Depois da criação do interessante conceito de "mortes negativas" há uns meses pela Lusa, quando noticiou uma diminuição de 300% no número de vítimas mortais em acidentes rodoviários - notícia logo copiada por um rebanho de jornais, esta agência noticiosa desfere mais um forte golpe na concorrência na sua corrida ao prémio de jornalismo humorístico.
Não tendo o texto original, refiro-me à sua republicação (adaptada) no
Diário Digital, sob o título "Euromilhões:Estatísticas revelam «chave ideal» e números a evitar". Mas lá está, não sei a quem atribuir o mérito deste absurdo título.
Agora o fundamental do texto é da Lusa, e é uma obra prima da iliteracia matemática e da superstição. Aliás, vou abster-me de comentá-lo porque me falta a arte de comentar tamanha obra.
Se acredita em estatísticas e quer ter mais probabilidades de ganhar sexta-feira os 130 milhões de euros do sorteio de aniversário do Euromilhões, deve escolher os números 01, 03, 12, 15 e 50 e evitar o 46, o único que saiu menos de dez vezes desde 2004.
De acordo com as estatísticas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e tendo em conta os números que mais vezes foram sorteados desde o primeiro sorteio, em 2004, a «chave ideal» seria composta pelos números 01, 03, 12, 15 e 50.
As estrelas, seguindo o mesmo raciocínio, seriam o 01 e o 06.
Dos cinco números sorteados semanalmente, os que saíram mais vezes foram o número 50 (saiu 29 vezes), o 01 (saiu 28 vezes), o 03 (saiu 27 vezes), o 12 (foi sorteado 25 vezes) e o 15 (sorteado 24 vezes só em 2007).
Já os números «malditos», são o 46 (saiu sete vezes), o 20, 22 e 28 (que sairam 12 vezes cada)
Quanto às estrelas, tendo em conta a mesma estatística, o número 06 saiu 50 vezes e a estrela com o número 01 foi 48 vezes sorteada.
O número 04 foi a estrela que menos vezes saiu (30 vezes).
Para quem não notou, chamo a atenção que este raciocínio é baseado no famosíssimo Teorema de Chebnikov sobre o jogo do Cara ou Coroa: se saiu uma cara, quase quase quase de certezinha que vai sair uma coroa a seguir. (Durante décadas houve uma cisão na comunidade científica entre os apoiantes do "quase quase quase de certezinha" e os do "quase quase de certeza", mas Chebnikov acabou por agregar o consenso em torno da sua formulação).
E ainda há quem insista em fazer o Contra-Informação e o Inimigo Público... Uhnf! Amadores.
De
Pedro Bom a 27 de Setembro de 2007 às 22:20
Caro Miguel,
Que bom foi recordar esse grande vulto da teoria estatística, o Prof. Chebnikov, que Deus tenha, que, apesar de ter gasto a fortuna na roleta russa, nos deixou a Teoria Geral da Aposta nos Jogos da Santa Casa.
Não posso, no entanto, deixar de censurar a tua parcialidade científica, ao teres deixado de fora uma terceira corrente, dita post-Chebnikoviana vulgarmente designada como "Mas tão tão certinho que é como se já tivesse sido". Os postulados teóricos desta corrente são controversos, admito-o, mas a investigação empírica tem-nos dado razão.
De qualquer forma, deparo com um problema que não encontra solução em nenhuma destas três escolas e por isso espero que tu, ou alguém da Lusa, me consiga ajudar. Ora aí vai: Tendo lançado 4 vezes um dado e tendo saído o 1, o 6, o 3 e o 4, qual destes sairá agora, o 2 ou o 5?
Imensamente grato,
Pedro Bom
De
Pedro Bom a 28 de Setembro de 2007 às 11:14
Caro Miguel,
Em vão esperei pela tua resposta mas eis que alguém chega, porventura dos lados da Lusa, e luz se faz. Diz-nos esse alguém, e cito, que "Chebnikov é um palhaço e não por acaso acabou na miséria, que bem feito foi". Isto porque depois de uma cara só pode sair uma cara e após saída de uma coroa nova coroa sairá. O mesmo se aplicará aos jogos da Santa Casa. Deus lá terá os seus caprichos.
Continua o mesmo alguém dizendo que no problema do dado, que desde ontem se encontra sem resposta, jamais sairá o 2 ou o 5, pois não saíram antes, e que não percebem sequer como terão saído o 6, o 3 e o 4, pois não tinham saído antes do 1, embora se inclinem para a tese de que Deus, embora tendo caprichos, não terá certamente preferências racionais e gosta de tirar "ao calhas" uma vez por outra.
Conclui o dito aconselhando a não militância nas ditas correntes Chebnikovianas, pois só podem levar à ruína, e dizendo, e cito novamente, "lá na Lusa eles sabem o que dizem".
Cumprimentos,
Pedro Bom
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