Segunda-feira, 9 de Junho de 2008
Público de Sábado
Na capa: "Directora que criticou ASAE foi afastada do cargo"
Título interior "Oposição considera que directora do Norte foi afastada por denunciar excessos", ou seja passou de verdade a "consideração" da oposição.
No texto ficamos a saber que a directora não ganhou o concurso público para o cargo em causa. A Natália Faria deveria saber que "ser afastado" e "perder um concurso público" são coisas muito diferentes.
Como sempre não estou a querer defender seja quem for, apenas estranho esta incapacidade de escrever a verdade na capa.
Situação semelhante (em termos de rigor jornalístico, eu não faço aqui juízos de valor), ocorreu há um ano quando Hugo Chavez decidiu não renovar a licença de transmissão de uma televisão privada, e os media portugueses nos "informavam" que o canal tinha sido proibido.
De Nuno a 9 de Junho de 2008 às 11:44
Miguel, é verdade que os jornais exageram e deturpam muitas vezes as informações. Esse caso da ASAE, a julgar pelo que diz porque não li, parece ser um exemplo. Mas cuidado com o exemplo do Chávez. Formalmente, ele não renovou a licença, é um facto. Mas porque é que não o fez?
O Kremlin também se escusa em argumentos formais, como manifestações não autorizadas (que são todas à excepção das suas próprias), para espancar e prender quem lhe apetece.
No caso do Chavez, parece que a interpretação "proibiu" foi generalizada na imprensa internacional. Os jornais devem ser rigorosos na informação que prestam mas também não são seres amorfos que reproduzem sem interpretar aquilo que vêem. Até porque, em geral, os regimes autoritários têm sempre "suporte legal" (ainda que forjado, é certo) para as suas acções.
De
GL a 9 de Junho de 2008 às 23:30
Mas parece-me que o referido canal de TV continuou a emitir por cabo. Portanto, não foi proibido. Dias atrás faziam passeatas em Caracas para que fosse permitido voltar a ser um canal aberto.
Ou seja, o termo "proibiu" foi mesmo uma falácia.
De Nuno a 10 de Junho de 2008 às 12:56
Caro GL, é verdade que o canal continuou a emitir por cabo. Só que passou para uma audiência bem menor e, por isso, deixou de ser a ameaça ao Estado e à estabilidade política e de incitar a revolta como Chávez alegou. Se tivesse no cabo o alcance que tinha nunca seria autorizado. Não tenha dúvidas.
Podemos discutir os termos usados para descrever a decisão, mas há coisas que não precisam de adjectivos. Todos as percebem. Não foi por acaso que houve protestos de praticamente toda a gente: parlamentos (do europeu, por exemplo), de jornalistas e associações de jornalistas, de governos, de organizações internacionais e até da Igreja Católica.
Como disse antes, os jornais não se devem limitar a dar notícias puras e duras mas também a enquadrá-las e a interpretá-las. Porque senão passam a ser apenas orgãos amorfos de informação oficial e institucional. Neste caso, a notícia pura e dura é que Chavez não renovou a licença da televisão. Sem dúvida. O enquadramento é que a proibiu porque não gostava daquilo que era emitido. Ambas foram dadas pelos jornais portugueses e a prova disso é que estamos aqui a falar delas.
Convém é não sermos demasiado "puristas" neste sentido para não corrermos o risco de cair na ingenuidade. A forma que defende para a notícia - falar apenas na não renovação - não só é ingénua como, coincidência ou não, é a mesma que Chávez teria escolhido.
De
GL a 11 de Junho de 2008 às 10:44
Percebo o seu ponto de vista, mas creio que dar a entender que ele "calou" ou "proibiu", continua a parecer excessivo e não corresponde à verdade.
Um canal a cabo pode continuar a influenciar. Reconheço que a democracia de Chávez é tendenciosa e frágil, mas não pode ser classificada de ditadura, por mais que isso nos custe. Nem de longe simpatizo com Chávez, mas reconheço que o mérito deste malabarismo político lá ele tem.
Nuno,
Concordo quando diz que os media devem enquadrar a notícia. Mas para enquadrar basta relata o contexto onde a notícia aconteceu. Qualquer leitor saberá perceber a realidade. Não é necessário compremetê-la, tirando o jornal as suas próprias conclusões e estampando-as na capa.
O caso do Chavéz pode servir como exemplo. Quantas pessoas que ouviram/leram a notícia imaginariam que o canal continuaria a ser transmitido no cabo? Acho que ambos concordamos que 99% está convencido que o canal foi mesmo fechado.
Cumps
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