Já sabemos (pelo próprio) que não é o caso de Rudolfo Rebêlo, mas a confusão continua a aparecer nos seus textos... No de hoje, por exemplo, temos esta passagem:
"Mas sabe-se que [os spreads praticados pela banca] variam entre os dois e os três pontos percentuais."
Ora, o spread de que fala está expresso em percentagem do montante de empréstimo. Portanto, o correcto seria dizer por cento em vez de "pontos percentuais".
Sem dúvida que aumentar os salários em alturas de crise é bem mais complicado, mas conseguir escrever este artigo sem, em momento algum, deixar escapar a ideia que, devido à menor taxa de inflação, não são necessários aumentos nominais tão altos como no ano passado para que os salários reais ainda assim aumentem, é perceber muito pouco do que se trata.
Fala-se de precipitação e logo alguém do DN se precipita a escrever títulos precipitados: "Este Janeiro foi o mais chuvoso dos últimos 30 anos", lê-se na edição de hoje. Num país de secas em tempos de secas, não há leitor que fique indiferente a um título destes. Em que se baseiam as jornalistas Diana Mendes e Natacha Cardoso para escrever tal coisa? Eis o que encontrei:
1. "(...) o primeiro mês do ano registou chuva intensa, batendo a média das três últimas décadas"
2. "Choveu mais este Janeiro do que no mesmo mês nos últimos 30 anos, em termos médios, disse ontem ao DN fonte do Instituto de Meteorologia (IM)".
3. Citando alguém do Instituto de Meteorologia: "o valor de Janeiro excede claramente os valores normais (...)"; ao que as jornalistas acrescentam: "(...) medidos através de uma média dos vários anos".
4. "Os registos da chuva nas 24 estações meteorológicas do IM (...) ultrapassaram a média".
Será precipitação minha ou a comparação está a ser feita unicamente em relação à média dos últimos trinta anos? É que, se for este o caso, estaremos em presença de um caso muito grave de falta de conceitos básicos, em que as jornalistas não percebem a diferença entre "superior à média" e "superior a todos". Se não for este o caso e se for mesmo verdade que Janeiro deste ano foi o mais chuvoso dos últimos 30 anos, então o mínimo que se exige é que as jornalistas saibam explicá-lo decentemente no corpo da notícia e, sobretudo, saibam escolher uma afirmação do Instituto de Meteorologia que adequadamente o sustente.
Adenda (graças ao leitor Filipe Moura): Parece que não foi precipitação minha. De acordo com o Instituto de Meteorologia, Janeiro de 2009 não foi sequer o mais chuvoso deste século, quanto mais dos últimos 30 anos... Mais, fica até "pouco acima do valor da média climatológica de 1971-2000"!
No DN de hoje: "Israel vinga em força novo atentado do Hamas". Ora, como se lê no corpo da notícia, o atentado não foi perpetrado pelo Hamas mas pela Jihad Internacional, que são organizações distintas:
"O ataque, junto do posto fronteiriço de Kissufim, foi reivindicado pela Jihad Internacional, um grupo com ligações à Al-Qaeda. [...] De acordo com o jornal israelita Yediot Aharonot, o exército acredita que, de facto, não tenha sido gente do Hamas quem perpetrou a emboscada junto da fronteira mas as mesmas fontes consideram que a operação não teria acontecido se não tivesse recebido a cooperação e luz verde do movimento integrista palestiniano."
Ou seja, de acordo com jornal israelita, o exército israelita acredita que o Hamas tenha sido conivente no ataque. Ora, será isto compatível com o título da notícia?
No DN de ontem, Rudolfo Rebêlo assina mais um artigo merecedor de destaque nesta antologia do disparate jornalístico.
1. A habitual confusão entre stocks e fluxos: "Agora, com a crise, o desequilíbrio das contas passa para os 3,9% da riqueza." O que o Rudolfo queria dizer é que o défice orçamental passa para os 3.9% do PIB. PIB e riqueza não são a mesma coisa. O primeiro é um fluxo, o segundo é um stock.
2. A habitual confusão entre pontos percentuais e percentagens, ao estilo do que foi escrito aqui: "Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, afirma que as medidas anti-crise custam 0,8 pontos percentuais do PIB." Não, não custam. Custam sim 0,8 por cento do PIB. O Rudolfo, que se vangloriava de não entrar nestas confusões entre percentagens e pontos percentuais, fica especialmente mal nesta fotografia.
3. A birra do Rudolfo. Há duas semanas, dizia-nos que o número de novos desempregados (90 mil) seria igual à destruição de empregos (50 mil) mais o número de pessoas que entravam no mercado de trabalho (40 mil) (ver aqui). Perante o nosso protesto de que se tinha esquecido de subtrair quem saía do mercado de trabalho, o Rudolfo riposta em comentário irritado que os 40 mil se tratava de um "saldo" e que estava em "defeito (e muito)". O leitor comum interroga-se então: se os 40 mil são um saldo (entradas menos saídas), porque razão os definiu o Rudolfo como "(jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho"? Isto soa a entrada, não soa lá muito a saída. Se o Rudolfo sabe que isto é um saldo porque é que não o diz claramente, em vez de inventar esta história de jovens-não-sei-das-quantas? Será que não percebe que está a induzir as pessoas em erro? E, já agora, se está em "defeito (e muito)", porque é que não dá o número correcto, em vez de insinuar que está propositadamente a divulgar um número exageradamente baixo?
Mas o mais grave de tudo isto é que o Rudolfo, na edição de ontem, decide insistir: "Isto significa que pelo menos 36 mil pessoas saem do mercado de emprego. A estes "números" haverá que somar pelo menos 40 mil pessoas que todos os anos tentam entrar no mercado de trabalho". Desta vez, com o verbo "entrar" bem evidenciado! Será que entrar inclui sair? Ou os 40 mil afinal não são líquidos, como o Rudolfo tinha dito? Caro Rudolfo, convém que se decida.
4. Finalmente, um novo termo económico: "há 36 mil pessoas a sair do mercado de emprego" Mercado de emprego?! E o mercado de desemprego, também existe? Ou será que o Rudolfo queria dizer mercado de trabalho? Ah, mas isso não pode, porque parte das pessoas que perdem o emprego continuam no mercado de trabalho à procura de outro, como o Rudolfo certamente sabe. Desisto, não sei o que é...
Número de mortos aumentou depois da instalação dos radares dizia ontem Licínio Lima no DN. Um subtítulo insistia Sistema foi instalado em 2007 e registou mais dois mortos do que em 2006.
Eu estranhei os dados, porque tinha lido o contrário recentemente. Rapidamente descobri outras notícias e até um documento da Câmara que diz exactamente o oposto, menos dois mortos em 2007.
E assim se cria um mito "urbano".
Licínio, verifique os factos antes de escrever, ok?
Na capa de hoje do DN, em grande destaque: "Banco de Portugal [BP] prevê 90 mil novos desempregados". No título da notícia: "Constâncio admite 90 mil novos desempregados em 2009". Embora o Rudolfo Rebêlo atribua este número ao BP, parece ter sido ele mesmo a calculá-lo. E fez o seguinte:
1. O BP aponta para um decréscimo no emprego de 1% em 2009. Como a população activa portuguesa é composta por cerca de 5 milhões de pessoas, isto dá um total de 50 mil novos desempregados.
2. O Rudolfo acrescenta que "a este número haverá que juntar mais 40 mil pessoas (jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho".
3. Ora, 50 mil mais 40 mil dá 90 mil. Aí está: 90 mil novos desempregados.
E eis que perguntamos todos: então e as pessoas que saem todos os anos do mercado de trabalho, não contam? É que o próprio BP fala em "estabilização da taxa de participação", pelo que se entram muitos, muitos (mas não necessariamente no mesmo número) têm de sair.
O DN adora fazer capas onde aparecem notícias sobre o consumo. E, quase invariavelmente, sai asneira. Na de hoje, lê-se o seguinte: "Portugueses compram presentes mais baratos". Os dados referem-se a pagamentos por multibanco, são da Sibs, e são fornecidos logo no início do texto: "os portugueses estão a aumentar ligeiramente o número de operações de compra, mas a despesa é igual". Ou seja, em relação ao mesmo período do ano passado, este ano há mais pagamentos por multibanco, embora o montante total transaccionado seja sensivelmente o mesmo.
O que é que conclui a Paula Cordeiro? Primeiro, que "a crise está a travar os ímpetos consumistas dos portugueses", desmentindo-se a ela própria logo a seguir quando escreve "os portugueses estão a comprar o mesmo". E, segundo, que os portugueses estão a "gastar menos em cada aquisição" (ou, como na capa, "portugueses compram presentes mais baratos").
A primeira contradição é desfeita pela própria jornalista, não necessita de mais comentários. A segunda conclusão não é necessariamente verdade. Por várias razões. Primeiro, nem tudo o que é comprado por recurso ao multibanco é "presente". Portanto, querer fazer das compras da época natalícia compras de natal é, só por si, falacioso. Segundo, o número de pagamentos não é igual ao número de "aquisições" nem ao número de presentes. Como é que a Paula Cordeiro sabe quantos produtos estão a ser comprados em cada pagamento? Se forem comprados menos produtos por cada pagamento, então podem estar a ser comprados produtos mais caros com a mesma despesa total (ou menor). Terceiro, os portugueses podem perfeitamente estar a usar o multibanco mais frequentemente, gastando a mesma despesa sem necessariamente comprar "presentes" mais baratos.
Portanto, aquela conclusão não passa de pura especulação. E pura especulação, quando revestida de ar de verdade irrefutável, não devia aparecer em capas de jornais.
O jornal é o DN e o jornalista é o incontornável Rudolfo Rebêlo. Eis o que me veio à rede no artigo de hoje:
1. "Pelo terceiro ano consecutivo os portugueses perderam poder de compra em 2007".
Custa assim tanto deixar claro que esta perda é relativa ao resto da União Europeia? Sobre isto, já tudo foi dito aqui.
2. "Portugal é um dos países da Europa mais caros para viver, ocupando o 18º lugar no ranking das nações com os preços mais elevados, entre uma lista de 37 países".
Primeiro, é dos mais caros, mas ocupa a 18ª posição em 37 países. É o que se chama um "pódio de 18 lugares"... Ainda por cima o nível de preços em Portugal até está bastante abaixo da média europeia. Segundo, porque é que o Rudolfo não comparou apenas com os países da zona euro, como fez com o "poder de compra"?! Nesse caso seria o 3º mais barato. Mais barato só mesmo Malta e Eslovénia.
3. "Há três anos que Portugal mantém o nível de preços da alimentação (e serviços) face à média da UE 27".
Ah, agora o Rudolfo já fala em termos relativos! Está a melhorar, sem dúvida. Mas interrogamo-nos se o teria feito caso o nível de preços tivesse subido em relação à média europeia, como o não fez com o poder de compra. E, "alimentação"? Então e um pneu? E um sofá? E uns sapatos? Não são alimentos, não são serviços, são o quê?
4. "Ou seja, medido com base nos gastos efectuados pelas famílias em bens e serviços (consumo), o poder de compra é apenas 82% da média da União Europeia a 27".
Mas que sentido é que faz medir o "poder de compra" usando o consumo privado? Se um japonês me emprestar dinheiro para importar um carro do Japão, o meu consumo aumenta, mas quer isso dizer que tenho mais poder de compra? E se eu decidir não gastar parte do meu salário para emprestar a um mexicano, quer isso dizer que perdi poder de compra?
5. "Apesar de os preços nas lojas e nos serviços estarem 43% acima da média da União - o que significa uma carestia de cerca de 60% superior a Portugal -, o poder de compra dos dinamarqueses está 12% acima da média da UE 27".
Com que então, 60%... O Rudolfo pega nos níveis de preços dinamarquês (143) e português (84), tira a diferença e (sem dividir pelo nível de preços português) chama-lhe percentagem. Claro que a percentagem correcta é perto de 70%, não 60%. Mas o mais curioso é termos lido, há uns tempos, um comentário refilão do próprio Rudolfo a vangloriar-se de não padecer dessa maleita tão comum entre jornalistas que é não saber calcular percentagens. Cá temos a prova.
Além disso, como escrevi no ponto 4, os 12% de que nos fala referem-se ao diferencial relativo do consumo e, portanto, não fazem sentido enquanto diferença de poder de compra. Lá por os dinamarqueses pouparem uma grande parte do que produzem, isso não significa que perdem poder de compra.
6. "O poder de compra no Grão-Ducado do Luxemburgo estava (em 2007) cerca de 47% acima da média e, mesmo assim, estão mais "pobres"".
Pois claro, tinham um rendimento real 154% superior à média europeia em 2005, e 167% em 2006 e 2007, e o Rudolfo ainda nos quer convencer que ficaram mais pobres...
"No terceiro trimestre tivémos [sic Público] um crescimento negativo. É possível que no quarto trimestre [Portugal] também tenha um crescimento negativo" disse ontem Vítor Constâncio. Ou seja, há a possibilidade de as coisas ficarem na mesma (ou piorarem) em termos de crescimento. É impressionante como os pasquins gratuitos foram capazes de deturpar esta frase.
Recessão bate à porta, diz o Global em grande na capa.
Recessão à vista para Portugal, "informa" o Metro.
Recessão vai chegar no fim do ano, diz o Destak também em grande.
O Metro, apesar de ter o título menos aldrabado, consegue compensar a coisa com um subtítulo vergonhosamente enganador: Os dados económicos divulgados pelo INE indicam que não iremos escapar à tendência global.
O Público também fabricou uma notícia à volta desta frase de Constâncio. Depois de uma primeira notícia, onde se dizia que Vitor Constâncio tinha sublinhado que não havia "recessão técnica" (o que é óbvio e indiscutível), quando apareceu aquela frase, tivemos o Público a afirmar Vítor Constâncio admite, afinal, recessão técnica no final deste mês, insinuando que havia um recuo ou contradição, quando na realidade estavam em causa apenas duas coisas perfeitamente simples e compatíveis. Primeiro, houve um trimestre de crescimento negativo, e segundo, pode vir aí outro.
Por último, o incansável Rudolfo Rebêlo escreve no DN que Portugal já vive em recessão técnica, após o INE divulgar a quebra da economia no terceiro trimestre. Para este ano, o Banco de Portugal prevê um crescimento de 0,5% da economia, o que implica para o quarto trimestre um recuo de 0,3% em relação aos meses de Julho a Setembro. Ou seja, mistura-se dados reais com previsões, mistura-se dados de fontes diferentes, pega-se num 0,5% e sabe-se lá mais o quê para chegar a 0,3%...
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