Título de uma "notícia" do Diário Digital: OIT: Portugal é país [sic] que tem mais desigualdades salariais.
Subtítulo: Portugal foi o país desenvolvido onde, nos últimos 20 anos, mais cresceu o fosse entre os trabalhadores que ganham mais e os que ganham menos (...)
Caramba! Não só temos o azar de ter as maiores desigualdades, como tivemos o azar de ter sido o país onde eles mais cresceram! Ou será que o jornalista confundiu as duas coisas? Dando uma olhada rápida no relatório percebemos que é mesmo do jornalista. Coreia, EUA, etc. têm maiores desigualdades salarias que Portugal. O título é portanto um disparate.
Será que o subtítulo se safa? Bom, o corpo da notícias diz "Portugal faz parte do grupo de países que registou maiores aumentos entre os 10% de funcionários que ganham mais, face ao mesmo número que recebe menos". Ou seja, de campeão passamos para um dos "melhores" (os adeptos do Sporting e do Benfica podem festejar, segundo o Diário Digital, também eles foram campeões na época passada). Mais uma vez o relatório só diz isso, que Portugal é dos piores, em lado nenhum é dito que é o pior... mas é exactamente isto que o subtítulo nos quer fazer crer. Mais outro disparate.
A TSF tem outro disparate semelhante, quando diz "Fosso entre ricos e pobres cresceu em Portugal". Até pode ser verdade no período em causa, mas isto não decorre do estudo da Organização Internacional do Trabalho, que só estuda o comportamento dos salários. Ora a pobreza e a riqueza não dependem só do salário!
E assim se faz jornalismo de rigor, sem sensacionalismo, e com cautelosa* análise das fontes.
* uns 2 minutos no meu caso.
"Os portuenses estão cada vez mais pobres", diz a capa d'O Primeiro de Janeiro. O subtítulo repete "o Porto está mais pobre", o parágrafo em destaque insiste "a população é cada vez mais pobre", e o primeiro parágrafo teima "o Porto é uma cidade cada vez mais pobre". Com tanta repetição já era de desconfiar.
Lá para o meio do texto temos a curiosa frase "embora não tenha sido feita a análise da pobreza na cidade". A notícia fala em aumento de desemprego, de desigualdade, e de reformados mas em lado nenhum se explica de onde vem a afirmação de que os portuenses estão mais pobres. Curioso que o relatório em causa, no que toca às tendências de evolução do rendimento tem 4 pontos.. todos eles com "evolução favorável".
Quanto ao tema da moda, aqueles que trabalham mas são pobres, O Primeiro de Janeiro também inventa uma tendência. É a "franja crescente da população", "um fenómeno em ascensão" e ainda sobre os working poor diz que "já não são só os desempregados e os pensionistas que se encontram em situações de vulnerabilidade". Curioso que das três vezes que o relatório refere os working poor, apenas é dito que é uma realidade que deveria ser mais estudada, em lado nenhum é dito se é grande se pequena, se aumentou ou se diminui.
É uma chatice haver quem se dê ao trabalho de verificar as fontes...
1. Pobreza e desigualdades sociais estão a agravar-se em Portugal diz a capa do Público de hoje. Como este jornal de referência já nos tem habituado, não há um único resquício de verdade nos títulos principais. Repare-se no tempo verbal, o jornal não diz que há pobreza ou desigualdade, diz que elas estão a agravar-se.
Pobreza: nas páginas 2 e 3, onde este tema é tratado só há uma única referência à evolução da pobreza... e indica exactamente o contrário. Diz o autor do estudo em causa, que os índices melhoraram de 2004 para 2005. A subida é irrelevante por ser pequena e ser apenas de um ano, mas quem diz que a coisa está a piorar é o Público.
Desigualdade: o título interior apenas diz que Portugal "continua a ser" um país com desigualdades. Houve aqui sim um agravamento, mas de 2000 para 2004! Nós estamos em 2008, e o Público lá saberá porque usa o presente na capa. (Mais uma vez as medidas mais recentes até indicam uma diminuição numa outra medida de desigualdade - mas altamente correlacionada com o índice de Gini - o rácio dos rendimentos do 20º e do 80º percentil, mas a melhoria é insignificante e irrelevante... apenas questiono a atitude do Público).
2. A conclusão sensacionalista que os pasquins gostam de tirar daqui é que "os pobres estão cada vez mais pobres". Não há absolutamente nenhuma razão para que isto seja verdade, quando a desigualdade aumenta. É o que faz o Portugal Diário, que também lá saberá porque usa o presente quando fala de valores de 2004.
3. Correndo o risco de fugir um pouco ao âmbito deste blogue, questiono-me ainda o porquê de nenhum jornal ter notado que o relatório indicava que em 2005 Portugal estava a meio da tabela em termos de proporção da população que não tem capacidade para ter uma refeição razoável em dias consecutivos (estando em melhor situação que a Áustria, a Alemanha, a França e a Inglaterra)? Por que não nos informam que Portugal é o 6º com menos famílias com dívidas em atraso? Por que não notam que Portugal é o 2º país (apenas atrás da Suécia) onde há menos famílias sem capacidade para responder a despesas inesperadas? Sensacionalismo barato.
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