Quinta-feira, 18 de Setembro de 2008
A ideia não é nova. Políticos como Paulo Portas exploraram-na já até à exaustão. O João Silvestre dá-lhe expressão jornalística no Caderno de Economia do Expresso desta semana. Escreve no subtítulo que "Desde 2007, a subida do preço dos combustíveis rendeu aos cofres públicos quase €40 milhões em IVA", o que eu não duvido. E escreve também, logo no primeiro parágrafo do texto, que "o Estado português foi um dos beneficiados pela escalada no preço do petróleo (...)". Isto é que eu já duvido. E só deixo de duvidar quando o João Silvestre fizer as continhas todas até ao fim e me vier mostrar quanto é que o Estado deixou de receber de IVA por compras de outros bens e serviços que os portugueses deixaram de fazer por terem de canalizar mais dinheiro para a gasolina. Até lá, estas contas valem zero.
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2008
Tem circulado por aí uma explicação assaz disparatada para a quebra do preço do petróleo (em dólares) dos últimos dias. Vinha ontem na capa do Diário de Notícias (embora não tenha lido o interior), vinha hoje no Público, e aparece também no Diário Económico. E diz tão-só que a razão para a queda do preço do petróleo nos mercados internacionais tem estado no facto de o furacão Gustav estar a fazer menos mossa do que o esperado. Como se a fraqueza do furacão aumentasse as reservas de petróleo...
Imagino que o raciocínio seja do seguinte género: "se o furacão for forte, o petróleo fica mais caro; como o furacão é fraco, o petróleo fica mais barato". Claro que se o Gustav teve algum efeito, só pode ter sido no sentido da subida. É possível, e bastante provável, que o facto de a devastação ter sido abaixo do esperado tenha parcialmente atenuado uma também provável pressão ascendente no preço do petróleo. Agora, não me venham é dizer que está, só por si, a fazer o preço descer. Aliás, no limite, onde é que estaria o preço do barril se o furacão afinal não passasse de uma mentira? Nos 20 dólares? E, já agora, porque não fazer bluff em furacões (que esses então não estragam mesmo nada) só para ter gasolina mais barata?
Segunda-feira, 29 de Outubro de 2007
O caderno de economia do Expresso do passado Sábado também nos fala de petróleo. A página 2 fala-nos da alta do seu preço, da alta das expectativas sobre o seu preço, de "barreiras psicológicas" e de outras coisas más. Isto em dólares e do ponto de vista da economia americana. Nada a objectar. A página 3 fala-nos de formas de contornar a alta do preço do petróleo, de alternativas ao próprio petróleo e de outros truques úteis. Isto em euros e do ponto de vista do consumidor português. Nada a objectar. O que tenho a objectar é esta passagem da página 2 para a 3 assim, sem mais nem menos, com atropelos da taxa de câmbio pelo caminho, como já foi, aliás, comentado
aqui,
aqui e
aqui.
Euro e petróleo iniciam semana sobre máximos históricos diz o Diário Digital. O ouro e o cobre também sobem.Sendo que não há nenhuma razão forte para que o valor real do Euro, do petróleo, do ouro e do cobre estejam relacionados entre si, isto trata-se de uma enorme coincidência! Algo que acontece com 0,001% de probabilidade. Tratando-se da 20ª vez que se lê esta notícia nos últimos tempos, estamos a falar de uma coincidência ainda maior, algo com 0,0000000000000000000001% de probabilidade de acontecer.Ou será que é o dólar que está continuamente a ser desvalorizado, e os jornalistas não compreendem que o dólar não é uma moeda de referência absoluta (e cada vez o é menos)? Uhm... Isso parece-me altamente improvável.
Domingo, 30 de Setembro de 2007
Com esta escandaleira toda dos (falsos) recordes máximos do petróleo, dei-me ao trabalho de calcular o
preço EM EUROS. Segundo a Reuters, neste momento o preço do Brent está a 55,3€. Segundo o BCE custava 58,9€ em Julho de 2006.
Lá se foram os recordes...
Curiosamente a LUSA faz hoje indirectamente um mea culpa,
aqui publicado pelo DD. Obviamente que não é apresentado como correcção, apenas como informação. Informação esta que contradiz o que tem dito nos últimos tempos sem nunca referir as antigas notícias.
Quinta-feira, 20 de Setembro de 2007
A imprensa tem noticiado nos últimos dias, no seu tom sensacionalista de sempre, que o Euro nunca esteve tão caro (em dólares), que o petróleo nunca esteve tão caro (em dólares), que o ouro nunca esteve tão caro (em dólares), que as matérias primas nunca estiveram tão caras (em dólares). Há depois análises e discussões sobre as consequências destas incríveis subidas, fala-se de pressões inflacionistas, intervenções dos bancos centrais, etc...
Descontando algumas boas excepções, como é possível que ninguém repare que estas subidas não são uma coincidência, são pura e simplesmente uma descida do dólar? O facto de o dólar ser (ter sido) um valor de referência não implica que o seu valor (real) não possa variar.
Estas subidas acabam assim por ter impacto directo muito reduzido na economia portuguesa, porque os preços destes produtos estão relativamente constantes em euros.
Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007
No Jornal da Noite de ontem na SIC, dizia-se em tom sensacionalista que o preço (nominal) petróleo não para de subir desde a Segunda Guerra Mundial.
Pois.
É uma coisa chamada inflação.
Eu lanço desde já aqui um prémio de 200 mil reis a quem descobrir algum produto (descontando produtos tecnológicos, por razões óbvias) que não tenha subido de preço desde 1945.