Houve uma desvalorização na bolsa, ou seja os preços a que eram trocado os títulos em bolsa foi menor ontem do que anteontem. Isto nada tem a ver com a entra ou saída de capitais na bolsa. Aliás é bem possível que haja entrada de capitais na bolsa e haja uma desvalorização ao mesmo tempo.
Explicando de modo a que entendam no Correio da Manhã:
No dia 1, as acções da empresa A valiam 5€, e as da B valiam 10€. O Joãozinho que tem acções da A, e o Pedrinho que tem acções da B, decidiram trocar uma pelas outras, pelo valor de 5€ as primeiras e 9€ pelas segundas. Não saiu um único euro da bolsa, mas houve uma desvalorização na bolsa.
Duas mulheres tentaram casar-se e isto foi-lhes negado. Depois de vários processos em tribunal, foi pedido que o Tribunal Constitucional declarasse a inconstitucionalidade da definição de casamento no código civil (que exige sexos diferentes). Este pedido em concreto foi rejeitado. Por outras palavras o TC disse que a exclusividade heterossexual do casamento é constitucional.
Todos os Lisboetas são Portugueses, mas isso não implica que quem não seja Lisboeta não possa ser Português! Os Portuenses também o são. E os habitantes de Olivença? Não sabemos, porque ninguém perguntou isso ao TC.
Ou seja, o casamento homossexual também pode ser constitucional. Nunca foi isso que esteve em causa.
O CM diz TC chumba casamento gay, o Público diz Tribunal Constitucional diz não ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Diário Económico diz Tribunal Constitucional chumba casamento entre homossexuais, etc. Tudo disparates.
Correio da Manhã de hoje, capa, letras gordas: "Portugal perde 49 milhões por dia", referindo-se ao défice externo que alegadamente bate recordes. Não contesto nem o número, nem o recorde (o que seria normal mesmo na ausência de um problema sério de défice externo, dado que se trata de valores nominais), nem menosprezo o problema do défice/dívida externa. Apenas objecto a escolha do verbo "perder", e faço-o porque induz em erro o leitor comum.
Ao ter um défice externo, Portugal está a gastar acima do seu rendimento e, portanto, a endividar-se perante o exterior. Está, por assim dizer, a obter um empréstimo do resto do mundo. Agora, porque é que este empréstimo significa uma "perda"? Aliás, se empréstimo implicasse automaticamente uma perda, porque razão é que as pessoas pediam empréstimos de livre vontade? Quando peço um empréstimo ao banco para compra de casa, estou a "perder" a casa (ou o seu valor)? Quanto muito, ganhei-a, com dinheiro emprestado. Claro que existe uma perda associada (ganho do banco): o juro que pagarei sobre o empréstimo. Mas, se eu pedir um empréstimo ao banco para financiar uma actividade produtiva (uma padaria, por exemplo) que me garanta um retorno, então o proveito possibilitado pelo empréstimo até pode ser superior ao custo do empréstimo (os juros). Portanto, empréstimo não é, por si só, perda nenhuma.
"Governo promete aumento de impostos" diz o Correio da Manhã em letras gigantes. A "conclusão" é baseada nas estimativas do peso da carga fiscal -que constam do PEC - que têm variações na ordem dos 0,1 e 0,2 pontos percentuais.
Primeiro de tudo é ridículo dar qualquer importância a variações deste tamanho, especialmente neste caso em que se trata de previsões. Segundo a notícia, a variação de 2007 para 2009 será de -1.5pp, o que mostra o quão insignificantes são aqueles valores.
Segundo, o CM "confunde" na capa - mas já não o faz no corpo do texto - carga fiscal com o nível dos impostos. Se eu este ano decidir comprar pastéis de camarão em vez de pastéis de vegetais, estou a pagar mais IVA (os primeiros têm um IVA maior), ou seja estou a aumentar a minha "carga fiscal". O que é que o Correio da Manhã vê ali? Uma alteração do consumo? Não, um aumento dos impostos!
Outro exemplo, se houver menos gente a fugir aos impostos, o CM não vê nisso uma redução da fuga ao fisco, mas um aumento de impostos!
Por último, um apontamento tragicómico. As receitas fiscais dos impostos directos (em percentagem do PIB) vão ter - segundo o texto - o seguinte comportamento: 9,8%, 9,6% e 9,7%. Há ali primeiro uma redução e depois um aumento, metade da redução (ambos totalmente insiginificantes como já disse). O que é que o parágrafo introdutório diz? "[O PEC...] deixa claro que os impostos directos e indirectos vão aumentar nos próximos dois anos." Não interessa o comportamento geral, interessa é que lá pelo meio haja uma subida.
Se as capas dos jornais dão pano para mangas, as do Correio da Manhã dão para muito mais. Hoje, "Banca lucra 3,3 milhões por dia".
Pois, eu tenho uma capa ainda melhor: "Banca lucra 38 euros por segundo"...
Isto é, não estou a dizer se a banca lucra muito ou pouco, e muito menos se isso é bom ou é mau. Só estou a dizer que não é necessariamente verdade que a banca lucre todos os dias 3,3 milhões de euros como faz crer a capa. O que o CM faz é simplesmente dividir os lucros anuais (já agora, de todos os bancos) pelo número de dias do ano.
Em letras garrafais na primeira página do Correio da Manhã de hoje - "Mais crimes e menos presos" -, assim como no resumo online, sugere-se pela n-ésima vez uma causalidade que, muito provavelmente, é inexistente: "ao longo dos últimos 12 meses a diminuição da população prisional foi muito superior: menos 2038 presos, a maior queda de sempre acompanhada por uma onda de criminalidade sem precedentes".
Lá porque dois fenómenos são contemporâneos, não quer dizer que um cause o outro. Mas já estou mesmo a ver os comentários: "então, eles deixam-nos sair em vez de os meterem lá dentro". Enquanto isso o Correio da Manhã vende.
No Correio da Manhã (CM) de hoje há um artigo enorme com um título que salta à vista até aos mais distraídos: "Padre expulsa mulher de igreja no Chiado". Os factos, segundo o próprio texto do CM, são, no entanto, outros: uma senhora entra numa igreja do Chiado, onde se celebrava uma missa, dirige-se a um corredor lateral, acende uma vela, e é, logo de seguida, interpelada por um segurança que a manda apagar. O padre terá então interrompido a sessão para pedir à senhora para apagar a vela e sair da igreja, ao que a senhora terá respondido "Não saio, já apaguei as velas como me foi pedido". E pronto, a missa continuou e a senhora assistiu até ao final.
Resta saber o que o CM entende por "expulsar". Com receio da minha própria ignorância, até fui à Priberam esclarecer o seu significado. Cinco hipóteses: (1) Expelir com força. Ora, a senhora nem sequer foi expelida, quanto mais com força. (2) Fazer sair por castigo. O padre até pode ver ali fundamento para castigo, mas sair, não saiu. (3) Escorraçar. Não me parece, desejada ou não, a senhora lá ficou. (4) Repelir. Idem. (5) Excluir com violência, eliminar. Violência verbal até pode ter havido, mas não exclusão nem eliminação.
Enfim.
Hoje reparo no título do Correio da Manhã:
"FACTURA ESCONDIDA NA CONTA DA LUZ:
Cada português paga 35 Euros por ano para subsidiar novas fontes energéticas".
E eu espanto-me com este espanto!
O Sr Jornalista acha que quando paga a bica no café está só a pagar o pózinho preto e a água quente? Então desiluda-se! Porque está a pagar também uma parcela da renda, dos salários, dos impostos, da segurança social, do sabonete para as mãos, da electricidade, do pano do pó e do detergente, da pintura da porta e da lâmpada que se fundiu ontem.
Na semana passada, alguém se indignou porque nas facturas da EDP havia uma parcela para uma provisão dos incobráveis. Mas sempre foi assim, em todo o lado! Em qualquer empresa bem gerida, todos os custos directos e indirectos têm que ser reflectidos na facturação que passam aos Clientes. O dinheiro não cai do céu e as empresas não jogam no euromilhões.
Se o sistema de custeio fosse diferente, e apenas reflectisse os custos directamente imputáveis a um produto - neste caso a electricidade produzida então teríamos que pagar uma parcela do desenvolvimento das turbinas e geradores, das patentes, parte dos estudos feitos por Galvani e Volt e sei lá mais o quê....
Já agora: nós pagamos electricidade, não pagamos "LUZ" !
Ainda não li o estudo do Banco de Portugal onde se estimam as perdas de reforma dos funcionários públicos devido à alteração do Estatuto de Aposentação, mas o Manuel Esteves deixa aqui bem claro que podem ir de 5 a 18%, dependendo de alguns factores. Mas o Correio da Manhã, esse, não está com meias-medidas. Em manchete, no devido formato garrafal, lê-se: "Função Pública perde 18% da reforma". Mais nada.
Consumo de pão baixa 20%, diz em letras gigantes a capa do Correio da Manhã. Qual será a fonte?
O INE? Não.
O Eurostat? Também não.
Um estudo de mercado? Menos ainda.
Umas das partes interessadas no negócio? Ah, pois claro. A saber a Associação do Comércio e Indústria da Panificação, que já nos tem habituado a vários disparates económicos nos últimos tempos. Mas para o Correio da Manhã isso pouco importa, quando o que está em causa é criar factos escandalosos para colocar na capa.
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