Sexta-feira, 14 de Agosto de 2009

Mais explícito não poderia ser

O blogue está cheio da habitual confusão entre fluxo e stock, posição e velocidade, alteração e nível.

Quando o desemprego está alto, isso não implica que tenha havido uma grande subida. Pode passar de 10% para 10.1%. Subida mínima.

Quando há uma grande subida, não implica que o desemprego esteja alto. Pode subir de 2% para 4%, mas 4% ainda é baixo.

Parece claro não parece?

Não para o Diário Digital:

Desemprego: Aumento é o mais alto desde 25 de Abril - CGTP

A CGTP defendeu hoje que o aumento da taxa de desemprego no segundo trimestre levou o desemprego ao «o valor mais elevado registado desde o 25 de Abril» em Portugal.

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publicado por Miguel Carvalho às 14:35
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Sábado, 16 de Maio de 2009

Vamos abrandar abrandamente o abrandamento?

Em tempos havia uns livros de BD em que uns simpáticos estrumpfes trocavam metade das palavras que diziam, por palavras derivadas da palavra "estrumpfe".

Alguns jornalistas portugueses têm um problema semelhante com o "abrandar", tudo abranda. Alguns por distracção, outros por desconhecimentos básicos de português (eu já aqui pus a definição da palavra do dicionário), outros por desconhecimentos básicos de matemática, e ainda há aqueles que aproveitam o interpretação vaga da palavra a seu belo prazer.

Abrandar significa andar mais devagar, crescer mais lentamente, desacelerar, diminuir a velocidade. (Repito já agora, estatisticamente é de esperar que qualquer variável "abrande" à volta de metade das ocasiões). Mas o "abrandar" é por vezes usado para dar a entender que algo diminui quando isso não é verdade. Ou quando a aceleração diminui, o que também não é um abrandamento.

 

Hoje o Expresso ultrapassa todas as deturpações do "abrandar". Numa situação em que o PIB português recua, e recua mais depressa do que tinha recuado, a capa fala de um "abrandamento da economia". Um belo eufemismo.

 

Caro estrumpfes, tenho que ir estrumpfar o abrandamento.

 

 

publicado por Miguel Carvalho às 15:19
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Terça-feira, 10 de Março de 2009

Os espanhóis são uns loucos

Alerta do leitor HS

 

No Jornal de Negócios temos o seguinte texto de Paulo Moutinho.

Título:Mais de 70% das notas em circulação em Espanha são de €500

Uma pessoa até fica boquiaberta! Os espanhóis estão tão ricos que andam com notas roxas na carteira?! Será que percebemos mal? O Paulo insiste:

As notas de 500 euros abundam em Espanha.

Ena!

Representam mais de 70% do total de notas em circulação

São mesmo loucos!

A certa altura diz "De acordo com (...) "Cinco Dias". O que dirá o tal jornal? Bom, está em castelhano, mas acho que dá para entender: "De los 79.050 millones de euros en billetes que circulaban por España en enero, 55.584 -el 70%- correspondía a billetes de 500 euros". Aah! 70% do valor monetário está em notas de 500€! Se eu tiver 9 notas de 10€ e uma de 500€, um miúdo de dez anos dirá que 10% das notas são roxas. O Paulo Moutinho, não. Dirá que 85% são roxas.

 

O mais grave para mim não é o "erro matemático", ou a distracção, ou a transmissão de uma mentira aos leitores. O mais grave é um jornalista de um jornal económico viver tão abstraído da realidade, ao ponto de não se questionar se uma coisa destas seria possível.

publicado por Miguel Carvalho às 12:26
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Quarta-feira, 4 de Março de 2009

Quantos zeros tem um trilião?

Em Portugal---e na maioria dos países europeus---aplica-se a chamada "escala longa", em que um "bilião" é definido com um milhão de milhões, um "trilião" como um milhão de biliões, e por aí adiante. Um trilião tem portanto 18 zeros. É mesmo muita fruta. No entanto, a maioria dos países de língua oficial inglesa usa a "escala curta", em que um "billion" é um milhar de milhões, um "trillion" é um milhar de biliões, e por aí fora. Segundo esta escala, um trilião tem apenas 12 zeros.

 

O que aqui escrevi a propósito de biliões aplica-se ao Expresso deste Sábado a respeito de triliões. Diz o Expresso que o défice americano previsto para 2010 é de 1,75 triliões de dólares, com "trilião" (in)devidamente destacado. Nos EUA, é de facto um "trillion", mas a tradução para português não pode ser martelada daquela forma. Segundo a escala em vigor em Portugal, o défice americano previsto para 2010 é de 1,75 biliões de dólares (1,75 x 10¹²); 1.75 triliões é um milhão de vezes maior do que isto (1,75 x 10¹⁸). É muita fruta, mas não tanta como o Expresso nos querer vender...

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publicado por Pedro Bom às 23:47
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Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009

Uma vez TVI, sempre TVI

Eu muito raramente sigo a informação na TVI. Para lá das razões óbvias, há o problema do dia só ter 24 horas, o que não me dá tempo suficiente para escrever todos os posts que a TVI mereceria. Mas depois do entusiasmo de José Eduardo Moniz na entrevista ao Público de ontem sobre a recém-nascida TVI24, dei à TVI uma nova oportunidade.

Como não estou em casa, apenas vi a página online, onde a secção Economia tem como destaque:

 

Portugueses estão a trabalhar cada vez mais.

Produtividade cresceu 1,2% entre 2000 e 2006

 

Parece inacreditável, mas a TVI24 não percebe que uma coisa nada tem a ver com a outra.

 

Zé Eduardo amigo, aqui que ninguém nos ouve, eu explico:

O Afonso e o Bruno produzem trigo. O Afonso faz tudo à mão e o Bruno tem equipamento. O Afonso trabalha 10h em média, o Bruno apenas 6h. O Afonso produz 10 toneladas mas o Bruno com toda a mecanização produz 12. O Bruno tem uma produtividade maior (2 ton/h em vez de 1ton/h) mas quem é que trabalha mais?

(Resposta certa: o Afonso)

 

Por curiosidade, o relatório do INE informa que o total de horas trabalhadas no país têm vindo a diminuir constantemente desde 2002 (até 2006, o último ano em que há dados). Em termos individuais, a queda não é constante, mas há uma queda.

publicado por Miguel Carvalho às 16:22
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Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2009

Superhomens

Eu acho muita piada aos representantes de determinados sectores económicos, que sustentam que o seu sector representa não-sei-quantos porcento do PIB português. Fico sempre com a ideia que se somarmos os sectores todos, descobrimos que o nosso PIB deve ser semelhante ao alemão.

O disparate de hoje nem vem de alguém do sector, mas de alguém que tem como profissão "informar-nos" (não vale rir), um anónimo jornalista da Lusa. Diz ele que a Qimonda, com os seus 2 mil trabalhadores, contribui para 5% do PIB. Ou seja cada superhomem/colaborador da Qimonda produz tanto como 140 ou 150 trabalhadores portugueses médios. Eu acho é que eles têm lá duendes escondidos.

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publicado por Miguel Carvalho às 01:02
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Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009

O que sai também pode entrar

Quarenta milhões podem perder emprego este ano no mundo diz um título do Público. Mas o texto explica que No quadro mais grave, o número de desempregados subiria para 230 milhões, mais 40 milhões do que os 190 milhões das estimativas existentes para 2008.

Estamos perante o erro da moda, confundir entradas (ou saídas) com o saldo de entradas e saídas. A acreditar no texto (a experiência mostra que é normalmente no título que está o erro) o saldo entre as pessoas que entram e que saem do desemprego serão 40 milhões este ano. Como haverá certamente muitos milhões que arranjarão emprego este ano, conclui-se que o número de pessoas que vão perder o emprego será muito maior do que os 40 milhões que o título dá a entender.

 

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publicado por Miguel Carvalho às 15:52
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Quarta-feira, 10 de Setembro de 2008

Pensem uns segundinhos antes de escreverem, sff

Eleições EUA: portugueses preferem McCain, mas Europa é de Obama, diz o Público a propósito desta notícia da LUSA. Quando se lê o texto, percebe-se que Portugal é o país europeu (entre os analisados) onde McCain tem um apoio maior... mas isto não torna McCain no candidato favorito dos portugueses!

Dando uma olhada no relatório, concluímos que há 35% de Portugueses com opinião favorável sobre McCain e 75% sobre Obama... E corrijam-se estiver enganado, 75% é mais do que 35%.

O facto dos 35% ser o valor mais alto na Europa, não os torna maiores que os 75%... acho eu.

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publicado por Miguel Carvalho às 17:26
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Quarta-feira, 16 de Julho de 2008

Cinjam-se a citar os números oficiais, por favor

DN de hoje,

1. Título, "Menos 10% de mortes nas estradas que em 2007"

2. Subtítulo, "Nos primeiros meses deste ano morreram 375 pessoas, menos 27", ou seja menos 100*27/(375+27)=6,7%

3. Texto, "375 pessoas, menos (...) que em igual período do ano passado, quando se registaram 422 vítimas", ou seja 100*(422-375)/422=11,1%.

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publicado por Miguel Carvalho às 13:44
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Terça-feira, 17 de Junho de 2008

Por que não escrevem em português?

Índice de preços no produtor nos EUA acelera 1,4% em Maio, diz o Jornal de Negócios. Mas... o que é que isto quer dizer?!

 

a) A inflação acelerou 1,4%, ou seja o crescimento da inflação foi mais rápido 1,4%, passando de um crescimento de (por exemplo) 10% ao mês para 10,14%, tendo a inflação propriamente dita passado de 5% para 5,5% e depois para 6,06%?

b) A inflação acelerou 1,4 pontos percentuais, ou seja o crescimento da inflação foi mais rápido 1,4 pp, passando de um crescimento de 10% ao mês para 11,4%, tendo a inflação propriamente dita passado de 5% para 5,5% e depois para 6,13%

c) A inflação subiu 1,4%, ou seja passou de 5% para 5,7%?

d) A inflação subiu 1,4 pontos percentuais de 5% para 6,4%?

e) Os preços subiram 1,4%, ou seja a inflação foi de 1,4%?

 

Em termos de português (e de matemática) o título aponta para a hipótese a), já que acelerar significa um aumento no crescimento/velocidade. Mas o que será que a Ana Luísa Marques tinha na cabeça?

Solução: e)

 

 

P.S. Antes que seja mal interpretado, as minhas críticas aqui são duas.

1. Por que complicam coisas tão simples? Ao não terem uma linguagem terra-a-terra acabam por confundir muitos leitores.

2.  O erro que está naquele título, é para mim irrelevante, o que me assusta é a jornalista confundir aqueles termos. E é esta confusão que muitas vezes está por detrás de erros bem mais graves que diariamente aparecem na imprensa.

publicado por Miguel Carvalho às 15:21
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