"No terceiro trimestre tivémos [sic Público] um crescimento negativo. É possível que no quarto trimestre [Portugal] também tenha um crescimento negativo" disse ontem Vítor Constâncio. Ou seja, há a possibilidade de as coisas ficarem na mesma (ou piorarem) em termos de crescimento. É impressionante como os pasquins gratuitos foram capazes de deturpar esta frase.
Recessão bate à porta, diz o Global em grande na capa.
Recessão à vista para Portugal, "informa" o Metro.
Recessão vai chegar no fim do ano, diz o Destak também em grande.
O Metro, apesar de ter o título menos aldrabado, consegue compensar a coisa com um subtítulo vergonhosamente enganador: Os dados económicos divulgados pelo INE indicam que não iremos escapar à tendência global.
O Público também fabricou uma notícia à volta desta frase de Constâncio. Depois de uma primeira notícia, onde se dizia que Vitor Constâncio tinha sublinhado que não havia "recessão técnica" (o que é óbvio e indiscutível), quando apareceu aquela frase, tivemos o Público a afirmar Vítor Constâncio admite, afinal, recessão técnica no final deste mês, insinuando que havia um recuo ou contradição, quando na realidade estavam em causa apenas duas coisas perfeitamente simples e compatíveis. Primeiro, houve um trimestre de crescimento negativo, e segundo, pode vir aí outro.
Por último, o incansável Rudolfo Rebêlo escreve no DN que Portugal já vive em recessão técnica, após o INE divulgar a quebra da economia no terceiro trimestre. Para este ano, o Banco de Portugal prevê um crescimento de 0,5% da economia, o que implica para o quarto trimestre um recuo de 0,3% em relação aos meses de Julho a Setembro. Ou seja, mistura-se dados reais com previsões, mistura-se dados de fontes diferentes, pega-se num 0,5% e sabe-se lá mais o quê para chegar a 0,3%...
O jornal gratuito Global, aquele que admite que nem toda a informação gratuita vale a pena, tem hoje na capa o seguinte título: Avaliação dos professores só vai ter efeitos em 2013. Quando se lê com atenção percebe-se que o que está em causa é apenas a não-utilização dos resultados da avaliação no concurso de colocação de professores que vai agora arrancar. Como as colocações duram 4 anos, temos direito a uma bombástica suspensão até 2013.
O que o jornal esquece é que a avaliação não serve só para efeitos de colocações, mas também para as carreiras... o que até será mais importante para os professores dado o seu congelamento.
Uma deturpação clara da verdade, algo disparatado como dizer que o Tonel e o Derlei foram afastados do futebol até o próximo Setembro... apenas porque este ano já não há mais Taça para o Sporting.
Salários portugueses em queda desde 2000, é o principal título na capa do jornal gratuito Global (o tal que admite que "nem toda a informação gratuita vale a pena").
1.Quem desconfia sempre dos títulos e lê palavra-por-palavra o texto por baixo do título, talvez se aperceba que estamos perante mais uma aldrabice, uma das mais reles que por aí anda. O que está em causa é a descida dos salários em comparação com a média, e não em valor absoluto como o título nos quer fazer crer. Para perceber porque chamo reles a esta deturpação imagine-se este título "Todas as economias europeias em recessão desde 2000". Todos sabemos que é um absurdo, mas eu poderia explicar no meio do texto que me estava a referir em valores relativos à economia chinesa. Então de repente tudo já estaria certo e o título seria válido? Para que não haja dúvidas, de 2000 a 2005 o salário português segundo o relatório em causa subiu +0,4% ao ano. (Claro que é muito pouco, mas não é isso que está em causa).
Mas vale a pena ler a frase por baixo do título, ela própria cheia de exemplos da ligeireza com que se faz jornalismo. Os trabalhadores portuguesses [sic] têm vindo a perder poder de compra face ao [sic] 30 países da OCDE.
2. O título fala em salário (real) e o texto em poder de compra. Já aqui expliquei que não há uma relação directa (falta contabilizar subsídios, impostos, etc...), mas o Global usa as duas expressões como se do mesmo se tratasse.
3. "Face aos 30 países". É que a comparação nem está bem feita. Esta frase dá a entender que os outros 30 tiveram aumentos maiores (sendo por isso o português o mais baixo), mas não foi em comparação com os 30 países que o salário português desceu, foi apenas face à média. Para que não haja dúvidas, refira-se Espanha com -0,4%. E sim, -0,4% é menos do que +0,4%. Bastaria ter escrito "face à média", mas não o fizeram.
4. "Face aos 30 países"... bom não são 30. É que não há dados para todos.
5. O relatório apenas dá a média dos anos 2000-2005, e não dos anos separadamente. Não faz assim qualquer sentido dizer que desce desde 2000, porque até poderia ter acontecido uma subida em 2002, 2003, 2004 e 2005 face à média por países, e mesmo assim ter havido uma descida face à média do período em causa.
Com a breca, é erro a mais para duas frases apenas.
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