Eu muito raramente sigo a informação na TVI. Para lá das razões óbvias, há o problema do dia só ter 24 horas, o que não me dá tempo suficiente para escrever todos os posts que a TVI mereceria. Mas depois do entusiasmo de José Eduardo Moniz na entrevista ao Público de ontem sobre a recém-nascida TVI24, dei à TVI uma nova oportunidade.
Como não estou em casa, apenas vi a página online, onde a secção Economia tem como destaque:
Portugueses estão a trabalhar cada vez mais.
Produtividade cresceu 1,2% entre 2000 e 2006
Parece inacreditável, mas a TVI24 não percebe que uma coisa nada tem a ver com a outra.
Zé Eduardo amigo, aqui que ninguém nos ouve, eu explico:
O Afonso e o Bruno produzem trigo. O Afonso faz tudo à mão e o Bruno tem equipamento. O Afonso trabalha 10h em média, o Bruno apenas 6h. O Afonso produz 10 toneladas mas o Bruno com toda a mecanização produz 12. O Bruno tem uma produtividade maior (2 ton/h em vez de 1ton/h) mas quem é que trabalha mais?
(Resposta certa: o Afonso)
Por curiosidade, o relatório do INE informa que o total de horas trabalhadas no país têm vindo a diminuir constantemente desde 2002 (até 2006, o último ano em que há dados). Em termos individuais, a queda não é constante, mas há uma queda.
Na sua coluna "A força dos números", no caderno de economia do Expresso de hoje, Daniel Amaral tenta convencer-nos da impossibilidade económica de aumentos reais (isto é, superiores à inflação, prevista em 2,1% para 2008) nos salários da função pública. Lá desejável até seria, mas... lamento muito, não é possível.
Eis o argumento: aumentos dos salários reais da função pública levam a aumentos dos custos unitários de trabalho, que levam à perda de competitividade das nossas empresas, que levam à deterioração da balança comercial, que implica endividamento externo. Como o endividamento externo é um facto, os salários reais não podem aumentar.
Dois comentários:
1. Num exercício de ginástica notável, Daniel Amaral confunde salários da função pública com salários do sector privado, e termina a cadeia causal na balança de pagamentos. Medir a produtividade dos serviços não é fácil, e muito menos dos serviços produzidos pelo Estado. Daniel Amaral, como quem não quer a coisa, resolve o problema virando-se para o sector privado.
2. É possível aumentar os salários reais, sem aumento dos custos de trabalho unitários, desde que esses aumentos sejam inferiores ou iguais aos da produtividade. Daniel Amaral até parece perceber a ideia, quando diz que os "(...) acréscimos superiores à inflação mais a produtividade (3,4%) fariam subir os custos salariais unitários, o que seria péssimo". Mas depois conclui: "Moral da história: acréscimos salariais superiores à inflação podem ser socialmente justificáveis mas não são economicamente realistas". Então e a produtividade ? Pois, é que entre 2,1 e 3,4 ainda cabem muitos números. "Para cima de trinta e dois mil", dizia um antigo professor de estatística.
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