Hoje em letras garrafais na capa do DN: "Aprovação de remédios demora entre um e três anos".
Vejamos:
1. O DN faz valer-se da medida estatística de dispersão intervalo de variação -- diferença entre o valor máximo e o valor mínimo observados -- para sugerir, com motivação sensacionalista, uma ordem de grandeza que (1) nem sequer é rigorosa, e, portanto, é enganadora, e que (2) pode ser totalmente irrelevante.
2. O intervalo de variação, de 1 a 3 anos, citado na capa não é rigoroso. Conforme se pode ler na notícia, "Em Portugal a introdução de medicamentos inovadores para o cancro pode demorar entre 235 dias e três anos, em casos extremos."
Ora, 235 dias correspondem a cerca de 8 meses, ou seja, dois terços de um ano. Não cabia na capa "Aprovação de remédios demora menos de um ano a três anos"? Se calhar não. E soava mal, não era?
3. Mas o mais importante é que a 1ª página do jornal, assim como toda a notícia, podem valer absolutamente nada. E por três razões:
3.1. Para perceber a caracterização da distribuição do tempo de aprovação de remédios é necessário perguntar, nomeadamente, sobre (1) onde "cai" a média do tempo de aprovação (e/ou sobre outra qualquer medida de localização, já que a média é fortemente afectada por extremos) e (2) qual o desvio médio dos tempos de aprovação em relação a essa média (o desvio padrão). Pode acontecer que no estudo citado pela notícia todos os medicamentos, menos um, levem 235 dias a ser aprovados. E esse outro leve 3 anos. A notícia é verdadeira. Mas interessa? Não.
3.2. Afinal, o estudo em que se baseia a notícia, "compara o panorama no tratamento do cancro em 20 países europeus". No entanto, a capa, assim como o título da notícia no interior do jornal, sugerem que o intervalo de variação (impreciso e potencialmente irrelevante) se aplica a todos os medicamentos em Portugal.
Nota: Que me perdoem os visitantes do A Pente Fino, mas para que fique claro, acaso haja dúvidas (porque pode haver quem as tenha), aqui ficam as razões subjacentes a este post (porventura extensíveis a qualquer post):
Felizmente para todos nós e para uma sociedade que se quer democrática e moderna, os erros, o sensacionalismo, e as motivações obscuras, são a excepção e não a regra, entre o todo do conteúdo que os media – ou quaisquer outros agentes sociais – produzem e da informação que transmitem.
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