financeira, pelo que não poderia ser classificado como projecto PIN (Projecto de Potencial Interesse Nacional) e o segundo, como o próprio promotor reconheceu em carta, nunca seria viável se existisse o primeiro.
Entre outras pequenas incorrecções da SIC, salta à vista que era impossível existirem dois mega-parques de diversão juntinhos, pelo que somar o número de postos de trabalho dos dois e dizer que o Governo não quer criar 12.000 empregos é jornalismo às três pancadas. Digo eu e estou a ser simpático.
Por desleixo meu não cheguei a responder a uma réplica antiga do Sérgio Aníbal do Público a um post meu, onde o acusava de inventar uma contradição. Acrescente-se que a réplica aconteceu por intermédio do provedor do Público, a quem se deve aliás a maioria das reposta que este blog já recebeu.
O tema já é antigo, mas vale a pena ler a minha resposta:
1. Alega o leitor que é isso que está em causa (ou seja, o que se passará neste ano e no próximo) e que para esse período o FMI não aponta outros factores na evolução da situação nacional.
Não é uma alegação, é uma constatação de um facto. O Público diz "A crise internacional não é a principal causa para o ritmo de crescimento lento que Portugal irá continuar a apresentar neste ano e no próximo, ao contrário do que tem vindo a ser defendido pelo Governo. A garantia é dada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)".
Volto pois a citar a frase do FMI: "Growth will likely slow in 2008 to about 1¼ percent, and to about 1 percent in 2009, driven by weaker partner country growth, the international financial turbulence, and higher commodity prices."
Repare, ambos os textos referem os próximos dois anos. O do Público diz que a causa não é a crise internacional, o FMI refere três causas, todas internacionais. Contradição mais explícita não poderia haver.
2. Conclui por isso o jornalista, solicitado pelo provedor a esclarecer o assunto: “Assim, o FMI considera que, apesar de haver problemas conjunturais (externos) a afectar Portugal, são os problemas estruturais (internos) que mais estão a limitar o crescimento da economia. O Governo, por seu lado, tem salientado no seu discurso que os problemas estruturais (internos) estão a ser resolvidos pelas políticas postas em prática e que são os problemas conjunturais (externos) o principal entrave ao crescimento da economia. ‘Estamos agora melhor preparados para enfrentar a crise’, tem sido a frase mais utilizada pelos membros do Governo. Foi aqui, quando escrevi o artigo, que encontrei a contradição.
Estamos de acordo. São problemas internos que estão a limitar o crescimento. Também estamos de acordo que o governo tem dito que os problemas "estão a ser resolvidos". Há alguma contradição entre "estar a ser melhorado" e "estar mau", como afirma agora Sérgio Aníbal? Concorda com a afirmação "a economia angolana está mal, mas está a ser melhorada"? Se concorda, perceberá que não ali contradição nenhuma.
3. E, ao citar aquela frase do relatório, referi igualmente a existência de problemas conjunturais externos, ao contrário do que diz o leitor.
Não admito que me chamem mentiroso! Desafio-lhe a mostrar onde é que eu o acusei de não referir problemas externos.
O Público, que ontem foi um dos exemplos da comunicação social que andou a anunciar que o Governo ia benemeritamente pagar as prestações da casa aos desempregados, diz hoje na manchete "Beneficiários da redução nas casas terão de reembolsar tudo a partir de 2011". Acrescenta depois na capa "não implica perdão dos restantes 50 por cento da prestação, mas o seu pagamento posterior (...) Está em causa um adiamento do valor da prestação". Ou seja trata-se de uma moratória, palavra dita pelo primeiro-ministro e que aparecia perdida no texto de ontem do Público (notícia essa que continua online sem correcções).
Repare-se que a manchete não diz "Governo anuncia moratório" ou "adiamento do pagamento da prestação". A manchete não está a dar a notícia essencial, está a complementar/corrigir uma notícia prévia... notícia falsa que o Público ajudou a criar.
O desvario não tem limites.
Famílias com desempregados vão ter redução de 50 por cento na prestação da casa dizem a RTP e o Público. Menos 50 por cento no empréstimo à habitação, anuncia Sócrates no debate quinzenal diz o Diário IOL.
Impressionante, que ajuda fantástica!
Mas nos textos aparece uma expressão curiosa: "moratória nas prestações de crédito à habitação". Segundo o dicionário, moratória é uma dilação de prazo para pagamento de uma dívida. Ou seja, hoje pago 50 em vez de 100, mas mais cedo ou mais tarde vou ter que pagar os 50 que faltam. E a isto chamam os jornais uma redução... Estou a imaginar o Pingo Doce a anunciar "Redução de 50% nas alcachofras em lata", mas na caixa dizem-nos "para a semana paga o resto, 'tá bem?"
Adenda: claro que no período em causa há uma redução, mas ela é temporária e não absoluta como os título dão a entender. Basta ler os comentários às notícias para perceber que foi assim que os leitores interpretaram.
Anda meio mundo a dizer que o consumo anda a cair, os consumidores andam a retrair-se, etc. e os sacanas dos consumidores e o INE teimam em contrariar a notícia que esta gente queria dar.
Ainda hoje no Público Eduardo Melo afirma "O momento é de retracção do consumo privado" e "o facto é que a deterioração da actividade económica interna e internacional, decorrente da quebra do consumo...". Estas afirmações vinham a propósito do relatório do INE onde o indicador quantitativo do consumo privado (estimativa grosseira da variação do consumo) tem o valor +0,9. (Eduardo, o símbolo da cruz significa que é positivo). E não é só o último, todos os valores que estão no quadro são positivos, tal como a variação do consumo trimestral dos últimos 5 anos.
Chamada de atenção do leitor MCP
Destak de hoje:
Manchete: Violência nas estradas aumenta
Lead: (...) Segundo um especialista contactado pelo Destak, as frustrações profissionais e económicas estão a tornar os condutores mais agressivos.
Texto principal: [Trata-se de um texto com exemplos concretos de violência nas estradas. Diz apenas a certa altura:] (...) Se juntarmos à hora de ponta os nervos à flor da pele ou a crise financeira mundial, pode imaginar-se quais são as palavras evocadas pelos condutores (...).
Caixa: Apesar de não existirem dados estatísticos que mostrem que a violência nas estradas tem vindo a aumentar, a verdade é que este tipo de comportamentos «é mais frequente com o stress, o aumento de carros na estrada, o trânsito e a frustração profissional e económica, factores característicos do nosso tempo». (...) diz ao Destak o psicólogo Carlos Lopes Pires.
(sublinhados meus)
Comentário meu: não contente com fazer uma afirmação para a qual não apresenta uma única prova ou indício, a Patrícia Susano Ferreira foi ainda deturpar o que o psicólogo disse em vários aspectos. (Só por curiosidade o trânsito até tem diminuido nos últimos tempos)
Outro grande clássico, que também está implícito no post anterior. Aqui fica um exemplo, desta vez dedicado a João Ramos de Almeida, responsável pela notícia de destaque da capa do Público e onde se fala em "cortes de pensões", "quebra de pensões", "uma coisa é certa: as pensões desses portugueses vão diminuir em cada ano", para lá de outros disparates, pe onde só um leitor muito atento se apercebe que se fala de variações relativas e não absolutas:
O Rui ganha 10 maçãs* ao mês. Depois reforma-se e ganha 7 maçãs de pensão.
O Pedro ganha 20 maçãs, na reforma recebe 10 maçãs.
Se o Ricardo passar da reforma do Rui para a do Pedro, tem uma subida ou um corte na reforma? (O João acha que é um corte...)
*Falo em maçãs, para se perceber que isto não tem nada a ver com inflação.
Adenda: tal como no post anterior, tivemos uma jornalista a falar de desemprego baseando-se num relatório onde não aparece sequer a palavra desemprego, aqui temos uma manchete sobre o valor das pensões supostamente baseada num relatório, no qual não há uma única referência ao valor das pensões em Portugal.
Nota habitual: não estou a dizer que concordo ou deixo de concordar com o que quer que seja sobre a política económica, nem se é justo ou injusto o que acontece aos moços do meu exemplo. Digo apenas: aquela notícia induziu a grande maioria dos leitores em erro.
Este disparate já se tornou um clássico, especialmente devido aos mal-afamados 150 mil empregos. Com especial dedicação para a Marina Pimentel, cá fica mais um exemplo:
Há 100 trabalhadores, apenas 85 têm emprego e 15 não. Taxa de emprego 85%, de desemprego 15%. No ano seguinte ninguém se reformou, mas há novos trabalhadores, mais 10 digamos. Há agora 94 com e 16 sem emprego. Taxa de emprego 85,5% e 14,5% de desemprego.
Primeiro conclusão (possivelmente surpreendente para alguma gente que tem como profissão aldrabar informar os outros sobre os dados económicos): o número de empregados e o número de desempregados podem aumentar ao mesmo tempo.
Segunda conclusão (possivelmente surp...): o número de desempregados pode subir mas a taxa de desemprego descer.
A partir de um relatório do Eurostat onde não há uma única referência a desemprego, a Renascença consegue fazer a seguinte notícia: O número de pessoas desempregadas na Zona Euro aumentou 0,3%, no último trimestre de 2008. Ficaram sem trabalho mais 453 mil pessoas, no conjunto dos 15 países que partilham a moeda única. E a notícia continua sem um único número que exista realmente no relatório. Mas erros de raciocínio contrariando as duas conclusões acima, eses são vários.
Aquando do último relatório do Eurostat sobre comércio, escrevi este post onde mostrava a dualidade de critérios do Público. Quando há uma má notícia publica-se, quando há exactamente a mesma (na realidade até era melhor naquele exemplo!) mas em versão positiva, omite-se.
Hoje saiu mais um relatório que é, por sorte minha, exactamente o oposto do último. Entre os países mencionados, Portugal teve o segundo melhor comportamento (segundo pior há um mês) e o melhor em absoluto na Zona Euro (pior absoluto há um mês).
O título e parágrafo inicial no Diário Digital há um mês:
As vendas no sector de retalho nacional caíram 6,9%, em Dezembro do ano passado, a segunda quebra mais forte no conjunto da União Europeia, indicam dados preliminares do Eurostat esta quarta-feira.
Hoje:
As vendas no sector de comércio a retalho cresceram 0,6%, em Janeiro, no conjunto da União Europeia (+0,1% na zona euro), face a Dezembro de 2008, revelou o Eurostat esta sexta-feira.
Na RTP online há um mês, havia o título :
Vendas a retalho caíram quase 7% em Dezembro- Eurostat
Hoje: Pevas
Público há um mês, tinha o título:
Vendas a retalho de Dezembro recuam em Portugal mas estabilizam na Zona Euro.
Hoje: Pevas
O título da RTP não dava ênfase à posição relativa de Portugal, apenas ao nível, mas o mesmo não se passava com o texto. Hoje o oposto não mereceu referência. O Público foi muito claro ao comparar Portugal com a Zona Euro, mas hoje que teria a novidade oposta não mereceu notícia. Mas o prémio vai para o Diário Digital. Em ambos os casos teve notícia, no primeiro insistiu na comparação, e hoje nem piou no destaque.
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