Ao ouvir um familiar nestas festas a comentar à mesa que "disseram que o nosso poder de compra continua a descer" lembrei-me que faltava o meu comentário final ao que escrevi
aqui,
aqui e
aqui. O que mais me chocou não foi a mentira repetida em quase todos os media (que o nosso poder de compra desceu), nem a segunda mentira (que ele
voltou a descer), nem o erro técnico (confundir poder de compra com PIB per capita), nem uma palermice do jornalista (que ao não saber o que significa paridade do poder de compra fez um copy-paste vá lá saber-se de onde, e escreve que o estudo "excluía" a inflação), nem a segunda palermice de inventar um "tendência europeia" (quando os dados eram uniformizados, logo com a tendência excluída).
O que mais me chocou, e aqui só tenho que admitir a minha ingenuidade, foi perceber como é que as mentiras se espalham. O comunicado original da LUSA, apesar de um pouco sensacionalista, estava correctíssimo. A partir dele cada órgão de comunicação social (excepção para o DN e o Público) foi juntando mentiras e erros ou apenas copiando o que estava escrito, mas nenhum se deu ao trabalho de verificar a fonte (o que me demorou segundos a fazer). Isto ainda seria "compreensível" por uma questão de automatismos de copy-paste em redacções com poucos jornalistas e falta de tempo, mas
não foi isto que aconteceu.
Nenhum dos órgãos fez copy-paste da LUSA, deram-se sim ao trabalho de comparar as várias versões já publicadas, escolheram a mais sensacionalista que encontraram (só assim se explica o acumular dos mesmos erros) e alguns juntaram mais um erro, mas
nunca tiveram a mínima preocupação de verificar a sua autenticidade.