Era uma vez, dois alunos da preparatória chamados António Costa e Paula Cravina de Sousa que falaram com um amigo, chamado KPMG, que deu uma olhada nos preços no supermercado. Viu a carne (bom, só o frango embalado e a carne picada) e os iogurtes (de sabor a banana, e também a morango), tanto no Pingo Doce como no Continente. O Continente tinha em geral os preços mais caros.
O António e a Paula escreveram então no pasquim da escola: "O Continente é o hipermercado mais caro de todos".
A stôra comentou então:
"Mas o vosso amigo só viu meia-dúzia de produtos, como sabem a média dos preços?"
Depois acrescentou:
"Ele só passou em duas lojas... e o Pingo Doce nem hipermercado é!"
Troque-se "caro" por "carga fiscal elevada", "hipermercados" por "países europeus", e a carne e o iogurte por IRS e temos a notícia do dia saída no Diário Económico. Os jornalistas António Costa e a Paula Cravina de Sousa afirmam que "Portugal tem a carga truibutária mais elevada da Europa". Lá pelo meio ainda dizem que só se compara com os "cinco países mais ricos da Europa" (parece que a Espanha é um dos tais cinco, e nenhum dos escandinavos o é...), mas não há volta a dar ao sensacionalismo do título da notícia.
Para lá de chamar Europa a 5 países, compara-se apenas um imposto, o IRS. Parece que o IVAs, IRCs, ISPs e isso são trocos - e eu agradeceria que pagassem a minha parte. Comparam apenas meia dúzia de famílias-tipo, e não a média da população. Comparam ainda o incomparável, uma família com rendimentos de 50000 euros/ano é classe-média na Alemanha mas rica em Portugal , logo é lhe pedido uma contribuição maior.
Todos a imprensa copy-pastou feita carneirada, com a honrosa excepção do Público que foi capaz de escrever um título informativo e rigoroso: Impostos sobre rendimentos elevados em Portugal superam principais economias europeias.
E a Realidade? Por coincidência o Eurostat publica hoje um artigo sobre os últimos dados sobre cargas tributárias na Europa. A Dinamarca tem 48,6%, a média europeia é 40,8%, e nós temos 36,1%. Bolas.
Adenda: um leitor chamou a atenção para o facto de eu comparar números de 2011 com 2013 no último parágrafo. Estava bem claro no post, que eu falava de "últimos dados" e não de previsões. Mas olhemos para as previsões, da Comissão Europeia: Dinamarca 48,7%, média europeia 40,9%, Portugal 36,7%.
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