Sexta-feira, 13 de Março de 2009
Num dos links aqui para o blogue, encontrei esta pérola da LUSA:
Sobre os erros detectados nos programas associados ao Magalhães, António Correia descarta responsabilidades da JP Sá Couto já que a Caixa Mágica foi preparada pela Linux.
(Adenda: a minha explicação ficou difícil de seguir, por isso fica aqui um resumo. Esta frase é equivalente a um disparate como: Sobre os erros detectados no Firefox a correr no portátil X da Dell, fulano Y descarta responsabilidades da Dell já que a Microsoft foi preparada pelos sistemas operativos tipo IBM.)
Vários disparates numa frase só, que mostram que quem a escreveu não está minimamente dentro do mundo da informática. E isso não impediu a LUSA de lhe delegar esta tarefa.
Primeiro, pôr a hipótese de a JP Sá Couto (a empresa que faz a parte física, o hardware, a produção do computador) ter alguma coisa a ver com os erros (no software), é como pensar que os disparates nas notícias podem ser culpa das gráficas.
Depois, "a" Caixa Mágica no feminino é uma empresa, não tem "erros". "O" Caixa Mágica é o sistema operativo fornecido por essa empresa, mas os erros não estão no sistema operativo. Estão sim num programa que funciona no CM, tal como os disparates jornalísticos estão nas notícias e não no papel ou nas ondas hertzianas.
Assim "a" CM não foi preparada por ninguém. Quanto muito foi "o" CM que foi preparado pel'"A" CM.
"O Linux" é um sistema operativo, não prepara nada. Quanto muito o Linux poderia ser preparado pela CM.
Por último "o Linux" não existe como uma entidade precisa, tal como a língua portuguesa não está registada no cartório. O Linux é uma "família" de sistemas operativos, onde o CM está incluido, tal como as palavras que aqui uso pertencem à língua portuguesa. Por isso ninguém "prepara" o Linux.
Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2009
Eu acho muita piada aos representantes de determinados sectores económicos, que sustentam que o seu sector representa não-sei-quantos porcento do PIB português. Fico sempre com a ideia que se somarmos os sectores todos, descobrimos que o nosso PIB deve ser semelhante ao alemão.
O disparate de hoje nem vem de alguém do sector, mas de alguém que tem como profissão "informar-nos" (não vale rir), um anónimo jornalista da Lusa. Diz ele que a Qimonda, com os seus 2 mil trabalhadores, contribui para 5% do PIB. Ou seja cada superhomem/colaborador da Qimonda produz tanto como 140 ou 150 trabalhadores portugueses médios. Eu acho é que eles têm lá duendes escondidos.
Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2009
Notícia do Diário Digital:
Galiza e País Basco preparam eleições regionais a 1 de Março
(...)
No caso das Galiza, as atenções centram-se no Partido Popular (PP) e no líder, Mariano Rajoy, natural daquela região espanhola. O PP perdeu nas últimas eleições regionais a maioria absoluta, ainda que tenha continuado a governar.
É tão, tão, tão fácil verificar que o governo da Junta da Galiza é constituido pelo PSOE da Galiza, e pelo BNG desde 2005 que eu nem me vou dar ao trabalhar de pôr um link. É uma coisa tão simples, não tem contas, não tem conceitos jurídicos estranhos... onde é que vão inventar isto? É que não há a mínima preocupação com o que se escreve.
O disparate só pode ser da própria LUSA, porque aparece noutros jornais online.
Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2008
Numa
notícia do Diário Digital, que julgo vir da LUSA já que o disparate está espalhado por outros jornais online, lê-se no título e subtítulo:
Portugal com menor poder de compra entre países da Zona Euro
Portugal era, no ano passado, o país da Zona Euro com menor poder de compra, medido em PIB per capita expresso em Paridades de Poder de Compra (PPS), revelou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Aquele "medido" já dá logo um cheiro a esturro à coisa. Está ali implícito um "hoje vou chamar poder de compra a X, porque me apeteceu". Digo isto, porque já vimos chamar "poder de compra" a várias coisas totalmente diferentes. De resto, o que tenho a dizer sobre este disparate já escrevi neste post antigo.
Terça-feira, 21 de Outubro de 2008
Expresso, Público, Diário Digital (e certamente muitos outros que não verifiquei), todos transcrevem a notícia da Lusa a propósito do estudo da OCDE sobre desigualdade de repartição de rendimentos:
"Os autores do estudo colocam a Dinamarca e a Suécia à frente dos países mais justos, com um coeficiente de 0,32, e o México no topo da tabela dos mais injustos (0,47), seguido da Turquia (0,42) e de Portugal e dos Estados Unidos (ambos com 0,23)."
Não faço ideia onde foram buscar estes números, mas eu fui aos dados do relatório e verifiquei que a ordem de desigualdade (usando o índice de Gini) está, de facto, correcta, mas os números são (quase) todos diferentes: Dinamarca e Suécia (de facto, e como seria de esperar, no fim da tabela) têm 0.23 (e não 0.32), México (no topo) tem 0.47 (este está certo), Turquia tem 0.43 (e não 0.42), Portugal tem 0.39 (e não 0.23) e USA tem um pouco menos, 0.38 (e não 0.23).
Pequenos erros de transcrição são perfeitamente normais, não é isso que distingue o bom e o mau jornalismo, mas será que ninguém reparou que, com 0.23, Portugal e USA seriam mais "justos" do que Suécia e Dinamarca, se estes tivessem 0.32? Público, Expresso, Diário Digital e sei lá quem mais, todos transcreveram a notícia e ninguém reparou no óbvio? Ou nem sequer leram?
Terça-feira, 9 de Setembro de 2008
Sobre a notícia da Agência Lusa publicada hoje no Público com o título “Chumbos no básico e secundário atingiram este ano o valor mais baixo da última década”:
1. Tudo corria bem com a distinção entre taxas e pontos percentuais, até que lá apareceu a habitual confusão, ao referir-se que no 9º ano se registou a maior queda na taxa de chumbos -- uma queda de 7,5%. O que o(a) jornalista queria dizer era uma queda de 7,5 pontos percentuais.
2. A notícia não indica se os dados se referem apenas a Portugal continental ou se inclui as ilhas. Apenas após uma pesquisa pela informação disponível no website oficial do Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE) do Ministério da Educação se conclui que estes se referem, provavelmente, ao continente e ilhas. Isto porque, a referirem-se apenas ao continente, as variações, em pontos percentuais, descritas no texto estão todas erradas.
3. No texto, lê-se apenas sobre a taxa de chumbos. Ora, uma diminuição da taxa de chumbos de um ano para o outro não implica necessariamente uma diminuição do número de chumbos, mas apenas uma diminuição do número de chumbos em relação ao número de inscritos.
a. Se o número de chumbos se mantiver constante e o número de inscritos aumentar, a taxa de chumbos diminui. Mais, a taxa de chumbos pode até diminuir com o número de chumbos a aumentar, bastando que um aumento do número de inscritos seja superior a um aumento do número de chumbos.
b. De facto, extraindo informação do website do GEPE é possível verificar, por exemplo, que em Portugal (continente e ilhas) o número de inscritos no total do Secundário aumentou no ano lectivo 2006/07. Curiosamente, ainda não existe qualquer informação relativa ao número de inscritos no ano lectivo 2007/08, um ano após o início do mesmo.
c. No entanto, no Portal do Governo é possível encontrar uma nota do Ministério da Educação que refere que “neste ano lectivo [2007/08] estão matriculados no ensino secundário 282 188 jovens, mais dois por cento que no lectivo anterior [2006/07]”.
4. Mas então fica a questão: como se explica a discrepância dos valores, especialmente quando é possível calculá-los de diferentes formas? É que aquele número no Portal do Governo não bate certo, em diversos milhares, com nenhum dos números do relatório que é possível retirar do site do GEPE. Isto é importante porque tem efeitos no cálculo da taxa de chumbos (ou de qualquer outra taxa).
5. Relativamente à polémica sobre os exames do 9º ano deste ano e à referência, na notícia em causa, ao Ministério da Educação e à Ministra (“Em Março deste ano, o ME divulgou os números relativos ao ano lectivo anterior, que também já representavam uma evolução positiva. Na altura, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues considerou "notável" a diminuição deste indicador, atribuindo-a a medidas como o plano de acção para a Matemática e o Plano Nacional de Leitura”):
a. A classificação de um aluno no 9º ano é feita de 1 a 5, em que se arredonda qualquer classificação final para a unidade mais próxima. Os exames, esses, valem 30%. Ou seja, um aluno que tenha 3 no final do 3º período, só reprova se obtiver 1 como classificação no exame e um aluno com 2 no final do 3º período, transita se obtiver um 4 no exame.
b. Segundo noticiava o Público em Julho último, “a percentagem de notas de nível 5 (a mais alta) subiu de 1,4 por cento para 8,3 por cento. As classificações equivalentes a Bom (nível 4) dispararam de oito por cento para 21,4. (...) A classificação mais baixa de todas (nível 1), por exemplo, foi atribuída a apenas 3,3 por cento. Em 2007, foram 25 por cento a ter esta nota.”
c. Comparar taxas, sejam elas de reprovação ou de outra coisa qualquer, só faz sentido se for possível comparar níveis de dificuldade das provas. E a melhor forma de averiguar a dificuldade das provas é, provavelmente, perguntando aos alunos, ou pedindo-lhes que realizem uma prova de um ano anterior. Nem precisa de ser a todos, basta uma amostra representativa. A este respeito ver, por exemplo, este artigo no Daily News.
Terça-feira, 24 de Junho de 2008
O ministro da agricultura acusou as associações dos agricultores de terem dirigentes da extrema-esquerda e da "direita mais conservadora".
Vários órgãos de comunicação social, a começar pela LUSA, trocaram a expressão "direita mais conservadora" por "extrema-direita". Será que eles não sabem que as duas expressões têm significados e pesos muito diferentes? E será que é assim tão difícil fazer uma citação correctamente?
Terça-feira, 3 de Junho de 2008
Portugal arrisca-se seriamente a ser o país com a maior taxa de incidência de cancro da mama. Pelo menos é isso que a Lusa nos tenta levar a crer através desta notícia que o Público divulgou aqui e a Visão aqui.
Concordo que as mulheres devem estar atentas, mas, segundo esta notícia, as mulheres portuguesas devem ficar realmente preocupadas (muito mais do que no resto do mundo) pois "em Portugal, surgem anualmente 4500 novos casos de cancro da mama, ou seja, o carcinoma atinge nove em cada treze mulheres" (algo muito próximo de 70%).
Será que os jornalistas que transcreveram esta notícia não acharam estranho este número? Eu não acho estranho os 4500 novos casos por ano, mas 70% das mulheres virem a sofrer da doença? Ainda por cima não era muito difícil tentar confirmar. Segundo a Laço, afinal o número é 1 em cada 12. Para termos uma ideia do disparate, nos Estados Unidos, onde a taxa de incidência é das mais elevadas, o número é de 1 em cada 8.
Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2008
O Indicador mensal de expectativas sobre a evolução de curto prazo da economia portuguesa do ISEG - e aqui a palavra fundamental é
expectativas - registou uma descida este mês. Para a LUSA é totalmente indiferente que este índice seja de expectativas para o futuro e
não seja um registo do que realmente aconteceu, tal como é irrelevante se o seu valor é alto ou baixo, o que interessa é que desceu. (Quando as expectativas passam de estupendas para apenas excelentes há obviamente uma descida deste índice, mas não deixam de ser excelentes! Tal como subir de calamidade para desgraça é uma subida, mas...)
Na sua habitual ânsia de más notícias, a LUSA afirma então
Actividade económica deteriora-se em Janeiro.
Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2007
Desculpem, mas não aguentei o palavrão.
Quase todos os meios de comunicação repetiram a
mentira que nem uns carneirinhos, sem se darem ao trabalho de verificar a informação. TVI, Correio da Manhã, SIC, Record e TSF, pelo que pude ver no Google News.
Mas o meu maior escárnio vai para a imprensa dita económica, que deveria saber o mínimo dos mínimos: Agência Financeira, Portugal Diário, Jornal de Negócios, Diário Económico. Todos repetem a mesma mentira.
Uma vergonha de jornalismo.
Os meus enormes parabéns à
LUSA, ao DN e ao Público (versão papel) por terem escrito a verdade.
Adenda: Não só mentem em relação a estes dados, como muitos (como o CM) referem que o PIB per capita "
voltou a descer". Outra mentira! De 2004 para 2005 também subiu.
Adenda: O prémio do meio de comunicação mais imaginativo vai para a Agência Financeira. Os números do relatório em causa são todos em percentagem da média da UE. Ou seja, toma-se o valor médio do PIB per capita em PPP naquele ano como o valor de referência 100, e os outros são dados em comparação com o 100. Portugal, por exemplo, tem 75. Apesar de os valores se referir a esse valor
fixo 100, aparentemente a Agência Financeira ainda consegue inventar aí uma tendência (deve ser do 100 para o 100) e escreve no título "
Poder de compra dos portugueses cai e contraria tendência europeia".
(Admito que se possam estar a referer a outra tendência, porque não são claros, e não explicitam essa afirmação no texto).
Adenda: acabei de rever a peça da RTP. Além de vários pequenos erros, parece confundir os valores da percentagem face à média europeia com a sua variação (refere alguns países que estão agora melhor, citando para tal de seguida os seus valores... mas os valores não indicam variação). E mais uma vez se comprova que os jornalistas se seguem uns aos outros que nem uns carneirinhos: a reportagem volta a referir (como o DD) que os cálculos "deixaram a inflação de fora". Como já escrevi, é o nível de preços que é contornado, e não a inflação. Além disso,
por definição, os valores do PIB dados pelo Eurostat são dados em paridades de poder de compra, não é novidade nenhuma!
(Post com várias alterações)
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