Sob o título, "
Poder de compra mantém-se 25% abaixo da média da UE" uma
notícia do Diário Digital confunde PIB per capita com poder de compra. O produto interno bruto per capita mede a quantidade de valor produzida dentro de um país por cada habitante em média.
O poder de compra dos cidadãos não existe como grandeza económica e de qualquer modo o PIB per capita não é certamente o melhor indicador desse poder por duas razões fundamentais.
Primeiro não contabiliza os fluxos financeiros entre países como lucros, remessas de imigrantes, subsídios externos, etc... ou seja se eu tiver um táxi na Suíça, um tio na França que me manda dinheiro ou se receber um subsídio da UE, tenho mais dinheiro do que o que produzi. S
egundo não contabiliza as transferências de e para o Estado, como impostos e subsídios. Por pagar IRS, IVA, etc... não posso de maneira nenhuma gastar tudo o recebi de salário/lucro, mas por outro lado posso receber subsídios do Estado que aumentam o meu poder de compra. Só faria sentido associar PIB per capita e poder de compra se estes "detalhes" fossem iguais em todos os países, o que obviamente não acontece.
Eu suponho que o jornalista tenha confundido os dois porque viu a expressão Paridade de Poder de Compra (PPP) algures, e concluiu que se estava a falar de poder de compra. Digo isto porque a certa altura menciona a PPP "
de acordo com o critério PPS [sic]
(sigla inglesa para Paridade do Poder de Compra), um conceito que exclui o efeito da inflação/país". Ora
nem isto está correcto. A PPP toma em conta o nível de preços entre dois países. Se eu ganhar 10 e um espanhol 15, mas eu poder comprar 10 maçãs e ele também, então ele ganha exactamente o mesmo que eu! A inflação é apenas a variação anual do índice de preços, indicando apenas a variação de quanto valem os meus 10 e os 15 dele, e não o seu valor propriamente dito.