Quarta-feira, 5 de Março de 2008
Como o Óscar antevia
aqui, esta "onda de crimes" levou a uma "onda de disparates" por parte dos jornalistas, políticos e afins. A capa do DN de hoje referente a um texto de Ana Mafalda Inácio e Tiago Melo, apesar de tentar pôr alguma água na fervura, é disso um exemplo:
"
Onda de homicídios contraria queda de 30% no ano passado"
1.
É um absurdo chamar onda de homicídios a actos isolados e independentes, pura e simplesmente porque aconteceram todos em períodos curtos. Segundo a notícia nos últimos três anos o número de homicídios foi de 133,194 e 135, o que é baixo em termos europeus. Fazendo uma pequena simulação onde assumo que a criminalidade é constante ao longo dos anos, conclui-se que em 71% dos anos há períodos de pelo menos 5 dias consecutivos com homicídios, e em 36% dos anos períodos com pelo menos 6 dias consecutivos com homicídios. Ou seja estes picos são mais que banais, não fazendo sentido chamar-lhe "onda".
2.
Sendo altamente prováveis, não contrariam absolutamente nada, como o título faz crer,
porque não indicam de modo nenhum um aumento do nível de crime. Mais, é também altamente provável que um ano tenha mais dias com homicídios consecutivos do que outro ano, e mesmo assim ser mais seguro (ter muito menos homicídios ao fim do ano).
3.
A queda de 30% nem sequer pode ser "contrariada" porque o número de homicídios não é decretado por lei,
é sim um processo aleatório. Logo é normal que varie bastante de ano para ano (como os números o mostram), não fazendo por isso sentido atribuir alguma importância a estas variações anuais.
Nota da simulação: Processo de Poisson para cada dia do ano, de modo a que a média anual seja 154. Poisson supõe de facto independência quando na realidade há alguma correlação entre dias consecutivos (homicídios múltiplos ou viganças, por exemplo). Além de complicar as contas, incluir esta correlação só aumentaria ainda mais a probabilidade de haver "ondas de homícios".
Terça-feira, 8 de Janeiro de 2008
Luís Filipe Menezes questiona hoje como é possível que o governo tenha dinheiro para emprestar milhões a Berardo para comprar acções e não tenha dinheiro para aumentar as reformas. Para lá de algumas confusões com as instituições envolvidas, nunca pensei que um adulto tivesse esta dúvida, de distinguir entre o dar e o emprestar, de modo que vou tentar explicar como a uma criança de 3 anos.
Aos velhinhos está-se a dar para eles fazerem o que quiserem com o dinheiro.
Ao Berardo está-se a emprestar, o que quer dizer que ele depois tem que o dar de volta aos senhores. (Explicar o pagamento de juros em empréstimos fica para daqui uns anos)
Sábado, 6 de Outubro de 2007
O DN alerta-nos hoje na capa para o facto de o texto do novo tratado constitucional conter a palavra Europa 1100 e tal vezes, mas são apenas 4 as vezes que refere "Portugal". O que o DN quer dar a entender daqui é óbvio, e é mais uma prova da demagogia e do mau jornalismo praticado na Avenida da Liberdade.
Por curiosidade a Constituição Portuguesa refere ZERO VEZES a palavra "Lisboa" e ninguém dirá que Lisboa é prejudicada em relação a outras regiões.