O principal artigo da secção de Economia do Público de hoje é um autêntico monumento ao disparate. Ora, vejamos.
1. Logo na capa: "BdP [Banco de Portugal] prevê paragem da retoma em 2008". Considerando já as previsões revistas (em baixa) pelo BdP, o PIB real cresceu 1.9% em 2007, crescerá 2% em 2008 (contra os 2.2% previstos pelo Governo) e 2.3% em 2009. Quer dizer, o PIB real em 2008 não só cresce como ainda cresce a uma taxa superior à de 2007, e vem o jornalista de serviço, de nome Sérgio Aníbal, dizer-nos que o BdP prevê uma "paragem na retoma". Haja paciência.
2. Ainda na capa: "Menos consumo privado". Menos? Então mas não está estampado no quadro em anexo ao artigo que o consumo privado cresce 1.1% em 2008? Como é que é menos?
3. Continuamos na capa: "Abrandamento das exportações". Como é que é? Então mas no mesmo quadro não está indicado um crescimento de 4.9%? [A propósito de quadros, o que aparece no artigo nem o é bem... é mais um agrupamento de números atirados à cara do leitor, que fica desta forma convidado a descobrir o que querem dizer. Nem uma indicação do que os números significam... se são em valor absoluto ou em taxa de variação, se são nominais ou reais. Enfim.]
4. Mais à frente, já no texto: "o optimismo em relação à evolução da economia está agora adiado para 2009". Então mas a economia cresceu 1.9% no ano passado, espera-se que cresça 2% este ano e 2.3% no próximo e temos de esperar para 2009 para estarmos optimistas? E porquê 2009? Porque 2% não presta mas 2.3% é muito bom? Já agora, qual é a fronteira entre o pessimismo e o optimismo? 2.15%? Ou serão os 2.2% anteriormente estimados pelo Governo? Por mim, nem um valor nem outro me satisfaz. Há muito que deveríamos estar a convergir para o rendimento médio da Zona Euro. Para o Sérgio Aníbal, a miraculosa passagem de uns meros 2% para uns meros 2.3% resolve a questão. Segundo o próprio, o primeiro número significa "intervalo na retoma", enquanto que o segundo traduz "optimismo" e "recuperação mais forte", só porque o crescimento médio da Zona Euro patina algures no meio.
5. Mais à frente: "os 4.9 por cento [de crescimento das exportações] agora apresentados significam que o Banco de Portugal, ao contrário do que aconteceu em 2006 e 2007, está à espera de uma quebra de quota de mercado em 2008". Pois, exportamos mais 4.9% e daí conclui-se que perdemos quota de mercado... Qual seria a conclusão do Sérgio Aníbal se a taxa de crescimento das exportações tivesse sido nula de 2006 para 2007 e 4.9% de 2007 para 2008? Aposto que seria diferente.
6. Logo a seguir: "são só 0.4 pontos, mas podem vir a ser mais". Deduzo que ainda se refere à perda de quota de mercado. Mas, 0.4 pontos? Donde vem este número?