Sexta-feira, 7 de Novembro de 2008

Uma notícia para esquecer...

Nem sei por onde pegar nesta notícia do Expresso (assinada pela Lusa). A informação é tão contraditória que se torna difícil escolher uma base de análise minimamente sólida. Vou, portanto, partir do princípio que esta passagem está correcta: "Os dados revelam que actualmente cerca de 11% dos médicos são fumadores, 40% abandonaram o hábito e quase 49% são não fumadores". A soma dá 100%, portanto ao menos isto deve estar certo...

 

Agora vejamos:

 

1. Título: "Larga maioria dos médicos portugueses deixou de fumar". Hã?! 40% é maioria? E ainda por cima larga? Ou queriam antes dizer que "a larga maioria dos médicos portugueses (89%) actualmente não fuma"?

 

2. Subtítulo: "O estudo (...) concluiu que cerca de 50% dos mil médicos questionados fumavam e destes mais de 40% abandonaram o hábito". Hã?! Dos 50% dos mil médicos que fumavam mais de 40% deixou de fumar? Então, mas 50% dos mil são 500 e 40% destes são 200. E 200 em mil dá 20%. Ainda estamos mais longe da maioria... Não seria antes "40% do total de mil médicos deixaram de fumar"? Ou, equivalentemente, "80% dos que fumavam deixaram de fumar"?

 

3. Texto: "A taxa de abandono do hábito de fumar é superior no caso dos homens, sendo que dos 40% (homens e mulheres) que deixaram de fumar, 24,46% são homens e 15,6% são mulheres. Ou seja, há mais fumadores masculinos do que femininos, mas, adquirido o hábito, as mulheres têm mais dificuldade em deixar de fumar".

 

3.1. Se 24.46% são homens e 15.6% são mulheres, o que são os restantes 60%? Não quereria este jornalista dizer: "24.46% do total de médicos são homens ex-fumadores e 15.6% do total de médicos são mulheres ex-fumadoras"? Ou então "dos 40% que deixaram de fumar 61% são homens e 39% são mulheres"?

 

3.2. Obviamente, a segunda frase não é um implicação da primeira, como o jornalista nos quer fazer crer. Se a amostra tiver 900 médicos (metade dos quais fumam ou já fumaram) e apenas 100 médicas (metade das quais fumam ou já fumaram), e com uma taxa de abandono igual entre eles (e igual a 80%), teríamos 360 médicos ex-fumadores (90%) e apenas 40 médicas ex-fumadoras (10%). Posso daqui concluir que a taxa de abandono é maior para os homens? Claro que não, eu assumi que era igual! (Nota: Não estou a contestar a conclusão do estudo de que a taxa de abandono é maior nos homens, só estou a querer dizer isso não é uma implicação dos dados que nos são fornecidos no texto.)

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publicado por Pedro Bom às 15:03
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De Zé Manel a 7 de Novembro de 2008 às 16:48
Apesar de já ser leitor do V. blog à algum tempo, mais concretamente (desde que os ouvi na Antena 1), é a primeira vez me atrevo a comentar.
Sem mais delongas, apresento os meus parabéns pelos "artigos" apresentados, considerando que estes são uma mais-valia para o Jornalismo, na minha opinião muito fraco, em Portugal.

Cumprimentos.
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