Quinta-feira, 29 de Maio de 2008

Estimativas informais...

1. A principal notícia da capa do Público de ontem, bem como o habitual espaço de destaque (página 2 e 3) são afinal baseados em... "estimativas informais" do Público. Os títulos  contudo estão cheios de certezas.

Queda na procura de combustíveis trava aumento da receita do IVA, diz o título.

Efeito da subida dos preços contrariada pela redução do consumo de gasolina, reza o subtítulo. Só no texto da capa é que se lê "pode ter provocado".

  

No título e subtítulo interior a mesma certeza. Só no meio do texto e nas letrinhas pequeninas da legenda dos seis gráficos e duas tabelas é que ficamos a saber que estamos a falar de "estimativas informais". Dois terços dos dados nos gráficos e tabelas são números "estimados informalmente", sendo tratados tal e qual como os dados oficiais. (Lurdes Ferreira tem a humildade de reconhecer esta fragilidade... mas no meio do texto. O que se retêm é obviamente o título.)

 Eu até poderia estimar informalmente que o PIB vai descer ou crescer 10%, mas por alguma razão não o faço.

Isto não é jornalismo, é conversa de café.

 

2. Na página três lê-se nas letras gordas Famílias pobres são as que mais sofrem com a subida dos preços dos combustíveis. Ora quando se olha para o gráfico vê-se um escalão de rendimentos onde o impacto é maior do que no escalão mais pobre, e dois escalões empatados. Só há três escalões que se diferenciam dos restantes 7. O título é portanto enganador, bastando a letrinha D antes do artigo "as" para o tornar verdadeiro. Caiu provavelmente.

 

Quando verificamos o próprio gráfico (e o texto) percebemos que o título também é enganador quando fala em combustíveis, já que todos os dados estão relacionados com consumo de energia em geral (electricidade, gás). Claro que os preços da energia estão correlacionados com o preço do crude (e não com o dos combustíveis), mas se vamos por aqui, todos os produtos estarão correlacionados.

Não há portanto cuidado com o nível de agregação dos dados, porque mete transporte privado, transporte público, gás e electricidade tudo no mesmo saco. Cada categoria  de produtos tem obviamente aumentos diferentes e tem pesos diferentes em cada uma das classes de rendimento. A conclusão tirada é portanto muito abusiva. Até se pode dar o caso de os resultados se inverterem se retirarmos o gás e a electricidade!

 

 

 

Nota habitual: não estou a afirmar que as informações estão erradas, apenas que não há aqui nada que permita ao Público chegar a esta conclusão.

publicado por Miguel Carvalho às 11:37
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Sábado, 24 de Maio de 2008

Cavaco Silva super-homem

O presidente da Anarec Augusto Cymbron vem hoje dizer que os preços combustíveis estão altos devido às especulações nos mercados internacionais. Referindo-se a declarações da OPEP, diz que o mercado está maluco. Por isso apela a Cavaco Silva para intervir...

 

(Eu sou um bocadinho mais altruísta, peço ao Cavaco Silva para acabar com a fome em África, a SIDA e o cancro. Se não der esta semana, que fique para a próxima).

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publicado por Miguel Carvalho às 13:43
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Sexta-feira, 16 de Maio de 2008

Preço dos Combustíveis segundo Marco António

Ontem na Cadeira do Poder Marco António do PSD insistia, e bem, que era necessário converter os preços de dólares em euros para sabermos do que estamos a falar, tal como nós tantas vezes aqui escrevemos.

Dizia contudo que o preço do crude em 2000 era de 70€ por barril, e que hoje era de 78,5€. Eu não sei se Marco António agora usa forwards de e-mail, que andam para aí a circular, para basear as suas posições políticas mas na página do Banco Central Europeu, podemos ver que o preço médio do Brent em 2000 foi de 31,0€ (tendo alcançado um máximo de 37,7€ de preço mensal médio em Novembro) ou seja bem menos de metade!

 

 

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publicado por Miguel Carvalho às 15:16
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Terça-feira, 13 de Maio de 2008

"Nós fizemos as contas" diz ela

A propósito de uma subida de 3 cêntimos no preço da gasolina, uma jornalista dizia há pouco no Telejornal que "nós fizemos as contas".

Suspense....

"Encher um tanque com 50 litros vai custar mais 2 euros".

Eu não sei se a jornalista não sabe fazer 3 vezes 5, ou se estamos perante mais um dos diários casos de "arredondamentos à bruta para cima" para dar um toquezinho de sensacionalismo.

 

Nota: este é mais um caso em que o erro é insignificante, ninguém dá atenção aos 2 euros. Não estou a querer ser mesquinho, apenas questionar o que leva a jornalista a não dar o resultado certo que estava mesmo ali à mão.

publicado por Miguel Carvalho às 21:47
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Quinta-feira, 1 de Maio de 2008

Preços dos Combustíveis

O Público refere hoje na capa um comparação entre os preços dos combustíveis e o do petróleo Brent, onde é dito que os primeiros subiram menos que o segundo (em termos percentuais) desde o início do ano.

1. A comparação que é feita não faz qualquer sentido - e este é um erro que ultimamente tem enchido aqui o blog - porque o preço do Brent não é o único factor a determinar o preço dos combustíveis. Há os preços de transporte do petróleo, de refinação, da distribuição dos combustíveis, de funcionamento das bombas, de mão-de-obra, impostos não-proporcionais, etc.. etc.. etc.. Isto é, nem seria sequer de esperar que a variação do preço fosse a mesma.

2. A comparação que é feita não faz qualquer sentido porque o petróleo negociado hoje não é o combustível vendido amanhã. O preço negociado não são preços para entregas imediatas, há depois o transporte, há depois a refinação, há depois a distribuição. Não sei qual o tamanho exacto deste hiato temporal (alguns meses provavelmente), mas não será certamente zero. Isto é, deveria comparar-se os preços do combustível com o Brent de há uns meses atrás.

3. Por fim, um enorme disparate, que cheira a intenção política: "Consoante a perspectiva e os números usados, os portugueses têm e não têm razão de queixa, havendo apenas dois pontos sem discussão:(...) segundo, a carga fiscal, sobretudo com o aumento do IVA de 19 para 21 por cento, ajudou muito". Quando o aumento em causa é de 100% no gasóleo e 61% (desde 2000), insistir neste aumento do IVA (eu até me lembro de dois aumentos do IVA, mas a Lurdes Ferreira lá sabe porque será que só um é que conta) que levou a um aumento de 1,7% no preço ao consumidor, é ridículo.
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publicado por Miguel Carvalho às 17:14
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Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

Catorze subidas

Alguém me explica o que quer dizer esta coisa, e qual o seu interesse, dos combustíveis já terem "subido 14 vezes desde o início do ano"? Já ouvi/li isto nos media tanta vez nos últimos dias, mas algo me passa ao lado.

1. Os preços estão liberalizados. Cada revendedor mexe nos preços como quiser. Uns devem ter subido 40 vezes, outros devem ter subido 2. O 14 vem de onde?

2. O que é isto interessa? 50 subidas acumuladas podem ser muito menores que uma única subida. Contá-las só serve para sensacionalismo, para dar um número grande. (Eu acredito que o aumento do preço médio até tenha sido enorme, mas isto parece totalmente irrelevante para os jornalistas, que só falam no 14).
publicado por Miguel Carvalho às 13:01
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Sábado, 1 de Dezembro de 2007

Fisco perde milhões com os combustíveis

Tem sido martelada insistentemente a notícia que o fisco fica a perder milhões devido à diferença de preços ao consumidor nos combustíveis em comparação com a Espanha. Apesar de o estudo vir de uma das partes interessadas, não o vou comentar, porque não o conheço. Agora não é sério dizer que o Fisco perde X com os impostos altos, porque o fisco também fica a ganhar Y com esses mesmos impostos graças aos abastecimentos que se mantêm em Portugal.
Claro que é um desperdício enorme, quero apenas dizer que não se pode tomar aquele número como absoluto quando se fala em perdas para o fisco. Ou por outras palavras aquele valor não seria "recuperado" se os impostos fossem baixados.

Nota: não estou a defender a situação actual, apenas a notar uma incongruência
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publicado por Miguel Carvalho às 14:12
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