Terça-feira, 8 de Janeiro de 2013

A carga fiscal portugesa é "bué da" grande

Era uma vez, dois alunos da preparatória chamados António Costa e Paula Cravina de Sousa que  falaram com um amigo, chamado KPMG, que deu uma olhada nos preços no supermercado. Viu a carne (bom, só o frango embalado e a carne picada) e os iogurtes (de sabor a banana, e também a morango), tanto no Pingo Doce como no Continente. O Continente tinha em geral os preços mais caros.

O António e a Paula escreveram então no pasquim da escola: "O Continente é o hipermercado mais caro de todos".

A stôra comentou então:

"Mas o vosso amigo só viu meia-dúzia de produtos, como sabem a média dos preços?"

Depois acrescentou:

"Ele só passou em duas lojas... e o Pingo Doce nem hipermercado é!"

 

Troque-se "caro" por "carga fiscal elevada", "hipermercados" por "países europeus",  e a carne e o iogurte por IRS e temos a notícia do dia saída no Diário Económico. Os jornalistas António Costa e a Paula Cravina de Sousa afirmam que "Portugal tem a carga truibutária mais elevada da Europa". Lá pelo meio ainda dizem que só se compara com os "cinco países mais ricos da Europa" (parece que a Espanha é um dos tais cinco, e nenhum dos escandinavos o é...), mas não há volta a dar ao sensacionalismo do título da notícia.

Para lá de chamar Europa a 5 países, compara-se apenas um imposto, o IRS. Parece que o IVAs, IRCs, ISPs e isso são trocos - e eu agradeceria que pagassem a minha parte. Comparam apenas meia dúzia de famílias-tipo, e não a média da população. Comparam ainda o incomparável, uma família com rendimentos de 50000 euros/ano é classe-média na Alemanha mas rica em Portugal , logo é lhe pedido uma contribuição maior.

Todos a imprensa copy-pastou feita carneirada, com a honrosa excepção do Público que foi capaz de escrever um título informativo e rigoroso: Impostos sobre rendimentos elevados em Portugal superam principais economias europeias.

 

E a Realidade? Por coincidência o Eurostat publica hoje um artigo sobre os últimos dados sobre cargas tributárias na Europa. A Dinamarca tem 48,6%, a média europeia é 40,8%, e nós temos 36,1%. Bolas.

 

 

Adenda: um leitor chamou a atenção para o facto de eu comparar números de 2011 com 2013 no último parágrafo. Estava bem claro no post, que eu falava de "últimos dados" e não de previsões. Mas olhemos para as previsões, da Comissão Europeia: Dinamarca 48,7%, média europeia 40,9%, Portugal 36,7%.

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publicado por Miguel Carvalho às 00:31
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Sexta-feira, 31 de Julho de 2009

P implica Q não é a mesma coisa que não-P implica não-Q

Duas mulheres tentaram casar-se e isto foi-lhes negado. Depois de vários processos em tribunal, foi pedido que o Tribunal Constitucional declarasse a inconstitucionalidade da definição de casamento no código civil (que exige sexos diferentes). Este pedido em concreto foi rejeitado. Por outras palavras o TC disse que a exclusividade heterossexual do casamento é constitucional.

Todos os Lisboetas são Portugueses, mas isso não implica que quem não seja Lisboeta não possa ser Português! Os Portuenses também o são. E os habitantes de Olivença? Não sabemos, porque ninguém perguntou isso ao TC.

Ou seja, o casamento homossexual também pode ser constitucional. Nunca foi isso que esteve em causa.

 

O CM diz TC chumba casamento gay, o Público diz Tribunal Constitucional diz não ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Diário Económico diz Tribunal Constitucional chumba casamento entre homossexuais, etc. Tudo disparates.

 

publicado por Miguel Carvalho às 15:16
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Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

Decrescer de 1 para 2, e de 2 para 3

(post que esteve pendente por problemas no blogs.sapo)

 

Já não há paciência para isto*. Quando as coisas crescem, mas o pessoal está com vontade de fazer o gostinho do sensacionalismo e catastrofismo ao dedo, até uma desaceleração (que acontece aproximadamente em metade das medições) serve para fazer títulos negros.

Traduzido por miúdos, temos jornalistas que quando vêem algo a crescer de 1 para 2,  e de 2 para 3, inventam aqui uma queda.

 

Nem a imprensa económica escapa. No Diário Económico de dia 20, temos num título "Itália** - Famílias com menos riqueza" (a aldrabice vem sempre no título). Mas no texto lê-se "a riqueza total dos agregados italianos cresceu 3,9% em 2007". Mais à frente ficamos a saber que a média do crescimento dos últimos anos foi de 6,2%, suponho que tenha sido a partir daqui que se inventou o decréscimo de riqueza do título.

 

* Este disparate é tão comum, que vou criar uma tag aqui para o blogue, vou chamar-lhe "123 é a subir"

** Felizmente para mim, a notícia não se refere a Portugal. Safo-me assim de reacções pavlovianas de quem, estando sedento de más notícias, confunde uma exigência de rigor com uma qualquer opinião política.

publicado por Miguel Carvalho às 19:47
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Sexta-feira, 17 de Outubro de 2008

Espinafres não querem crianças

Vem o título deste post a propósito da falácia da causalidade (com uma tentação sensacionalista) cometida (mais uma vez) na notícia "Empresas não querem licenciados", no Diário Económico de hoje.

 

Depois de ler a notícia, podem fazer-se 2 perguntas:

 

Será que os licenciados querem realizar as tarefas de um técnico com o 12º ano (e ser remunerados de acordo com elas)?

 

Não havia espaço para um título (positivo e inócuo) do género "Indústria necessita de técnicos"?

publicado por Carlos Lourenço às 18:06
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Domingo, 20 de Julho de 2008

Título negro, contrariado pelo texto

(Obrigado ao nosso leitor JF)

 

"(...) o consumo voltou a cair" diz Pedro Duarte no Diário Económico no subtítulo.

No texto lemos "Segundo os indicadores de conjuntura do Banco de Portugal relativos a Julho de 2008 hoje divulgados, em relação ao consumo privado, no trimestre terminado em Maio o índice de volume de negócios no comércio a retalho, divulgado pelo INE, aumentou em termos reais 0,4%, face ao período homólogo do ano passado.

 

E para abrilhantar a aldrabice, uma só até ficava mal, o Pedro lá acrescentou o habitual "voltou" no "voltou a cair".

 

publicado por Miguel Carvalho às 22:06
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Quinta-feira, 17 de Julho de 2008

A velha confusão de sempre II

Mais uma confusão entre o valor e a sua variação, agora vindo da imprensa dita económica.

"Os portugueses são dos que compram mais carros na Europa", diz a capa do Diário Económico. O título não é claro mas refere-se aos dados de compra de carros novos e não compra de carros em geral como dá a entender. E dentro dos carros novos o título é totalmente falso. Desde o início do ano compraram-se 10,4 por cada mil habitantes em Portugal, e 16,4 na União Europeia. E sim, 16,4 é bem mais que 10,4.  O que realmente aconteceu foi que a variação da venda de carros novos em Portugal foi das que teve um melhor desempenho.

Usando o exemplo do post de ontem, e para que o pessoal no Diário Económico perceba, o facto de eu estar a uma velocidade superior (variação) não implica que esteja mais longe (posição) do ponto de partida.

Mais um exemplo de ligeireza do nosso jornalismo.

publicado por Miguel Carvalho às 11:55
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Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2007

Jornalismo de merda

Desculpem, mas não aguentei o palavrão.
Quase todos os meios de comunicação repetiram a mentira que nem uns carneirinhos, sem se darem ao trabalho de verificar a informação. TVI, Correio da Manhã, SIC, Record e TSF, pelo que pude ver no Google News.
Mas o meu maior escárnio vai para a imprensa dita económica, que deveria saber o mínimo dos mínimos: Agência Financeira, Portugal Diário, Jornal de Negócios, Diário Económico. Todos repetem a mesma mentira.
Uma vergonha de jornalismo.

Os meus enormes parabéns à LUSA, ao DN e ao Público (versão papel) por terem escrito a verdade.

Adenda: Não só mentem em relação a estes dados, como muitos (como o CM) referem que o PIB per capita "voltou a descer". Outra mentira! De 2004 para 2005 também subiu.

Adenda: O prémio do meio de comunicação mais imaginativo vai para a Agência Financeira. Os números do relatório em causa são todos em percentagem da média da UE. Ou seja, toma-se o valor médio do PIB per capita em PPP naquele ano como o valor de referência 100, e os outros são dados em comparação com o 100. Portugal, por exemplo, tem 75. Apesar de os valores se referir a esse valor fixo 100, aparentemente a Agência Financeira ainda consegue inventar aí uma tendência (deve ser do 100 para o 100) e escreve no título "Poder de compra dos portugueses cai e contraria tendência europeia".
(Admito que se possam estar a referer a outra tendência, porque não são claros, e não explicitam essa afirmação no texto).
 
Adenda: acabei de rever a peça da RTP. Além de vários pequenos erros, parece confundir os valores da percentagem face à média europeia com a sua variação (refere alguns países que estão agora melhor, citando para tal de seguida os seus valores... mas os valores não indicam variação). E mais uma vez se comprova que os jornalistas se seguem uns aos outros que nem uns carneirinhos: a reportagem volta a referir (como o DD) que os cálculos "deixaram a inflação de fora". Como já escrevi, é o nível de preços que é contornado, e não a inflação. Além disso, por definição, os valores do PIB dados pelo Eurostat são dados em paridades de poder de compra, não é novidade nenhuma!


(Post com várias alterações)
publicado por Miguel Carvalho às 20:57
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Sexta-feira, 14 de Dezembro de 2007

Uma minoria...

Hoje no Diário Económico, Luís Rego escreve sobre o referendo irlandês de ratificação do Tratado de Lisboa. O título do texto é "Referendo na Irlanda ameaça Tratado de Lisboa".
Eh pá! Há aqui uma ameaça!
O subtítulo "Portugal corre o risco de ver toda a pompa e circunstância da cerimónia de hoje ir por água abaixo se o referendo na Irlanda chumbar o novo Tratado europeu."
Bolas! Corremos um risco!
Mais à frente no texto "Numa sondagem conduzida em Novembro, apenas um quarto dos irlandeses dizia sim ao novo Tratado".
Apenas um quarto?! Isto nunca vai ser aprovado!!
Lá para o fim do texto... "Por enquanto, ainda há 62% de indecisos". Será que o Luís se "esqueceu" de descontar os indecisos? Podemos saber aqui que é esse o caso, e que apenas 13% dos irlandeses se expressaram contra. Ou seja dos 38% com opinião, 66% são a favor do tratado! Uma maioria absolutíssima!
O único nome que isto tem é aldrabice. Em todas as sondagens são descontados os indecisos, ou equivalentemente os indecisos são distribuídos do mesmo modo que os decididos. Se não fizermos isto, teríamos o PS com uns 25% de intenções de voto. ("Uma gigantesca queda do PS", escreveria o Luís). O PSD com uns 18%. Uhm , isto parece estranho). O BE, o PCP e o PP com uns 4%... claramente alguma coisa estaria errada.

P.S. apesar de não saber muito de sondagens, julgo haver mais métodos para tratar dos indecisos. "Força-los" a indicar a sua inclinação seria um, outro seria estimar a distribuição dos indecisos na altura da votação com dados de eleições anteriores. Mas nada disto invalida a minha crítica
publicado por Miguel Carvalho às 10:30
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Terça-feira, 20 de Novembro de 2007

Ainda o emprego

A famosa notícia do Diário Económico, tem um subtítulo curioso: o desemprego continua a crescer entre os licenciados. É provavelmente desta frase que é retirada a notícia da SIC referida neste outro post.
Só que quem lê a notícia não encontra um único dado, nem fonte, nem sequer uma palavra que indique isto. O artigo trata apenas das estatísticas do emprego de "dirigentes e quadros superiores, profissionais intelectuais e científicos e técnicos de nível intermédio". Só se formos ingénuos é que confundimos estas classes profissionais com a classe dos licenciados. É muito provável haja alguma correlação positiva, mas haverá milhares de não-licenciados em quadros superiores, e milhares de licenciados em "vendedores" ou "pessoal administrativo".

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publicado por Miguel Carvalho às 18:29
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