Lucro do BCP sobe 625% no primeiro trimestre repetia a TSF hoje à tarde. Acrescentado "e isto apesar da crise". A mensagem sensacionalista que queria passar é óbvia, agora se é verdadeira é que eu não faço a mínima ideia nem a TSF me ajuda a perceber.
1. O café do Zé passou de 100€ de lucros para 1000€. O banco XPTO aumenta de 10 milhões para 15 milhões. O Zé teve um aumento de 900%, e o banco apenas apenas de 50%. A percentagem pouco indica
2. O café do Zé ontem esteve vazio, receitas menos despesas nem passou dos 10€. Hoje já estava composto e deu 100€. Um aumento de 900%!! Mas o Zé não tem razões para estar contente.. Ontem foi mau e hoje foi bom, mas o que interessa é ao fim do mês. Comparar 3 meses do ano passado com 3 meses deste, pouco indica por ser ambos serem um período curto (um pequeno azar num e uma pequena sorte noutro, fazem explodir a percentagem).
Já sabemos (pelo próprio) que não é o caso de Rudolfo Rebêlo, mas a confusão continua a aparecer nos seus textos... No de hoje, por exemplo, temos esta passagem:
"Mas sabe-se que [os spreads praticados pela banca] variam entre os dois e os três pontos percentuais."
Ora, o spread de que fala está expresso em percentagem do montante de empréstimo. Portanto, o correcto seria dizer por cento em vez de "pontos percentuais".
No DN de ontem, Rudolfo Rebêlo assina mais um artigo merecedor de destaque nesta antologia do disparate jornalístico.
1. A habitual confusão entre stocks e fluxos: "Agora, com a crise, o desequilíbrio das contas passa para os 3,9% da riqueza." O que o Rudolfo queria dizer é que o défice orçamental passa para os 3.9% do PIB. PIB e riqueza não são a mesma coisa. O primeiro é um fluxo, o segundo é um stock.
2. A habitual confusão entre pontos percentuais e percentagens, ao estilo do que foi escrito aqui: "Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, afirma que as medidas anti-crise custam 0,8 pontos percentuais do PIB." Não, não custam. Custam sim 0,8 por cento do PIB. O Rudolfo, que se vangloriava de não entrar nestas confusões entre percentagens e pontos percentuais, fica especialmente mal nesta fotografia.
3. A birra do Rudolfo. Há duas semanas, dizia-nos que o número de novos desempregados (90 mil) seria igual à destruição de empregos (50 mil) mais o número de pessoas que entravam no mercado de trabalho (40 mil) (ver aqui). Perante o nosso protesto de que se tinha esquecido de subtrair quem saía do mercado de trabalho, o Rudolfo riposta em comentário irritado que os 40 mil se tratava de um "saldo" e que estava em "defeito (e muito)". O leitor comum interroga-se então: se os 40 mil são um saldo (entradas menos saídas), porque razão os definiu o Rudolfo como "(jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho"? Isto soa a entrada, não soa lá muito a saída. Se o Rudolfo sabe que isto é um saldo porque é que não o diz claramente, em vez de inventar esta história de jovens-não-sei-das-quantas? Será que não percebe que está a induzir as pessoas em erro? E, já agora, se está em "defeito (e muito)", porque é que não dá o número correcto, em vez de insinuar que está propositadamente a divulgar um número exageradamente baixo?
Mas o mais grave de tudo isto é que o Rudolfo, na edição de ontem, decide insistir: "Isto significa que pelo menos 36 mil pessoas saem do mercado de emprego. A estes "números" haverá que somar pelo menos 40 mil pessoas que todos os anos tentam entrar no mercado de trabalho". Desta vez, com o verbo "entrar" bem evidenciado! Será que entrar inclui sair? Ou os 40 mil afinal não são líquidos, como o Rudolfo tinha dito? Caro Rudolfo, convém que se decida.
4. Finalmente, um novo termo económico: "há 36 mil pessoas a sair do mercado de emprego" Mercado de emprego?! E o mercado de desemprego, também existe? Ou será que o Rudolfo queria dizer mercado de trabalho? Ah, mas isso não pode, porque parte das pessoas que perdem o emprego continuam no mercado de trabalho à procura de outro, como o Rudolfo certamente sabe. Desisto, não sei o que é...
Há que ser justo: a confusão entre percentagem e ponto percentual tem sido menos frequente nos últimos tempos. Era erro habitual ler "percentagem" quando o correcto seria "ponto percentual" (como nos fartámos de escrever aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Exemplo: a taxa de inflação subiu 2 por cento, de 1 para 3 por cento. A taxa de inflação é ela própria uma variável expressa em percentagem, pelo que uma variação absoluta tem de ser expressa em pontos percentuais. Doutra forma, estaríamos a falar de uma variação relativa (no exemplo acima, um crescimento de 2 por cento significaria uma subida de 1 por cento para apenas 1.02 por cento).
O Público comete hoje a proeza de, pela primeira vez desde que reparo nestas coisas, (ab)usar erradamente (d)o ponto percentual: "Os funcionários públicos poderão vir a beneficiar de um aumento real do poder de compra em 1,9 pontos percentuais". Era tão simples usar ali uma percentagem, porque foi a jornalista complicar?
Nem sei por onde pegar nesta notícia do Expresso (assinada pela Lusa). A informação é tão contraditória que se torna difícil escolher uma base de análise minimamente sólida. Vou, portanto, partir do princípio que esta passagem está correcta: "Os dados revelam que actualmente cerca de 11% dos médicos são fumadores, 40% abandonaram o hábito e quase 49% são não fumadores". A soma dá 100%, portanto ao menos isto deve estar certo...
Agora vejamos:
1. Título: "Larga maioria dos médicos portugueses deixou de fumar". Hã?! 40% é maioria? E ainda por cima larga? Ou queriam antes dizer que "a larga maioria dos médicos portugueses (89%) actualmente não fuma"?
2. Subtítulo: "O estudo (...) concluiu que cerca de 50% dos mil médicos questionados fumavam e destes mais de 40% abandonaram o hábito". Hã?! Dos 50% dos mil médicos que fumavam mais de 40% deixou de fumar? Então, mas 50% dos mil são 500 e 40% destes são 200. E 200 em mil dá 20%. Ainda estamos mais longe da maioria... Não seria antes "40% do total de mil médicos deixaram de fumar"? Ou, equivalentemente, "80% dos que fumavam deixaram de fumar"?
3. Texto: "A taxa de abandono do hábito de fumar é superior no caso dos homens, sendo que dos 40% (homens e mulheres) que deixaram de fumar, 24,46% são homens e 15,6% são mulheres. Ou seja, há mais fumadores masculinos do que femininos, mas, adquirido o hábito, as mulheres têm mais dificuldade em deixar de fumar".
3.1. Se 24.46% são homens e 15.6% são mulheres, o que são os restantes 60%? Não quereria este jornalista dizer: "24.46% do total de médicos são homens ex-fumadores e 15.6% do total de médicos são mulheres ex-fumadoras"? Ou então "dos 40% que deixaram de fumar 61% são homens e 39% são mulheres"?
3.2. Obviamente, a segunda frase não é um implicação da primeira, como o jornalista nos quer fazer crer. Se a amostra tiver 900 médicos (metade dos quais fumam ou já fumaram) e apenas 100 médicas (metade das quais fumam ou já fumaram), e com uma taxa de abandono igual entre eles (e igual a 80%), teríamos 360 médicos ex-fumadores (90%) e apenas 40 médicas ex-fumadoras (10%). Posso daqui concluir que a taxa de abandono é maior para os homens? Claro que não, eu assumi que era igual! (Nota: Não estou a contestar a conclusão do estudo de que a taxa de abandono é maior nos homens, só estou a querer dizer isso não é uma implicação dos dados que nos são fornecidos no texto.)
Na capa do Público lê-se em letras gordas "Violência contra mulheres desceu para um terço em doze anos". Repare-se, o título não diz "mulheres vítimas de violência desce para um terço", diz "violência desce para um terço". Ou seja por cada 100 mulheres que eram vítimas no passado, hoje haveria apenas 33 a ser vítimas, uma redução de 67%.
Lá dentro ficamos a saber que a violência afectava 48%, afectando agora apenas 38%. Uma diminuição de apenas 21%.
Bem sei que gostam de usar números nos títulos, mas por favor não confundam os leitores.
No Diário Digital:
A taxa de inflação homóloga na zona euro alcançou 3,7%, em Maio, mais quatro décimas face ao mês anterior, anunciou o Eurostat. Em Portugal, os preços subiram os mesmos 0,4% face a Abril.
O problema é que os 0,4% não são "os mesmos". No caso da Zona Euro a inflação mensal foi de 0,6%, tendo a inflação homóloga anual subido 0,4 pontos percentuais, de 3,3% para 3,7%. Em Portugal a inflação mensal foi de 0,4%, tendo a inflação homóloga subido 0,3 pontos percentuais de 2,5% para 2,8%.
A própria notícia sobre Portugal também se "engana":
Em Maio, a taxa de inflação homóloga, face a igual período do ano passado, aumentou 2,8 por cento, mais três décimas de ponto percentual que o registado em Abril.
A inflação subiu 12%, os preços é que subiram 2,8%.
Se numa coisa tão simples cometem tantos erros, imagine-se nas coisas mais importantes e complicadas.
O Editorial do Expresso do último Sábado consegue a proeza de conter em poucas linhas a maior parte dos disparates que têm sido ditos por aí desde que o Governo anunciou a descida do IVA para 20 por cento. Ora vejamos:
1. O erro habitual: "O anúncio da baixa do IVA em um por cento do IVA". Mais uma vez, confunde-se "por cento" com "ponto percentual". Já se tornou um hábito, ninguém liga. Em percentagem, o IVA descerá quase 5 por cento ((1/21)*100=4.76). O que é o mesmo que dizer que a taxa de IVA descerá 1 ponto percentual.
2. "Mas, no geral, a população reage com indiferença. Os bens essenciais, como o pão e o leite, sofreram aumentos de mais de 10% nos últimos meses. Os combustíveis é o que se sabe. Definitivamente, a baixa de 1% no IVA não se fará sentir no bolso dos consumidores". Deixem ver se percebi. Como há para aí produtos cujo preço sobe bastante, então um ponto percentual a menos de IVA não se nota nada. Ora, eu noto. Por um bem com preço-base de 100 euros, eu pagava 121 euros. Passarei a pagar 120 euros, pelo que poupo um euro. Se o preço deste bem se mantiver no próximo ano, eu continuarei a poupar esse euro em relação à situação presente de IVA a 21 por cento. Mas se o preço-base deste bem aumentar escandalosamente 10 por cento, para 110 euros, eu pagaria então 133.1 euros. Com o IVA a 20 por cento, pagarei apenas 132 euros, pelo que poupo ainda mais: 1.1 euros. Não se faz sentir no bolsos dos consumidores? No meu faz.
3. "Ninguém sentirá benefícios, salvo talvez algumas empresas". Outro disparate. Todo, mas mesmo todo, o dinheiro que o Estado deixará de receber devido à descida do IVA será um benefício dos privados. Num dos extremos (sectores pouco concorrenciais), o preço final dos produtos ficará inalterado e as empresas apropriar-se-ão do valor correspondente à descida do IVA. No outro extremo (sectores mais concorrenciais), o preço final descerá e o benefício irá integralmente para os consumidores. Mais para um lado ou mais para o outro, a realidade estará algures entre estes dois extremos. Mas, consumidores ou produtores, serão sempre os privados a beneficiar da totalidade dos efeitos desta descida. Resta saber
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