Pudera, tem muito mais gente!!
O raciocínio é demasiado complexo para o Expresso e o Diário Digital que têm esta pérolas:
Portugal: 5º maior défice comercial da UE
Zona Euro: Portugal regista 5º défice comercial mais alto
com a agravante do Diário Digital não saber contar (Portugal está em 4º) ou achar que o Reino Unido faz parte da zona Euro. Ter o 5º maior défice comercial nada nos informa sobre o estado do dito cujo, porque é preciso compará-lo com o PIB de cada país. Tal como é preciso comparar o número de criminosos com o tamanho da população.
A situação é melhor ou pior do que aquilo que os títulos dão a entender? Não sei, não vi os dados, e quem é suposto informar-nos também não.
O blogue está cheio da habitual confusão entre fluxo e stock, posição e velocidade, alteração e nível.
Quando o desemprego está alto, isso não implica que tenha havido uma grande subida. Pode passar de 10% para 10.1%. Subida mínima.
Quando há uma grande subida, não implica que o desemprego esteja alto. Pode subir de 2% para 4%, mas 4% ainda é baixo.
Parece claro não parece?
Não para o Diário Digital:
A CGTP defendeu hoje que o aumento da taxa de desemprego no segundo trimestre levou o desemprego ao «o valor mais elevado registado desde o 25 de Abril» em Portugal.
Salários com menor subida em 5 anos diz a Catarina Almeida Pereira ndo DN. Quando se abre a suposta fonte da notícia, um relatório governamental, vê-se que os últimos dados representam a maior subida em 3 anos (dados semestrais)!
O que fez a Catarina então? Olhou para as subidas nominais, ou seja sem contar com a variação de preços! Pessoalmente eu não como notas de euros, como comida (devo ser só eu), logo estou interessado em saber se posso comprar mais ou menos, não se tenho mais ou menos notas no bolso. E aqui houve o maior aumento dos últimos 3 anos.
Sobre o número de desempregados sem direito a subsídio de desemprego (por terem um curto período de descontos) o Público tem esta brilhante análise de João Ramos de Almeida:
Esta realidade dá, por outro lado, indícios da estrutura do mercado de trabalho. Tem direito a subsídio de desemprego quem tenha feito 450 dias de descontos nos últimos dois anos anteriores ao desemprego. Já para receber o subsídio social de desemprego é obrigatório ter feito mais de 180 dias de descontos.
Se o desemprego começou a afectar cada vez mais trabalhadores sem direito a subsídio de desemprego ou mesmo a subsídio social é porque parte considerável do mercado de trabalho não possui esses períodos de descontos. Seja porque se torna cada vez mais difícil encontrar empregos com prazos prolongados de desconto e os contratos a prazo não permitem aceder ao subsídio; ou porque formalmente não têm qualquer tipo de contrato, como é o caso dos "falsos recibos verdes".
Ponham-se na cabeça de um patrão que tem que despedir gente durante um mau período. Despedem quem tem contrato sem termo ou quem tem contrato a prazo/recibos verdes? Obviamente a segunda categoria, porque é mais fácil despedir. Logo num momento de crise é de esperar que este tipo de trabalhadores (os que depois podem não receber subsídio) sejam mais despedidos que os outros. Logo haverá mais deles à procura de desemprego.
Por isso, para ter este resultado não é minimamente necessário haver muita gente com ligações precárias ao contrário do que o jornalista nos quer fazer crer. Em vez de verificar os dados o João Ramos de Almeida tira umas conclusões ao estilo conversa de café.
E agora toca de mandar umas postas de pescada sobre a conclusão infundada. Se há muita gente com contratos precários, é porque é difícil encontrar dos outros. Conclusão paralela, mas igualmente errada pelas mesmas razões de cima.
E mais outra! Outra hipótese de haver gente sem subsídio é devido aos falsos recibos verdes. E os verdadeiros recibos verdes? Como é que o João Ramos de Almeida sabe se os que procuram emprego vêm de uns ou de outros?
Como sempre eu também não verifiquei os dados, é até possível que as três afirmações (sem encadeamento lógico) estão correctas. Mas não há ali nada que as legitime.
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