Sobre o número de desempregados sem direito a subsídio de desemprego (por terem um curto período de descontos) o Público tem esta brilhante análise de João Ramos de Almeida:
Esta realidade dá, por outro lado, indícios da estrutura do mercado de trabalho. Tem direito a subsídio de desemprego quem tenha feito 450 dias de descontos nos últimos dois anos anteriores ao desemprego. Já para receber o subsídio social de desemprego é obrigatório ter feito mais de 180 dias de descontos.
Se o desemprego começou a afectar cada vez mais trabalhadores sem direito a subsídio de desemprego ou mesmo a subsídio social é porque parte considerável do mercado de trabalho não possui esses períodos de descontos. Seja porque se torna cada vez mais difícil encontrar empregos com prazos prolongados de desconto e os contratos a prazo não permitem aceder ao subsídio; ou porque formalmente não têm qualquer tipo de contrato, como é o caso dos "falsos recibos verdes".
Ponham-se na cabeça de um patrão que tem que despedir gente durante um mau período. Despedem quem tem contrato sem termo ou quem tem contrato a prazo/recibos verdes? Obviamente a segunda categoria, porque é mais fácil despedir. Logo num momento de crise é de esperar que este tipo de trabalhadores (os que depois podem não receber subsídio) sejam mais despedidos que os outros. Logo haverá mais deles à procura de desemprego.
Por isso, para ter este resultado não é minimamente necessário haver muita gente com ligações precárias ao contrário do que o jornalista nos quer fazer crer. Em vez de verificar os dados o João Ramos de Almeida tira umas conclusões ao estilo conversa de café.
E agora toca de mandar umas postas de pescada sobre a conclusão infundada. Se há muita gente com contratos precários, é porque é difícil encontrar dos outros. Conclusão paralela, mas igualmente errada pelas mesmas razões de cima.
E mais outra! Outra hipótese de haver gente sem subsídio é devido aos falsos recibos verdes. E os verdadeiros recibos verdes? Como é que o João Ramos de Almeida sabe se os que procuram emprego vêm de uns ou de outros?
Como sempre eu também não verifiquei os dados, é até possível que as três afirmações (sem encadeamento lógico) estão correctas. Mas não há ali nada que as legitime.
Sabe o que significa Número de desempregados cresceu 28 por cento em Junho lá para os lados do Público? Pensava eu que "em Julho" quereria dizer "no mês de Julho", "ao longo de Julho", "durante Julho", que ingenuidade.
É que segundo os dados do IEFP (a suposta fonte da notícia) o aumento ao do número de desempregados ao longo de Julho foi de 0,1%. Mas de 0,1% para 28% ainda vai uma grande diferença... acho eu.
Portugal tem a sexta taxa de desemprego mais elevada da OCDE diz o Público. O facto de faltarem estatísticas de 8 países, e de a França ter o mesmo valor que Portugal, não parece sensibilizar o Público.
Por outro palavras este título está tão perto da realidade como estaria o seguinte "Portugal tem a 15ª taxa de desemprego mais elevada da OCDE".
Número de desempregados inscritos nos centros de emprego disparou 27,3 por cento em Abril diz o Público.
Não é que os números do desemprego estejam bons, mas 27% num mês seria impressionante. Afinal, em Abril disparou 1,5% segundo a mesma notícia. Ao longo de 12 meses aumentou sim 27%.
A comparação com o mês homólogo está correctíssima, comparar com o Março não faria muito sentido, especialmente neste caso porque os números do desemprego normalmente até melhoram de Março para Abril (o que não aconteceu). O problema é escrever-se "disparou (...) em Abril", induzindo os leitores em erro.
Não se deixe enganar quem ler a capa do DN de hoje, onde se diz que os "subsídios de desemprego aumentaram 110%". Não fique a pensar-se que o números de desempregados a receber subsídio de desemprego aumentou para mais do dobro, como o título enganosamente sugere. O que, segundo o texto interior, parece ser verdade é que o número de novas atribuições de subsídio de desemprego (mas nem é claro no texto se este número é líquido, ou seja, se exclui pessoas que deixaram de o receber no mesmo período) foi mais do dobro do que o número de novas atribuições em Março do ano passado (embora este número não seja revelado).
É um detalhe que faz toda a diferença, pois distingue o stock de desempregados com subsídio de desemprego do fluxo de novos desempregados que passam também a receber subsídio de desemprego. Seria até possível que o desemprego tivesse diminuído (embora se saiba que, infelizmente, não terá sido o caso). Exemplo: se havia 100 desempregados com subsídio de desemprego em 1 de Março de 2008 e uma pessoa ficou desempregada com subsídio ao longo desse mês, em 1 de Abril de 2008 havia 101 desempregados a receber subsídio. Quem ler a capa do DN de hoje, ficaria a pensar que havia, em 1 de Abril deste ano, mais de 200 desempregados com subsídio. Mas o que o DN quer dizer é que, em Março deste ano, 2 (em vez de 1) novas pessoas (fluxo) ficaram desempregadas com subsídio (o que poderia resultar de uma subida do stock de desempregados de 90 para 92, por exemplo).
Este disparate já se tornou um clássico, especialmente devido aos mal-afamados 150 mil empregos. Com especial dedicação para a Marina Pimentel, cá fica mais um exemplo:
Há 100 trabalhadores, apenas 85 têm emprego e 15 não. Taxa de emprego 85%, de desemprego 15%. No ano seguinte ninguém se reformou, mas há novos trabalhadores, mais 10 digamos. Há agora 94 com e 16 sem emprego. Taxa de emprego 85,5% e 14,5% de desemprego.
Primeiro conclusão (possivelmente surpreendente para alguma gente que tem como profissão aldrabar informar os outros sobre os dados económicos): o número de empregados e o número de desempregados podem aumentar ao mesmo tempo.
Segunda conclusão (possivelmente surp...): o número de desempregados pode subir mas a taxa de desemprego descer.
A partir de um relatório do Eurostat onde não há uma única referência a desemprego, a Renascença consegue fazer a seguinte notícia: O número de pessoas desempregadas na Zona Euro aumentou 0,3%, no último trimestre de 2008. Ficaram sem trabalho mais 453 mil pessoas, no conjunto dos 15 países que partilham a moeda única. E a notícia continua sem um único número que exista realmente no relatório. Mas erros de raciocínio contrariando as duas conclusões acima, eses são vários.
Mas a ideia que fica é que os portugueses esperam o maior aumento do desemprego dos últimos 23 anos, e nada naquela questão permite concluí-lo.
Porque é que os jornais escrevem estas coisas, ultrapassa-me.
Desemprego dispara em Janeiro e atinge mais 70 mil pessoas insinua hoje em grande a capa do Público.
Da fonte da notícia, cujo próprio link está na página online do Público, lê-se:
O desemprego registado apresenta uma trajectória ascendente, apurando-se (...) relativamente ao mês anterior, o aumento foi de 7,7%, consequência de mais 31 961 desempregados inscritos.
Ou mais explícito ainda:
Desemprego registado
Dezembro 2008: 416 005
Janeiro 2009: 447 966
O Público não teve falta de pudor em brincar com as palavras. Os 70 mil do relatório são pessoas que se inscreveram como desempregadas, mas há apenas mais 32 mil pessoas no desemprego. Alguém interpretou o título do Público de modo correcto?
Na capa de hoje do DN, em grande destaque: "Banco de Portugal [BP] prevê 90 mil novos desempregados". No título da notícia: "Constâncio admite 90 mil novos desempregados em 2009". Embora o Rudolfo Rebêlo atribua este número ao BP, parece ter sido ele mesmo a calculá-lo. E fez o seguinte:
1. O BP aponta para um decréscimo no emprego de 1% em 2009. Como a população activa portuguesa é composta por cerca de 5 milhões de pessoas, isto dá um total de 50 mil novos desempregados.
2. O Rudolfo acrescenta que "a este número haverá que juntar mais 40 mil pessoas (jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho".
3. Ora, 50 mil mais 40 mil dá 90 mil. Aí está: 90 mil novos desempregados.
E eis que perguntamos todos: então e as pessoas que saem todos os anos do mercado de trabalho, não contam? É que o próprio BP fala em "estabilização da taxa de participação", pelo que se entram muitos, muitos (mas não necessariamente no mesmo número) têm de sair.
Sigo a sequência da minha incredulidade enquanto lia esta notícia de hoje no DN, para assinalar dois disparates incríveis:
1. Sugere-se, logo à abrir a notícia, e sem que eu veja como ser possível comprová-lo, que "a crise financeira e a forte travagem do crescimento económico estão já a sentir-se no mercado de trabalho."
O título da notícia era "Crise faz desemprego disparar 16% em Setembro".
Face à magnitude do número, um tipo questiona-se. E vai à procura de umas coisas pela net...
2. Aí está, Manuel Esteves comete o erro crasso de dizer que o desemprego aumentou 16% em Setembro, quando, segundo o relatório do próprio IEFP (aqui), o desemprego DESCEU 0,7% em termos homólogos (e subiu 1,36% em relação a Agosto, o equivalente a 5299 desempregados).
Ou seja, Manuel Esteves confunde o número de desempregados registados no fim do mês com o número de desempregados inscritos no IEFP ao longo do mês.
É preciso dizer mais alguma coisa?
Nota: desta vez, ao menos, tudo o que eram taxas, períodos homólogos, períodos anteriores, etc, estava correcto. Foi pena, confundir-se o mais importante: a parte substantiva.
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