Como o Óscar antevia
aqui, esta "onda de crimes" levou a uma "onda de disparates" por parte dos jornalistas, políticos e afins. A capa do DN de hoje referente a um texto de Ana Mafalda Inácio e Tiago Melo, apesar de tentar pôr alguma água na fervura, é disso um exemplo:
"
Onda de homicídios contraria queda de 30% no ano passado"
1.
É um absurdo chamar onda de homicídios a actos isolados e independentes, pura e simplesmente porque aconteceram todos em períodos curtos. Segundo a notícia nos últimos três anos o número de homicídios foi de 133,194 e 135, o que é baixo em termos europeus. Fazendo uma pequena simulação onde assumo que a criminalidade é constante ao longo dos anos, conclui-se que em 71% dos anos há períodos de pelo menos 5 dias consecutivos com homicídios, e em 36% dos anos períodos com pelo menos 6 dias consecutivos com homicídios. Ou seja estes picos são mais que banais, não fazendo sentido chamar-lhe "onda".
2.
Sendo altamente prováveis, não contrariam absolutamente nada, como o título faz crer,
porque não indicam de modo nenhum um aumento do nível de crime. Mais, é também altamente provável que um ano tenha mais dias com homicídios consecutivos do que outro ano, e mesmo assim ser mais seguro (ter muito menos homicídios ao fim do ano).
3.
A queda de 30% nem sequer pode ser "contrariada" porque o número de homicídios não é decretado por lei,
é sim um processo aleatório. Logo é normal que varie bastante de ano para ano (como os números o mostram), não fazendo por isso sentido atribuir alguma importância a estas variações anuais.
Nota da simulação: Processo de Poisson para cada dia do ano, de modo a que a média anual seja 154. Poisson supõe de facto independência quando na realidade há alguma correlação entre dias consecutivos (homicídios múltiplos ou viganças, por exemplo). Além de complicar as contas, incluir esta correlação só aumentaria ainda mais a probabilidade de haver "ondas de homícios".
De Ricardo S a 6 de Março de 2008 às 00:40
No sábado, o cabeçalho do DN era algo deste género: "confiança dos portugueses mais baixa de SEMPRE" (minhas capitais).
De sempre? D. Afonso Henriques registou a confiança dos tugas enquanto corria com os mouros? Fez sondagens e inquéritos?
Aliás, duvido que a confiança dos portugueses na Idade Média tenha sido mais elevada...
Depois, claro, lá vinha o subtítulo a desmentir o título: "desde que o INE existe (1986) é o nível mais beixo".
Ahhhh, afinal é apenas desde 1986, ou seja, os ultimos 22 anos. Daí para ser de todos os tempos...
Um amigo meu já lhe chama o efeito João Marcelino. O efeito que teve no Correio da Manhã, levou-o agora para o DN. O sensacionalismo parece estar no sangue...
Cumprimentos.
É exactamente essa a questão que levanto quando oiço um "nunca"... A criminalidade e o desemprego eram maiores em 1143?
Quanto ao DN, não há dúvida. As notícias da velhota que foi roubada na fila do supermercado abundam agora pelas páginas do DN, e a alteração "coincidiu" com essa alteração na direcção.
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