Notícia de 25 de Abril no Público a propósito da nova possibilidade de esticar os empréstimos para habitação por 50 anos. Para lá de um português sofrível ("Governo aceita que novo bonificado prejudica famílias" aceita que penaliza? e "Aumento do prazo implica diminuição ou mesmo saída do regime".. diminuição do quê?), esta notícia mostra uma deontologia jornalística reprovável: as acusações são repetidas de modo simplistas inúmeras vezes (na capa, contra-capa e no interior), antes de o leitor ser esclarecido sobre os factos que estão por detrás delas.
Mentira 1: Novo regime penaliza as famílias Apesar de repetida 3 vezes na capa, uma vez na contra-capa e 2 no interior (quando se repete tanta vez a mesma frase, fica logo à vista a fiabilidade de tal afirmação), é um absurdo dizer que as famílias são penalizadas. As possibilidades antigas mantêm-se e há a introdução de uma nova. Se as hipóteses de escolha aumentam, como é que há penalização? A Rosa Soares que vá tentar convencer um miúdo que escolher entre bolo de chocolate e pudim, é pior que escolher entre bolo de chocolate, pudim e leite creme e depois conversamos.
Mentira 2: Aumenta pagamento de juros A ignorância que a Rosa mostra dos conceitos de contabilidade mais básicos até daria para rir, se não fosse triste. Qualquer pessoa que ligue para a Cofidis, sabe que pagar "mais devagar" implica pagar mais no total. Dito de outro modo, é óbvio para todos (menos para a Rosa) que devolver a verba de um empréstimo passado um mês ou 10 anos não pode ser a mesma coisa em termos de pagamento de juros, tal como deixar dinheiro numa conta a prazo por 1 ou por 10 anos tem rendimentos diferentes. Confundir isto com aumento dos juros, ou é burrice ou uma aldrabice maldosa.
Mentira 3: Há redução da comparticipação por parte do Estado
Esta também é repetida 5 vezes, inclusive com uma insinuação barata em letras gordas que diz "
Estado poupa", antes do esclarecimento do que está por detrás. Embora o texto seja confuso (ou talvez me faltem capacidades de o perceber), há uma afirmação do ministro que não é desmentida: o novo regime é financeiramente neutral para o Estado! Ou seja como o empréstimo demora mais anos, o Estado passa a pagar o mesmo mas durante um período maior. Se o Estado pagasse o mesmo durante mais tempo, a Rosa talvez lá dissesse que a comparticipação se manteria, mas até um miúdo sabe que 10x30 é menos de 10x50.
Há um afirmação da DECO que é contudo verdadeira: por esticar a comparticipação por mais anos, as comparticipações a fazer no imediato pelo Estado passam a ser menores - o que até alivia as contas, mas apenas momentaneamente. Confundir isto com poupança ou é burrice ou aldrabice.
Mentira 4: O Estado reconhece que penaliza A Rosa bem pode repetir isto várias vezes, que um esclarecimento por parte do Estado sobre declarações anteriores - que coincide com o que a DECO chamou "o pior cenário" - não o torna num reconhecimento do que quer que seja. Sublinho: não há uma única citação do Governo onde se reconheça uma "penalização", apenas uma coincidência entre críticas da DECO e os esclarecimentos. E quem não se ficar pelo título na capa "
reconhecido que novo regime penaliza famílias", percebe que é este o caso. Por afirmações suas na boca dos outros é vergonhoso.