Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009

99,9% dos portugeses acreditam que um dia vão morrer

 

O Público veste hoje a capa negra da desgraça, disfarça-se de ceifador envergando a gadanha, e faz-me vomitar.
 
Escreve na capa sobre (1) o “medo” dos portugueses em relação ao desemprego, no interior do jornal (2) que os portugueses estão “assustados”, e em letras garrafais também no interior do jornal, a colossal barbaridade: (3) “À espera da maior subida do desemprego dos últimos 23 anos”.
 
Ora, não só aquele título prova cabalmente que as outras duas expressões são indevidas e puro sensacionalismo jornalístico – entre estar “à espera” e ter “medo” ou estar “assustado” vai uma grande distância, e, estou em crer, não são expressões equivalentes –, como o próprio título revela uma de duas coisas: ou um abuso do sentido da evidência, e portanto uma manipulação grosseira dos leitores, ou um erro indesculpável.
 
Excluo a segundo hipótese, porque considero que um jornalista não erra assim.
 
Há portanto aqui manipulação e sensacionalismo desmedido. A única coisa de que o jornalista nos fala na notícia, é de uma questão que foi colocada aos portugueses (assim como aos restantes habitantes da União Europeia) sobre as suas expectativas em relação à evolução do desemprego:
 
“Como é que espera que o número de pessoas desempregadas varie durante os próximos doze meses?”
 
O resultado do indicador é dado pela “contabilização de respostas que vão de ‘subida aguda’ até ‘descida aguda’”, e, em Portugal, este “foi de 78 pontos, num máximo de 100 pontos”.
 
Será então o mesmo dizer “que as expectativas em relação à evolução do desemprego estão no mínimo dos últimos 23 anos” ou dizer que se está “à espera da maior subida do desemprego dos últimos 23 anos”?
 
Não, não é a mesma coisa, é totalmente diferente.
 

Mas a ideia que fica é que os portugueses esperam o maior aumento do desemprego dos últimos 23 anos, e nada naquela questão permite concluí-lo.

 

Porque é que os jornais escrevem estas coisas, ultrapassa-me.

 

 

publicado por Carlos Lourenço às 10:20
link | comentar | favorito
Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008

Guia secreto do Público: como aldrabar nos números e parecer que se é rigoroso

Se uma nova estatística indica um bom resultado:

1. Escrever o oposto no título, e a verdade no texto.
2. Se por alguma razão for impossível, procurar uma estatística passada (seja de que altura for) onde esse valor ainda era melhor.
3. Se não resultar, procurar uma estatística passada cuja variação (mesmo que momentânea e cheia de flutuações) seja melhor.
4. Caso não resulte, enviar o valor a 10 crianças da primária e 10 analfabetos e pedir-lhes para converterem aquilo numa percentagem. Pegar no pior resultado de todos.
5. Em caso de desespero, arranjar outra qualquer coisa qualquer cujo valor seja ainda melhor.

Neste blogue há exemplos de cada um dos casos acima, e hoje tenho mais um do 1 e do 5, nesta notícia de Vítor Costa.

Regularização voluntária de impostos diminuiu e contraria Teixeira dos Santos
(...)
o valor das regularizações voluntárias também aumentou - 28,8 por cento, para mais de mil milhões de euros. No entanto, o peso das regularizações voluntárias nas correcções efectuadas diminuiu para 22,7 por cento, depois de ter atingido 27,4 por cento em 2006, 25,9 em 2005 e 11,9 em 2004.

Um aumento de 28,8 transformado numa diminuição! Como é possível? O valor absoluto aumentou, ponto final. Pode ter havido outras componentes do pagamento de impostos com um crescimento superior, mas nada disso contraria a subida.
O argumento estapafúrdio, que o jornalista usa para justificar o título, é equivalente a afirmar que nos últimos dez anos o número de computadores diminui, apenas porque o número de telemóveis cresceu ainda mais.
E para que não fiquem dúvidas, aqui ficam as declarações do ministro que supostamente foram contrariadas: "Destaco o crescimento que sistematicamente tem vindo a ocorrer em matéria de regularizações voluntárias - quer de correcções à matéria colectável, quer de imposto em falta -, na sequência da intervenção da inspecção tributária e que, em 2007, foi superior a 28 por cento nestas duas vertentes. Trata-se de um bom indicador para aferir a eficiência da inspecção tributária, na medida em que traduz o reconhecimento por parte dos contribuintes da validade e justiça das correcções efectuadas".

Eu peço desculpa pelo sarcasmo, mas esta notícia é um dislate vergonhoso de todo o tamanho.
Principais Tags: ,
publicado por Miguel Carvalho às 13:34
link | comentar | ver comentários (1) | favorito

Autores

Pesquisa no blog

 

Janeiro 2017

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts Recentes

99,9% dos portugeses acre...

Guia secreto do Público: ...

Arquivo

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Março 2015

Fevereiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Principais Tags

correio da manhã(13)

desemprego(15)

diário digital(24)

diário económico(9)

dn(82)

economia(65)

estatísticas(22)

expresso(26)

inflação(13)

lusa(15)

matemática(12)

percentagens(26)

público(102)

publico(9)

rigor(9)

rtp(20)

rudolfo(16)

salários(10)

sensacionalismo(135)

sic(11)

todas as tags

Contacto do Blogue

apentefino@sapo.pt

Outros Blogs

subscrever feeds