Lemos a capa do DN de hoje e parece que estamos a ouvir o Sr. Júlio da taberna a resmungar: "O pior Agosto de sempre no turismo português". No título interior, desaparece o "português". E quando acabamos de ler o texto, percebemos que afinal era basicamente só ao Algarve que se referiam, com um remate final do género "ah e tal, e no resto do país a situação foi semelhante", para aligeirar a coisa. Mas, adiante, que nem são as considerações geográficas que me fazem escrever.
Por uma simples questão de rigor, há palavras que deviam ser excluídas do léxico jornalístico. Uma delas é a palavra "sempre". Porque "sempre" é, por definição, um conceito temporalmente indefinido, o que não combina bem com rigor. O que é que a Leonor Matias quer dizer com "sempre"? Desde o ano passado? Nos últimos dez anos? Desde o 25 de Abril 1974? Desde 1143? No texto, apenas se diz que "ocupação hoteleira (...) baixou face face a igual mês de 2007". Ah, talvez o "sempre" signifique "desde o ano passado"...
E o "pior", já agora, refere-se a quê? Número de turistas mais baixo de sempre? Será a "ocupação hoteleira" mais baixa de sempre? (E o que raio é isto? Será taxa de ocupação hoteleira? Será número de turistas que ocupam as instalações hoteleiras?) Ou será antes o volume de negócios mais baixo de sempre? Não sabemos...
O que sabemos é que, no Algarve, e comparando com Agosto de 2007, a "ocupação hoteleira" (seja lá o que isto for) desceu 3%. E dizem-nos também que foi a primeira queda desde... não dizem quando, mas imagino que seja "sempre". E ficamos ainda a saber que o volume de negócios caiu 2% em comparação com... ops, também não dizem, se calhar com o mês anterior.
Mas, olhemos bem para os 2 e 3% de que nos falam e façamos um esforço para perceber se este pode ter sido o "pior" ano de "sempre", tendo em conta, já agora, que se trata da "primeira queda". Até podemos definir "sempre" como "nos últimos vinte anos", para não batermos mais no ceguinho. Já terão percebido que para este ano ser "pior" que o ano de 1988, a taxa média de crescimento anual da ocupação hoteleira (ou do volume de negócios, ou do que quer que seja) teria de andar à volta de 0.16%, no máximo! Agora imaginem para onde descerá esta taxa se alargarmos a definição de "sempre" para os últimos trinta anos. E, por fim, imaginem como seria o Algarve se isto fosse verdade.
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