Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2008
Dois erros num minuto, mesmo agora na TSF.
Não, o desemprego não desceu 0,4 porcento. Descer de 8,2% para 7,8% é uma variação de (7,8/8,2-1)*100=-4,9%. Desceu sim 0,4 pontos porcentuais.
E não, não faz sentido dizer que isto é normal por o desemprego descer sempre no último trimestre, porque esta variação é relativa ao último trimestre do ano anterior! (A afirmação errada era atribuida a Bagão Félix antes da divulgação dos números. Mas o mais provável era ele estar referir-se à variação em relação ao terceiro trimestre de 2007, aí sim haveria efeitos de sazonalidade, e a TSF associou-a à variação em relação ao último de 2006).
Sexta-feira, 8 de Fevereiro de 2008
Na capa do 24 Horas de hoje: Apreensões [de droga] caíram mais de 100 por cento. Ou seja por cada 100 quilos que foram apreendidos no passado, houve agora uma redução de mais de 100 quilos, ou seja presentemente a apreensão de droga é negativa. Isto é, a PJ anda por aí a distribuir droga no mercado.
Porque é que esta gente que percebe menos de matemática que o meu gato, insiste em usar números e percentagens?
Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008
O FED decidiu baixar a taxa de juro em "meio por cento", insiste o José Rodrigues dos Santos no Telejornal. Agradecíamos todos, eu que me começo a fartar de escrever posts sobre o assunto e vocês que mais fartos estarão de os ler, que alguém mais próximo fizesse o favor de dizer ao homem como é que isto deve ser dito. Senão, passamos a vida nisto...
Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008
O ministro das Finanças dizia hoje na TSF que queria reduzir o prazo médio de pagamento por parte do Estado aos fornecedores de 150 para 30 a 40 dias num prazo de 3 anos, e para tal seria necessária - segundo ele - uma redução de 15% a 25% por ano.
Ora três reduções consecutivas de 25% (já nem falo dos 15%) ao ano resultaria em:
150*(1-0,25)*(1-0,25)*(1-0,25)=63 dias!!
Provavelmente o que o ministro fez, foi notar que reduzir hoje 25% seria uma redução de 37,5 dias, e reduzir 3 vezes 37,5 dias resultaria numa redução de 112,5 dias, e assim passaríamos dos 150 para algo entre os 30 e os 40. Mas isto não é a mesma coisa que reduzir 3 vezes 25%. No segundo ano se reduzíssemos 25% de 112,5 dias estaríamos apenas a cortar 112,5*0,25=28 e não 37 dias!
A conta que o senhor ministro deveria ter feito é encontrar o x que faz com que isto seja possível:
150*(1-x)*(1-x)*(1-x)=40 dias, ou seja x=1-(40/150)^(1/3) o que dá 36% (onde ^(1/3) significa a raiz cúbica).
Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008
... vem o José Rodrigues dos Santos dizer disparate. Parece que o FED baixou de urgência a taxa de juro de referência em 0,75 por cento, segundo nos disse hoje o nosso José no Telejornal. Não, José, já é a
segunda vez que te digo que, nestes casos, é 0,75
pontos percentuais que tem de ser dito. Ou 75 pontos base, também serve. Mas nunca 0,75 por cento. Se assim fosse, a taxa de juro teria caído de 4,25% para apenas 4,21%, nem sequer teria dado para abrir o Telejornal de forma tão bombástica. Já era tempo de aprenderes.
Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2008
Alguém do Expresso escreveu na última página "Economia piora", e, por baixo, "A situação económica nacional voltou a agravar-se em Dezembro", e ainda, "O indicador coincidente do Banco Portugal está em queda desde Outubro". Só disparates. O que realmente está em queda desde Outubro é a
taxa de variação homóloga deste indicador, como consta do Quadro 5 do relatório de
Indicadores da Conjuntura do Banco de Portugal. Acontece que esta mesma taxa foi sempre positiva ao longo de 2007, Dezembro incluído, o que significa que o indicador coincidente da conjuntura económica do Banco de Portugal não está a diminuir, simplesmente aumentou menos, em termos homólogos, que no mês anterior. Portanto, Sr(a). Jornalista do Expresso que escreve estes disparates, se me está a ler, isto não significa que a "economia piorou", significa tão só que a actividade económica desacelerou. Será assim tão difícil de entender?
Nota: Um indignado leitor alerta para o facto de o indicador coincidente do Banco de Portugal ser por definição uma taxa de variação homóloga. Definir o indicador como um indíce (nível) ou como uma taxa de variação (como parece ser o caso) é completamente irrelevante. O que é relevante é que os números em questão (chamando-lhes indicador coincidente, ou, como eu, taxa de variação do indicador coincidente) representam variações percentuais homólogas. E, sendo positivos, não permitem concluir que a situação económica é pior (atenção: a questão do desemprego é de enorme importância mas não entra neste debate), por mais descontentes que estejamos com o rumo das coisas. Portanto, com o fraseado devidamente ajustado, a crítica ao artigo do Expresso mantem-se intacta.
Domingo, 13 de Janeiro de 2008
Em mais um texto no caderno de economia do Expresso de ontem, João Silvestre escreve sob o título "Paraísos de Investimento" o subtítulo "Quase 15% do investimento directo por empresas portuguesas no exterior vai para «Off-shores»". Logo a seguir, no texto: "mais de um sexto do investimento das empresas portuguesas no exterior foi para paraísos fiscais". Então mas como pode ser "quase 15%" e "mais de um sexto" simultaneamente? Pelas minhas contas, um sexto equivale a 16.(6)% e é, portanto, maior que 15%. Se tivesse dito "mais de um sétimo" até estaria certo, só que, por mais incrível que pareça, um sétimo é menor do que um sexto.
Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2007
No título: "Vagas para médico de família vão aumentar 5%, diz o ministro". No subtítulo: "...aumentarão dos actuais 25 para 30 por cento". Depois de ter visto José Sócrates dizer disparate semelhante, este não me espantaria. No entanto, acabei de ver a peça do Jornal da Tarde da RTP sobre o mesmo assunto e não ouvi do Ministro da Saúde a afirmação que lhe é atribuída no título. O disparate parece ser mesmo do(a) jornalista do Diário Digital.
Domingo, 16 de Dezembro de 2007
Leio aterrorizado na capa do Expresso de ontem: "Câmaras de vigilância cresceram 3000% em seis anos". Depois, no texto, o jornalista Filipe Santos Costa torna o valor ainda mais preciso: 3080%. E dão os números que servem de base a tal conclusão: parece que em 2000 eram 67 e em 2006 passaram para 2064. Clarifico: 67 e 2064 autorizações para instalação de câmaras, não câmaras propriamente ditas. As câmaras estarão certamente em número superior às autorizações, quer porque em Portugal gosta-se pouco de autorizações quer porque certamente já havia câmaras instaladas quando as autorizações de 2000 foram solicitadas.
Adiante, porque o que me faz escrever é antes a astronómica percentagem realçada na capa. Como já foi escrito neste blog, o uso da percentagem é descabido em situações em que o ponto de partida está próximo do zero. No dia em que o primeiro português comprou um automóvel, a percentagem de variação do número de automóveis comprados por portugueses foi infinita. Se de câmaras de vigilância falamos e se dizemos que passou de 67 para 2064, ir logo a seguir calcular a percentagem de variação só pode ter como objectivo encher a capa com números.
Mas, admitamos que é mesmo isso que queremos fazer: encher a capa com números. Ao menos façamo-lo bem feito. O jornalista do Expresso acha que a taxa de variação percentual entre 67 e 2064 se calcula dividindo o segundo pelo primeiro e multiplicando depois por 100: (2064/67)*100=3080%. Para sua conveniência, aqui deixo a fórmula geral de cálculo da taxa de crescimento percentual (tcp) de uma variável que assume o valor x em determinado momento no tempo e o valor y num momento posterior: tcp=[(y-x)/x]*100. Substituindo x por 67 e y por 2064 chega-se a 2980%. Penso ser suficientemente grande para encher a capa do Expresso, não era preciso aldrabar. Por favor, haja quem faça chegar isto ao Filipe Santos Costa.
Sexta-feira, 14 de Dezembro de 2007
Prejuízos dos hospitais públicos aumentaram 5000% no Diário Digital
Ena 5000%!!
Como já escrevi
aqui, não faz sentido usar percentagens nestas situações, porque depois temos valores disparatados como este sem sentido nenhum. Nem com o disparate à frente, o jornalista foi capaz de se aperceber dele. Se o prejuízo passasse de um cêntimo para 10 euros, seria um aumento de 100000%... mas seriam apenas 10 míseros euros...