O Miguel já
aqui escreveu sobre o assunto, mas volto a insistir. Desta vez, Carlos Alberto Santos, da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares, vem-nos dizer que ou o preço do pão aumenta 50% ou vai tudo à falência. Em causa está, como sempre, o preço da farinha devido à alta do preço do trigo nos mercados internacionais.
Dados os lúcidos protestos de quem percebe que o custo da matéria-prima é apenas uma das parcelas constituintes do preço do produto final (há quem venha com percentagens ínfimas de 2 a 3%), alguém se lembrou de confrontar o senhor Carlos Santos com essa questão. Resposta: "Na composição do preço do pão temos três componentes: as matérias-primas, a mão-de-obra e os outros custos, como instalações, viaturas, etc." Muito bem, isto já sabíamos, mas vale a pena relembrar. Mas acrescenta: "Há um ano e meio, era a mão-de-obra que mais influenciava o preço, mas agora esta situação inverteu-se e não parece que iremos ficar por aqui." Bem, o senhor Carlos Santos prefere fugir à questão e não revelar qual é, na sua opinião, a importância do custo da matéria-prima no preço final, é só isso que nos interessa. Mas ficamos a saber que uma carcaça vale mais pela sua farinha do que pela sua mão-de-obra. Bem, podia pegar no argumento dos 2 ou 3%, mas não resisto a fazer umas contas de algibeira.
O
Público diz-nos que o preço da tonelada de farinha rondava os 350 euros em 2006 e está actualmente pelos 450, com perspectivas de chegar aos 500 (o que corresponderia, neste caso, a uma aumento de cerca de 43%). Até pego nos 500, para não haver dúvidas. Uma carcaça de 40 gramas custa actualmente perto de 10 cêntimos, custava perto de 8 em 2006 e o senhor Carlos Santos acha que tem de saltar para os 15 ou 16. Mesmo admitindo que o conteúdo de uma carcaça é apenas farinha (o que não é verdade, também há água, fermento, sal, etc.), uma tonelada chegaria para fabricar 25 mil carcaças de 40 gramas.
A 500 euros por tonelada, isto daria um conteúdo de 2 cêntimos por carcaça. Torna-se, pois, claríssimo que
a contribuição do preço da farinha no preço final do pão é actualmente bastante pequena e quase certamente inferior à contribuição do custo do trabalho. Mas, o mais engraçado (para quem não come pão) é que
o senhor Carlos Santos quer aumentar o preço do pão em 50% quando o preço da farinha apenas terá aumentado 43% quando estiver (ainda não está) nos 500 euros. É que, mesmo que o único custo do pão fosse a sua farinha, um aumento de 43% até chegava. Mas não, Carlos Santos quer 50%. Só se for para compensar os desperdícios. Ou para meter ao bolso.