Famílias com desempregados vão ter redução de 50 por cento na prestação da casa dizem a RTP e o Público. Menos 50 por cento no empréstimo à habitação, anuncia Sócrates no debate quinzenal diz o Diário IOL.
Impressionante, que ajuda fantástica!
Mas nos textos aparece uma expressão curiosa: "moratória nas prestações de crédito à habitação". Segundo o dicionário, moratória é uma dilação de prazo para pagamento de uma dívida. Ou seja, hoje pago 50 em vez de 100, mas mais cedo ou mais tarde vou ter que pagar os 50 que faltam. E a isto chamam os jornais uma redução... Estou a imaginar o Pingo Doce a anunciar "Redução de 50% nas alcachofras em lata", mas na caixa dizem-nos "para a semana paga o resto, 'tá bem?"
Adenda: claro que no período em causa há uma redução, mas ela é temporária e não absoluta como os título dão a entender. Basta ler os comentários às notícias para perceber que foi assim que os leitores interpretaram.
No IOL Portugal Diário, além de se continuar a querer trazer a desgraça a todo o custo, o que é visível no título "Portugal com 5ª maior taxa de desemprego entre Zona Euro", cometem-se dois erros:
1. Na abertura da notícia escrevem que "Portugal tem a maior taxa de desemprego [7.8%] entre os países da Zona Euro ", para mais à frente declararem que, afinal, esta é a 5ª maior taxa (como está no título), e não a maior. Será que não se dão sequer ao trabalho de ler o que escrevem? Ou é conveniente errar logo no início da notícia?
2. Não só não é verdade que seja a maior taxa de desemprego, como não é verdade que esta tenha "aumentado face aos 7,3% no mês de Setembro". Segundo o Eurostat, a taxa de desemprego de 7.8% tem-se mantido desde há 5 meses!
Nota: ao menos, se calhar pelo que foi aqui dito, já não escrevem "com maior desemprego".
Crimes violentos estão a aumentar diz o Portugal Diário.
Quando se lê a notícia percebe-se que afinal há alguns tipos de crime violento que estão a aumentar, sendo o título portanto abusivo, enganador e sensacionalista. Se houver mais violações e menos homicídios será que podemos afirmar que os crimes violentos estão a aumentar.. ou a diminuir?
Se me apetecer olhar para o carjacking, tenho direito a um título sensacionalista. Se me apetecer olhar para os homicídios (um crime realmente mais violento a julgar pelas penas de prisão), então - como a própria notícia o diz - então tenho a criminalidade a descer!! Tanto uma como outra escolha não dão um retrato fiel da realidade... e é óbvio que em caso de dúvida os media optam pelo sensacionalismo, enganando os leitores. O próprio jornalista mostra bem o seu enviesamento, simplismo e falta de rigor quando escreve "quando [sic] ao número de homicídios, que poderíamos pensar estarem a subir (...) nos três primeiros meses de 2008 até se verificou um decréscimo".
Colocando as coisas de outro modo, por melhor que fosse a evolução da segurança num país (não estou a dizer que seja o caso), estatisticamente haverá sempre algum crime violento a subir, e ao escolhermos esse tipo de crime a dedo para uma notícia, poderíamos sempre afirmar "crimes violentos estão a aumentar".
Menos professores no segundo ciclo, diz o Portugal Diário. Quem lê ou retém apenas o título interpreta daqui que o número de professores a leccionar no segundo ciclo de escolaridade vai ser reduzido... Mas não há nada no texto que o indicie.
Está apenas em causa a redução do número de professores por turma. Vai haver uma redistribuição dos professores, de modo a que em média cada professor leccione mais cadeiras à mesma turma.
Marte poderá mesmo ter vida, diz o Portugal Diário. Quando se lê o texto, percebe-se que a novidade é a descoberta de alguns nutrientes que existem no solo terrestre, não há absolutamente nada sobre a existência de "vida". A própria fonte da notícia, a BBC, diz apenas Martian soil 'could support life'.
Mas não custa nada alterar umas palavrinhas e apimentar a história... ninguém liga.
1. Pobreza e desigualdades sociais estão a agravar-se em Portugal diz a capa do Público de hoje. Como este jornal de referência já nos tem habituado, não há um único resquício de verdade nos títulos principais. Repare-se no tempo verbal, o jornal não diz que há pobreza ou desigualdade, diz que elas estão a agravar-se.
Pobreza: nas páginas 2 e 3, onde este tema é tratado só há uma única referência à evolução da pobreza... e indica exactamente o contrário. Diz o autor do estudo em causa, que os índices melhoraram de 2004 para 2005. A subida é irrelevante por ser pequena e ser apenas de um ano, mas quem diz que a coisa está a piorar é o Público.
Desigualdade: o título interior apenas diz que Portugal "continua a ser" um país com desigualdades. Houve aqui sim um agravamento, mas de 2000 para 2004! Nós estamos em 2008, e o Público lá saberá porque usa o presente na capa. (Mais uma vez as medidas mais recentes até indicam uma diminuição numa outra medida de desigualdade - mas altamente correlacionada com o índice de Gini - o rácio dos rendimentos do 20º e do 80º percentil, mas a melhoria é insignificante e irrelevante... apenas questiono a atitude do Público).
2. A conclusão sensacionalista que os pasquins gostam de tirar daqui é que "os pobres estão cada vez mais pobres". Não há absolutamente nenhuma razão para que isto seja verdade, quando a desigualdade aumenta. É o que faz o Portugal Diário, que também lá saberá porque usa o presente quando fala de valores de 2004.
3. Correndo o risco de fugir um pouco ao âmbito deste blogue, questiono-me ainda o porquê de nenhum jornal ter notado que o relatório indicava que em 2005 Portugal estava a meio da tabela em termos de proporção da população que não tem capacidade para ter uma refeição razoável em dias consecutivos (estando em melhor situação que a Áustria, a Alemanha, a França e a Inglaterra)? Por que não nos informam que Portugal é o 6º com menos famílias com dívidas em atraso? Por que não notam que Portugal é o 2º país (apenas atrás da Suécia) onde há menos famílias sem capacidade para responder a despesas inesperadas? Sensacionalismo barato.
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