Quinta-feira, 22 de Novembro de 2007
"[Contratos de trabalho] temporários ganham mais", diz João Silvestre no título do seu artigo, no suplemento de economia do Expresso do último Sábado. Depois, no subtítulo, coloca algum rigor na coisa e admite que a afirmação do título só se aplica aos jovens. Mas é só algum. Mesmo entre estes, parece que essa diferença é de apenas 1% para os homens e 5% para as mulheres.
Pode argumentar-se que, embora pequenos, são estatisticamente significativos. Pois, com uma amostra daquelas, é muito provável que o sejam. Mas a questão é antes se são economicamente relevantes. E valores de 1 e 5%, e apenas para jovens, não justificam um título daqueles. Sobretudo quando depois nos diz que, para a generalidade das faixas etárias, o salário horário médio pago ao trabalhador com contrato temporário (3.36 euros) é cerca de 23% inferior! Leu bem: não é 1, nem 5, é mesmo 23%. E inferior. Pior, depois desta comparação, que não se refere apenas aos jovens, ainda se atreve a concluir que "Este resultado (...) contraria a ideia de que os trabalhadores temporários são mais mal pagos que nos restantes tipos de contratos". Hã?
De Rui P a 29 de Novembro de 2007 às 15:42
Caro Pedro Bom
Prometo que é o último comentário que faço sobre este post. Fui até reler o artigo (ainda assim não o tivesse lido mal) e gostava apenas de frisar alguns pontos:
1. Percebi perfeitamente a sua explicação estatística. Só acho que não faz sentido. A diferença em bruto entre os salários dos temporários e dos outros é de 23%. É um facto que ninguém discute. Só que estamos a comparar dois grupos completamente heterogéneos. Como lhe disse no comentário anterior, os CEOs de empresas ou os juízes não têm contratos de trabalho temporário. E os trabalhadores temporários também não podem escolher entre ser operadores de call centers ou pontas-de-lança do Benfica. Por isso, é preciso comparar o comparável. Daí que o relevante para a análise seja a diferença de 1 ou 2% e não os 23% que são apenas um ponto de partida. Foi este o objectivo, presumo eu na minha boa-fé, do trabalho dos economistas em que se baseou o artigo. Caso contrário, não era preciso fazer trabalho nenhum e bastava fazer uma média. Não sou economista, mas imagino que terá sido uma estimativa econométrica a gerar os 1 ou 2% e não uma análise de sub-grupos como sugere, que seria demasiado redutora e bastante enganadora.
2. Quando o artigo sugere que os jovens ganham mais a trabalhar com contratos temporários, não está a dizer alguns jovens. Está a dizer, e estou a acreditar no que lá está escrito, que todos os jovens que trabalham como temporários recebem mais - as mulheres mais 5% e os homens têm um ganho ligeiramente inferior. Se quiser fazer a sua análise por subgrupos, então o subgrupo considerado terá as funções para as quais existem trabalhadores temporários e trabalhadores não temporários.
3. Quanto ao título dou-lhe razão no ponto em que se diz "Temporários ganham mais" e isso é apenas verdade para os jovens e não para todos os temporários. Aí terá havido um abuso de linguagem. Pode ter sido uma forma de chamar a atenção ou então um simples problema de espaço. Isso já não sei. De qualquer forma, e o Pedro reconheceu-o no seu post, a dúvida é desfeita logo na linha seguinte onde se especifica que o título se refere apenas aos jovens.
4. Quando sugeri que lesse alguns jornais com atenção e profundidade não me estava a referir a quaisquer pasquins. Estava a pensar, por exemplo, nos diários de economia – que parece ser uma área que lhe interessa – onde se encontram artigos muito interessantes. Não sou economista, como lhe disse, mas vou acompanhando por razões profissionais e encontro várias pérolas. Mas, lá está, não me estou a referir a gralhas, erros ou títulos sensacionalistas. É um pouco mais além. Recomendo-lhe que veja com atenção o que se escreve, o que não se escreve e onde se escreve. Isso sim é divertido.
Cumprimentos
De
Pedro Bom a 29 de Novembro de 2007 às 18:21
Caro Rui,
Entendidos.
Também como último comentário, certamente que uma qualquer técnica econométrica esteve na base daqueles números. Talvez apenas uma simples regressão em que as varáveis explicativas são dummies para determinadas características. Na prática, isto equivale a comparar os subgrupos a que me referia (para simplificar), se estes forem construídos com base nessas mesmas características.
Cumprimentos
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