Sábado, 18 de Outubro de 2008

Disparates concentrados

Título de uma "notícia" do Diário Digital: OIT: Portugal é país [sic] que tem mais desigualdades salariais.

Subtítulo: Portugal foi o país desenvolvido onde, nos últimos 20 anos, mais cresceu o fosse entre os trabalhadores que ganham mais e os que ganham menos (...)

 

Caramba! Não só temos o azar de ter as maiores desigualdades, como tivemos o  azar de ter sido o país onde eles mais cresceram! Ou será que o jornalista confundiu as duas coisas?  Dando uma olhada rápida no relatório percebemos que é mesmo do jornalista. Coreia, EUA, etc. têm maiores desigualdades salarias que Portugal. O título é portanto um disparate.

Será que o subtítulo se safa? Bom, o corpo da notícias diz "Portugal faz parte do grupo de países que registou maiores aumentos entre os 10% de funcionários que ganham mais, face ao mesmo número que recebe menos". Ou seja,  de campeão passamos para um dos "melhores" (os adeptos do Sporting e do Benfica podem festejar, segundo o Diário Digital, também eles foram campeões na época passada). Mais uma vez o relatório só diz isso, que Portugal é dos piores, em lado nenhum é dito que é o pior... mas é exactamente isto que o subtítulo nos quer fazer crer. Mais outro disparate.

 

A TSF tem outro disparate semelhante, quando diz "Fosso entre ricos e pobres cresceu em Portugal". Até pode ser verdade no período em causa, mas isto não decorre do estudo da Organização Internacional do Trabalho, que só estuda o comportamento dos salários. Ora a pobreza e a riqueza não dependem só do salário!

 

E assim se faz jornalismo de rigor, sem sensacionalismo, e com cautelosa* análise das fontes.

 

* uns 2 minutos no meu caso.

publicado por Miguel Carvalho às 15:41
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Segunda-feira, 7 de Julho de 2008

Pobreza no Porto

"Os portuenses estão cada vez mais pobres", diz a capa d'O Primeiro de Janeiro. O subtítulo repete "o Porto está mais pobre", o parágrafo em destaque insiste "a população é cada vez mais pobre", e o primeiro parágrafo teima "o Porto é uma cidade cada vez mais pobre". Com tanta repetição já era de desconfiar.

Lá para o meio do texto temos a curiosa frase "embora não tenha sido feita a análise da pobreza na cidade". A notícia fala em aumento de desemprego, de desigualdade, e de reformados mas em lado nenhum se explica de onde vem a afirmação de que os portuenses estão mais pobres. Curioso que o relatório em causa, no que toca às tendências de evolução do rendimento tem 4 pontos.. todos eles com "evolução favorável".

 

Quanto ao tema da moda, aqueles que trabalham mas são pobres, O Primeiro de Janeiro também inventa uma tendência. É a "franja crescente da população", "um fenómeno em ascensão" e ainda sobre os working poor diz que "já não são só os desempregados e os pensionistas que se encontram em situações de vulnerabilidade". Curioso que das três vezes que o relatório refere os working poor, apenas é dito que é uma realidade que deveria ser mais estudada, em lado nenhum é dito se é grande se pequena, se aumentou ou se diminui.

 

É uma chatice haver quem se dê ao trabalho de verificar as fontes...

 

 

publicado por Miguel Carvalho às 11:50
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Sábado, 24 de Maio de 2008

Aldrabice e desonestidade estão a agravar-se no Público

1. Pobreza e desigualdades sociais estão a agravar-se em Portugal diz a capa do Público de hoje. Como este jornal de referência já nos tem habituado, não há um único resquício de verdade nos títulos principais. Repare-se no tempo verbal, o jornal não diz que há pobreza ou desigualdade, diz que elas estão a agravar-se.

Pobreza: nas páginas 2 e 3, onde este tema é tratado só há uma única referência à evolução da pobreza... e indica exactamente o contrário. Diz o autor do estudo em causa, que os índices melhoraram de 2004 para 2005. A subida é irrelevante por ser pequena e ser apenas de um ano, mas quem diz que a coisa está a piorar é o Público.

Desigualdade: o título interior apenas diz que Portugal "continua a ser" um país com desigualdades. Houve aqui sim um agravamento, mas de 2000 para 2004! Nós estamos em 2008, e o Público lá saberá porque usa o presente na capa. (Mais uma vez as medidas mais recentes até indicam uma diminuição numa outra medida de desigualdade - mas altamente correlacionada com o índice de Gini - o rácio dos rendimentos do 20º e do 80º percentil, mas a melhoria é insignificante e irrelevante... apenas questiono a atitude do Público).

 

2. A conclusão sensacionalista que os pasquins gostam de tirar daqui é que "os pobres estão cada vez mais pobres". Não há absolutamente nenhuma razão para que isto seja verdade, quando a desigualdade aumenta. É o que faz o Portugal Diário, que também lá saberá porque usa o presente quando fala de valores de 2004.

 

3. Correndo o risco de fugir um pouco ao âmbito deste blogue, questiono-me ainda o porquê de nenhum jornal ter notado que o relatório indicava que em 2005 Portugal estava a meio da tabela em termos de proporção da população que não tem capacidade para ter uma refeição razoável em dias consecutivos (estando em melhor situação que a Áustria, a Alemanha, a França e a Inglaterra)? Por que não nos informam que Portugal é o 6º com menos famílias com dívidas em atraso? Por que não notam que Portugal é o 2º país (apenas atrás da Suécia) onde há menos famílias sem capacidade para responder a despesas inesperadas? Sensacionalismo barato.

publicado por Miguel Carvalho às 11:54
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Segunda-feira, 26 de Novembro de 2007

Sempre a cortar

No Telejornal da RTP acabou de passar a tradicional peça das compras de Natal, em que se repete os mesmo lugares comuns de sempre. "Este ano tem que ser a cortar", "como o país está, tem que se gastar menos", "este ano vou gastar menos do que no passado", blá blá... A jornalista reforçava "cortar, cortar, cortar".
Não, não vou argumentar com estatísticas.
Basta lembrar que há décadas que todos os anos se ouve a mesma reportagem por esta altura, com os mesmos lamentos. Ou somos hoje mais pobre do que em 1900, ou isto é mais um caso de "bota-abaixismo" tão lusitano.
publicado por Miguel Carvalho às 20:15
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Quarta-feira, 24 de Outubro de 2007

“Pobres? Quem nós?”

Este é o título de um artigo de Joé Júdice no Jornal METRO.
Pegando no (já estafado) mote, da dívida do filho do Engº Jardim Gonçalves, ao BCP, o autor, faz o rol daquilo que cada português paga ao Estado. E afirma:
Cada português – incluindo os pobres - paga 70 euros por ano para manter a RTP, 14 euros para a derrapagem no custo das obras do Túnel o Rossio, 12 euros para os sobrecustos das obras do Metro no Terreiro o Paço, 10 euros para o Estádio do Braga, etc. etc...
Caro José Júdice: De certeza que sabe, que não é correcto fazer a divisão dos custos referidos pelo número total de portugueses, porque na realidade, eles não pagam todos o mesmo. Há mesmo alguns portugueses que recebem mais do Estado do que aquilo que pagam (E é justo que assim seja!). Portanto as afirmações que faz carecem de rigor.
Se estava apenas a querer fazer um efeito literário, uma ironia, um chiste, peço desculpa.  
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publicado por Oscar Carvalho às 10:20
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Terça-feira, 23 de Outubro de 2007

Assalariados pobres

A propósito das últimas estatísticas sobre a pobreza, tem-se dado a entender que os assalariados com salários mais baixos são cada vez mais pobres, como é feito aqui. Até se tem usado a expressão de "novos pobres", como se de uma nova classe social se tratasse.
É preciso dizer que a definição de pobreza não é um conceito estático. O limiar de pobreza está ligado à mediana da distribuição de rendimentos. Logo a mesma capacidade de compra (ou rendimento real) em 1997 poderia estar acima do limiar mas estar agora abaixo, porque o rendimento mediano (e o médio também) subiu nestes últimos 10 anos.
Só deste ponto de vista é que pode ser dito que há "novos pobres", ou seja em rendimento real relativo em relação ao resto da população, e não em termos de poder de compra.
Não há portanto aqui dados que indiquem que os assalariados tenham mais dificuldades hoje do que há uns anos. Por exemplo o salário mínimo nacional não tem perdido poder de compra.

(Mais uma vez sublinho, este não é um blogue de opinião, e eu não estou a defender que o cenário é cor-de-rosa nem a dizer que a situação é justa).
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publicado por Miguel Carvalho às 20:08
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