O Título: (Jornal de Negócios, Terça feira 08 de Julho) :
Tráfego nas auto-estradas vai continuar negativo no segundo semestre de 2008
Agora a notícia (que baralha e torna a dar...) transcrita tal e qual:
Segundo a empresa, o tráfego médio nas auto-estradas da EP avançou 0,3% em Junho, quando em Maio tinha crescido 1,2% e, em Abril, 2,3%, em termos homólogos. No acumulado dos seis primeiros meses registou um crescimento de 4,9%, também nos mesmos termos…..
Embora no acumulado, os dados ainda sejam positivos, muitas auto-estradas apresentaram um crescimento negativo em Junho e a média é a mais baixa desde que a informação se encontra disponível e vai provavelmente ficar negativa nos próximos meses”….
Já aqui referimos, por mais de uma vez, que os títulos têm a dupla função de sintetizar a notícia e captar a atenção do leitor.
Pretender sintetizar uma realidade complexa numa única frase é um problema insolúvel. Logo, esquecida a primeira função, o jornalista deita mão à segunda: agarrar o leitor, através de um título sensacionalista.
E, se para um ser normal, o mundo não é “a preto e branco”, pois até os daltónicos são capazes de identificar todos os graus intermédios de cinzento, um jornalista só conhece uma cor apelativa: o preto.
Como a maioria dos consumidores de notícias não se dão ao trabalho de descodificar os títulos, é o preto que permanece. E podemo-nos legitimamente interrogar sobre a qualidade da democracia quando grande parte dos cidadãos percepciona a realidade de forma distorcida.
Nota:
A frase “Viciados no zapping não temos tempo para dar ouvidos ao sábio” é de André Glucksman no livro “O Maio de68 explicado a Nicolas Sarkozy”